Jacaré Mãe dos Terremotos: Terremoto no Litoral de SP
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Eventos Estranhos
Ontem à noite tivemos uma forte tempestade aqui em Osasco, na parte da tarde. Depois do anoitecer, as coisas pareciam calmas. Estava assistindo ao episódio quatro de SPEC: Birth na Netflix, sobre uma mulher com poderes telecinéticos. A sinopse do episódio dizia o seguinte:
Quando uma mãe recebe um pedido de socorro, Toma e Sebumi são convocados para impedir um plano de assassinato e precisam se infiltrar em um grupo suicida.
Lá para o final do episódio, na cena em que a mulher começa a gritar , lançando uma onda de poder telecinético para cima dos protagonistas, algo estranho aconteceu em casa, no maior estilo Stranger Things: a energia elétrica caiu na exata cena em que lâmpadas e vidraças começaram a explodir no episódio. Juro, foi assim mesmo que a coisa aconteceu. A queda de energia foi breve e após um minuto, tudo já havia sido normalizado, mas acho que isso torna tudo ainda mais estranho. Talvez aquele fosse um prenúncio da madrugada estranha que me aguardava: uma noite de sonhos estranhos dos quais tenho pouco lembrança, excetuando por uma cena em que eu e minha família andávamos por um cenário pós apocalíptico, em uma grande avenida coberta de mato e com rachaduras profundas na terra. No horizonte víamos prédios semidestruídos e vegetação cobrindo tudo: um futuro ao mesmo tempo bucólico e ameaçador.
Ainda bem que era só um sonho. Levanto às 6:40 e quando chego na cozinha para tomar o café, observo melhor a tela do meu celular e olha que surpresa: uma alerta de terremoto ocorrido na região, um sismo ocorrido há 240 km de distância, no litoral de São Paulo.
Pensei comigo: a sexta-feira está começando de forma interessante, não é mesmo?
Não podia deixar a oportunidade passar e, diante disso, resolvi escrever um pouco sobre esse alerta de terremoto e ao mesmo tempo, sobre uma lenda dos mitos aborígines do Brasil (dos povos que já habitavam as terras que hoje chamamos de Brasil, se é que vocês me entendem) e que está relacionada com a ocorrência de terremotos.
Vamos começar então, com um resumo sobre o alerta de terremoto no litoral de São Paulo.
Alerta de Terremoto no Litoral de São Paulo
Eis que a tecnologia, essa entidade onisciente e por vezes inexplicável, resolveu pregar uma peça em nossos nervos já combalidos. Na calada da noite de 14 de fevereiro de 2025, enquanto a maioria dos paulistanos e cariocas sonhava com praias paradisíacas (ou boletos a vencer, vai saber), um coro digital ecoou nos celulares Android mundo afora. Um alerta. Não era spam de telemarketing, nem corrente de WhatsApp da família. Era um aviso fantasmagórico, com a chancela do Google: terremoto iminente.
Sim, amigos, terremoto. No nosso litoral. A meros 55 quilômetros de Ubatuba, para ser preciso. O Google, em sua infinita (e às vezes irritante) sabedoria algorítmica, cravou as magnitudes: 4,4 e 5,5 na escala Richter. Números que não derrubariam arranha-céus, mas suficientes para fazer o paulistano menos cético pensar em rever seus votos para o próximo pleito municipal.
Minha sobrinha Michelly, antes mesmo do alerta digital se manifestar, já dava sinais de que algo estranho pairava no ar. "Tio, perdi o sono! Acordei quatro da matina achando que já tava atrasada pra escola!". Dei minha risada matinal, aquela mistura de sarcasmo e cafeína: "Relaxa, Michelly. Devia serem as ondas sísmicas do terremoto no litoral de São Paulo te perturbando. Coisas de fim de mundo em fevereiro". Expliquei do alerta no celular. Ela, com a sagacidade infantil de sempre, achou que devia ser isso mesmo. "É que eu escutei um barulhão, tio!". Barulho de terremoto a 240 km de Osasco? Hum... Deixei a imaginação fértil da criança voar. Quem sabe ela não tem mais conexão com as forças telúricas do que este velho escritor cético.
