O Paradoxo da Robotização: Tecnologia, Mercado e o Futuro da Humanidade
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Nenhum mecanismo, de carne ou de outro tipo, pode evitar os perigos do excesso de trabalho. ~Hoffman (Pluto por Naoki Urasawa)
Turbulências e o Desafio da IA
Dias de turbulência no meu navio tem me afastado da minha rota para o OnePiece ou para o AllBlue ou para AllScript. Enfim, não tenho conseguido muito tempo para trabalhar em "O Segredo do Jardim Secreto" e as coisas têm avançado muito lentamente nessa direção.
Infelizmente, ao contrário do que eu gostaria, nem sempre é possível trabalhar com a escrita. Mesmo as minhas horas vagas têm sido invadidas pela minha profissão tecnológica nas últimas semanas.
Além disso, tenho me dedicado a outro projeto paralelo que há algum tempo vem tomando forma em minha cabeça, mas vou deixar para falar sobre esse outro projeto em breve, quando ele estiver mais consolidado.
O "Advento da IA" e o Medo da Substituição Humana
Mas, voltando para os meus afazeres profissionais, o caso é que o pessoal lá de onde eu trabalho lançou um desafio: usar Inteligência Artificial para resolver um problema do dia a dia em nosso trabalho como um modo de incentivar e engajar as pessoas no uso dessa tecnologia. Eu quase posso ouvir uma frase parecida com a que ouvíamos na década de 90: o advento da internet. Agora estamos diante do “advento da ia”. Ninguém ousou falar “advento” para se referir à I.A. na empresa ou mesmo na TV, mas creio que eles apenas querem evitar tornar-se meme por conta da frase batida.
Bem, devo dizer que tem sido divertido me dedicar a isso, afinal, eu sempre tive um deslumbramento enorme por inteligência artificial e robôs (desde muito novo eu sonhava em trabalhar como cientista para criar meus próprios robôs). Eu não podia imaginar que chegaria bem perto disso; ao menos tenho a oportunidade de criar meus próprios agentes de software (quem sabe no futuro ainda não consigo um robô de verdade para chamar de meu: de preferência um que tenha a capacidade de realizar todas as tarefas de casa, afinal, a minha esposa ia adorar isso).
Apesar de tudo, volto sempre para o primeiro episódio de Pluto quando o assunto IA surge lá na empresa, afinal, muitas pessoas pensam que a IA e os robôs querem roubar seu trabalho (elas têm motivos justificáveis para pensar assim, embora estejam erradas ao dizer que esta é a intenção dos robôs). E agora, com o recente "poder" demonstrado pela IA generativa, até artistas têm se preocupado com isso e bem, eles; os artistas, sempre pensaram que os robôs nunca conseguiriam substituí-los ou então isso demoraria séculos para acontecer.
IA como Apoio, Empoderamento e Liberdade Criativa
Eu já comentei sobre esse assunto aqui antes, quando também comentei o anime Pluto e citei um de seus episódios como um exemplo do uso saudável de robôs avançados por humanos. Bem, deixe-me reforçar essa minha visão: a IA e os robôs devem servir de apoio às pessoas e não substituí-las, não importa se essas pessoas exercem atividades artísticas ou de outra natureza. Sobre os artistas, ainda acrescento que enquanto houver montanhas por aí, os alpinistas vão escalá-las com as próprias mãos.
Como escritor, eu não penso nem por um minuto em pedir para uma máquina escrever as histórias por mim, afinal, eu não sentiria nenhum prazer nisso. Claro, a preocupação dos artistas não é bem essa, mas sim que seus empregadores sintam mais prazer em contratar robôs ao invés de contratá-los: as editoras não vão precisar mais fechar contratos com escritores, vão poder usar robôs para escrever os próximos best-sellers e os estúdios de cinema e televisão não precisarão de roteiristas: robôs irão escrever infinitos roteiros para as telinhas e telonas.
Verdade que essas são coisas possíveis, porém, convenhamos: escritores já não precisam tanto assim das editoras e, nesse sentido, eles podem também usar os robôs para venderem seus livros. Os roteiristas e desenhistas humanos podem começar a pensar em usar os robôs para darem vida aos seus roteiros e desenhos ao invés de ficar dependendo da contratação de um estúdio de tv ou animação. Bom, o que eu quero dizer é que esse avanço tecnológico é uma via de mão dupla, uma lâmina que corta para os dois lados e por aí vai. Os artistas também precisam se empoderar ao aprender a usar a tecnologia em proveito próprio e, neste caso, não é para fazer arte por eles, mas para ajudá-los a viver de sua arte (eu não quis dizer monetizar a arte, mas francamente, é sobre isso que estamos falando, afinal, é em torno disso que reside o medo e temos que admitir, o medo é válido por tudo o que eu mencionei acima).
O Vilão Não é a IA, Mas o Capitalismo?
O problema não está na IA ou nos robôs (sejam esses corpóreos ou agentes de software), está nas...
Pois é. Onde está o problema então?