Enquanto isso, na Matrix das redes sociais, o pânico e o deboche já duelavam pela atenção dos internautas. Almas perturbadas digitavam em caps lock que "sentiram tudo tremer!!!". Céticos profissionais criavam memes com jacarés gigantes e prédios de Lego desabando. E a Defesa Civil do Estado de São Paulo, sem perder a pose burocrática, tratou de jogar um balde de água fria na histeria coletiva. "Alerta que é bom, nós num emitimos nenhum. E o Centro de Sismologia da USP garante: siga o baile, tá tudo em paz". Versão oficial quase tão apavorante quanto o próprio terremoto. Afinal, quem precisa de abalos sísmicos quando se tem a burocracia para nos fazer perder o chão?
E no meio desse circo digital-sísmico, uma pulga algorítmica nos bastidores: de onde diabos o Google tirou essa história? O Metrópoles foi lá, bater na porta da gigante da tecnologia. Resposta? O silêncio digital mais ensurdecedor que já se viu. A CNN Brasil tentou o mesmo, Defesa Civil do Rio também entrou na dança. Nada. O Google, mudo como uma esfinge de silício.
Lá em São Vicente, a beira-mar, um anônimo confessava insônia e aflição. Outro, em crise de ansiedade existencial, aguardava o tremor que talvez nunca chegasse. E nós, meros mortais conectados, restava apenas uma coisa: esperar o amanhecer. E torcer para que o apocalipse de baixo custo desse fevereiro não passasse de uma pane tecnológica mais bizarra que o bug do milênio.
Mas, como bom brasileiro já sabe, até o fim do mundo por estas bandas tropicais pede uma boa dose de ceticismo e um sarcasmo bem temperado. Já nos avisava o mestre Ventura: "o Brasil não é para principiantes". E talvez, nessa pantomima sísmica made in Google, a gente aprenda uma lição valiosa. Que o maior terremoto, no fim das contas, é o que sacode a gente por dentro. Alimentado pelo medo, pela incerteza, pela praga do cotidiano. E contra esse, meus caros, só mesmo uma ironia afiada e um café preto e amargo pra nos manter de pé.
E já que o assunto é terra tremendo, tecnoapocalipse e outras bizarrarias cósmicas, que tal desenterrarmos uma lenda das boas? Uma pérola direto do baú do nosso folclore ancestral, que explica esses "treme-treme" de um jeito bem mais interessante que qualquer aplicativo de alerta de terremoto. Com vocês, diretamente das profundezas da Amazônia mítica, a majestosa, a terrível, a Lenda do Jacaré Mãe dos Terremotos! Ou, para os íntimos, Tiritiri-manha. Preparem os ouvidos (e os nervos), que a história é boa. E sombria, como a gente gosta por aqui.
Tiritiri-manha: O Jacaré Cósmico e os Abalos da Terra
Esqueçam o Google, esqueçam a escala Richter, esqueçam a Defesa Civil. Para entender de verdade o que rola quando a terra resolve dançar o treme-treme, a gente precisa mergulhar de cabeça no imaginário ancestral dos povos indígenas da Amazônia. Lá onde a floresta é mais densa que nossa ignorância tecnológica, e os mitos são mais reais que qualquer alerta de celular.
E nessa Amazônia mítica, amigos, o protagonista dos terremotos é um bicho que a gente conhece bem dos nossos rios barrentos: o jacaré. Mas não se engane, não é qualquer jacaré de rio de várzea. É um jacaré gigante, colossal, primordial. Um ser que existe desde o princípio dos tempos, e que carrega nas costas uma tarefa das mais hercúleas: sustentar o mundo (quem precisa de um Atlas quando temos um réptil escamoso cósmico muito mais respeitável e amedrontador).
Sim, vocês não estão lendo um conto de fantasia barata (bem, talvez um pouco). Na cosmovisão desses povos, o mundo não é essa esfera flutuante e sem graça que nos ensinaram nos livros de ciências. O mundo é um fardo pesado, uma carga cósmica de proporções inimagináveis. E quem aguenta com esse peso todo, dia após dia, noite após noite, é ele: o Jacaré Mãe dos Terremotos, o ancestral Tiritiri-manha. Pensem na lombalgia cósmica do bicho!