Bom, como mencionei acima, as pessoas possuem motivos justificáveis para temer as novas tecnologias, afinal, quem comanda o mercado capitalista não está interessado em usar a IA e os robôs para servir de apoio às pessoas e sim para reduzir a folha de pagamento (o maior custo em qualquer empresa) e é neste pensamento mercadológico que reside o problema. Um “problema” complicado de se definir. Afinal, uma coisa é falar de grandes empresas e corporações multimilionárias ou bilionárias, etc. Outra coisa é falar do pequeno canal do Youtube que faz entretenimento, concorrendo com milhares de outros canais, com a TV, com o cinema, com o vídeo game. E o dono da padaria? O dono da farmácia? Uma pequena consultoria de tecnologia com cinco funcionários? Se essa galera resolver usar a Inteligência Artificial para reduzir a folha de pagamento, eles são vilões?
Claro que eles não são vilões. O vilão (e eu acredito em vilões) está no mercado e em quem manda no mercado, em quem tem algum poder real de mudar o jogo. O resto da humanidade precisa jogar o jogo ou então se revoltar para quebrar o sistema. Mas, existem mais de uma forma de quebrar o sistema. Muitas dessas formas sequer exigem uma “revolta”. O processo de automatização radical é uma delas; uma forma bastante sutil e lenta, mas que está fadada ao colapso do mercado. Na verdade, acho que o mercado em si está fadado ao colapso desde sempre. O capitalismo é um sistema insustentável ou talvez, não. Mas para que o capitalismo se torne perene, ele precisará passar às mãos das máquinas e as pessoas vão se tornar meras baterias para o seu sustento em um futuro distópico (olá, Neo?).
O Paradoxo da Automação: Rumo ao Colapso do Mercado?
Mas, por outro lado, vejo uma luz no fim do túnel: luzes de tempestade e caos... Não obstante, porém, contudo, entretanto, depois da tempestade...
Acontece que essa tendência de empresas e fábricas sem pessoas (100% autônomas), possui um efeito colateral interessante. Imagine que todas as grandes empresas do mercado não precisem mais empregar pessoas: parece ótimo, econômico e eficiente. Mas para quem essas mesmas empresas vão vender seus produtos ou serviços? Afinal, ninguém mais vai estar empregado e, sendo assim, não vai haver mais como comprar produtos e serviços. O verdadeiro mercado são as pessoas e não as empresas. Sem esse mercado consumidor (pessoas de verdade) as empresas não passam de números sem propósito (a menos que as fábricas e corporações comecem a pagar os robôs, para que estes comprem seus produtos e serviços e aí... Bem, sabe como é, a Matrix estará a um passo de se tornar realidade...).
Se a tecnologia tem o propósito de tornar a vida das pessoas mais fácil, por qual motivo temos a impressão de que não é este o caso?
Tecnologia para Facilitar a Vida... Ou Apenas Aumentar o Lucro?
Bom, acho que é sim o caso: a vida das pessoas hoje certamente é mais fácil hoje do que há 500 anos. O problema não está na facilidade, mas na possibilidade de proporcionar mais tempo livre para as pessoas com o avanço tecnológico. Mas isso não acontece pois, se com uma ferramenta melhor a pessoa produz em uma hora o que produzia em oito, a empresa quer que a pessoa trabalhe oito horas e produza oito vezes mais, afinal, a empresa quer lucrar oito vezes mais. O efeito bumerangue vai ocorrer quando a empresa não precisar mais da pessoa para lucrar: aí a pessoa vai ter todo o tempo livre e a empresa não vai ter para quem vender e, por tanto, não vai ter como lucrar, por mais que possa produzir desenfreadamente mais rápido e em mais quantidade do que jamais sonhou.
Esse efeito bumerangue da robotização vai nos fazer quebrar um velho paradigma mercadológico: as máquinas servem para tornar a vida das pessoas mais fácil e não para escravizá-las.
Claro, isso ocorreria hipoteticamente se a tecnologia evoluísse em uma velocidade suficientemente rápida para empresas e governos não conseguirem prever as consequências dessa robotização desregrada. Mas com tempo suficiente para prever essa tendência, me pergunto o que farão para sobreviver à evolução tecnológica?
O Que Fazer Diante Desse Cenário? Empoderamento e Controle
Deixando de lado as entidades (empresas, governos, etc), me pergunto o que as pessoas podem fazer diante desse cenário. Eu não sei, mas imagino que aprender a fazer uso da tecnologia é importante, afinal, até que o paradigma quebre, vamos precisar de todo apoio possível em um mundo cada vez mais tecnológico. Mas, sendo otimista, as IAs não são companheiros assim tão ruins, desde que continuem sob o nosso controle (ou será que esse é o problema?).
Enfim, tenho que trabalhar ainda no meu protótipo: um robô que faz a análise e a categorização de uma fila de tickets abertos para o departamento de HelpDesk. Em outro post e talvez, já em outro lugar, eu venha a falar sobre esse protótipo em mais detalhes.
Espero em breve retomar meus projetos literários (mas primeiro preciso recuperar meu tempo livre).
Até a próxima semana.
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