E aí, meus caros, a coisa começa a fazer sentido. Porque até jacaré cósmico se cansa, né? Séculos, milênios, eons sustentando o universo nas costas... Uma hora a coluna cede. E quando o Tiritiri-manha se farta da mesmice, do peso, da rotina cósmica, ele se move. Dá uma espreguiçada ancestral, muda de posição para aliviar as juntas, coisa assim. E é nessa guinada do jacaré cósmico que a Terra treme. Estremece com força, avisam os mais antigos. Causa esses terremotos que de vez em quando nos lembram que o chão que pisamos é mais instável que nossa sanidade mental.
E essa lenda, prestem atenção, não é achismo de blogueiro obscuro. A coisa é raiz do folclore brasileiro; raiz mesmo. O explorador e folclorista Ermanno Stradelli, um italiano perdido na Amazônia do século XIX, já registrava essa história em seus estudos sobre o Nheengatu, a língua franca da Amazônia colonial. E o nosso mestre Luís da Câmara Cascudo, o papa do folclore nacional, em sua bíblia "Geografia dos Mitos Brasileiros", também consagra o jacaré como o eterno causador dos tremores de terra. Palavra de Cascudo é quase lei neste estranho mundo da mitologia brasileira.
Cascudo, sempre ele, ainda notou uma parada curiosa. O jacaré, esse monstro jurássico que espreita em nossos rios, não tem tanta moral assim no imaginário indígena. Quer dizer, o bicho é real, tangível, vive ali do lado, mas não ganhou tanto destaque nas lendas. Talvez porque, na vida real mesmo, a relação do índio brasileiro com o jacaré não é das mais amistosas. O bicho, convenhamos, é um inimigo de respeito. Mal encarado, sorriso de crocodilo, e uma mania irritante de almoçar uns animais domésticos e, vez ou outra, um humano desprevenido. Melhor manter distância e um certo temor reverencial. Vai que o bicho resolve se esticar de novo e causar outro terremoto no litoral de São Paulo... Ou em Osasco, vai saber.
E para dar um toque final de nonsense ecológico à nossa história, eis que surge uma variação modernosa da lenda. Dizem as más línguas (ou as boas, depende do ponto de vista) que em algumas tribos conta-se que uma mulher foi transformada em jacaré para virar guardiã dos rios, protegendo-os da poluição voraz do homem branco. E enquanto nossos rios agonizarem em meio ao esgoto e ao lixo urbano, a mulher-jacaré fica por aí, penando em forma de réptil gigante, sem poder reencontrar seu amado ou sua irmã. Quase um eco verde e sombrio em pleno seio da mitologia ancestral. Vai ver se o Tiritiri-manha não tá se remexendo de novo, indignado com a poluição dos nossos rios... Fica a pulga atrás da orelha para esta manhã de (quase) terremoto e apocalipse adiado no litoral de São Paulo.
E vocês, caros leitores do "Estranho Mundo de Éder", o que acharam dessa história? Sentiram o mundo tremer por aí? Ou foi só mais uma presepada do Google e seus algoritmos endiabrados? Contem tudo nos comentários! E se por acaso cruzarem com algum jacaré de porte respeitável por aí, melhor tratar com deferência. Vai que é o Tiritiri-manha em pessoa, dando um giro cósmico e preparando o próximo terremoto. Nunca se sabe quando a terra vai resolver dançar de novo. E melhor estarmos preparados para o baile sombrio do Jacaré Mãe dos Terremotos.
Artigos recomendados
Para quem quiser mais informações sobre a lenda do Tiritiri-manha, indico os artigos que encontrei na internet enquanto estava pesquisando para escrever essa pequena crônica descompromissada sobre os abalos sísmicos que moviementaram a madrugada (ou não).
As fontes que mencionam a lenda do jacaré Mãe dos Terremotos são:
- "A LENDA DO JACARÉ: MÃE-DO-TERREMOTO" da Revista Xapuri, datada de 19/01/2025. Link para o artigo na revista Xapuri.
- "Portal dos Mitos: Tiritiri-manha, o "Jacaré Mãe dos Terremotos", datado de 6 de junho de 2018. Link para o Portal dos Mitos.
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