Poema Trevas de Lord Byron

  

um cenário gótico inspirado no poema trevas de lord byron, mostrando um castelo em uma colina, com um céu tempestuoso e um raio. o castelo tem torres altas, janelas arqueadas e bandeiras esvoaçantes. o raio ilumina o castelo e cria um contraste com a escuridão

📃

Meu contato com "Trevas"

Eu tive um sonho que não era em todo um sonho

O sol esplêndido extinguira-se, e as estrelas

Vagueavam escuras pelo espaço eterno,

Sem raios nem roteiro, e a enregelada terra

Pendia cega e negra no ar sem lua. — Lord Byron

Hoje eu vou destacar não apenas uma frase, mas um dos poemas góticos mais interessantes que eu já li: Trevas, de Lord Byron.

Eu tive contato com esse poema em algumas ocasiões ao longo da vida. Da primeira vez eu sequer sabia que os meus próprios textos tinham tanta influência e características da literatura gótica. Eu simplesmente lia os livros que eu mais gostava e por um acaso essas eram obras sombrias ou que tinham em sua composição elementos da cultura gótica: como castelos, mistério, elementos sobrenaturais, etc. Claro, isso não quer dizer que apenas obras góticas me inspiram, mas mesmo em obras que me inspiram e que são de outros gêneros (como O Senhor dos Anéis, Conan o Bárbaro e O Conde de Monte Cristo) eu encontro alguns dos elementos que estão presentes na literatura gótica.

A segunda vez que eu tive contato com esse poema, foi em um vídeo do canal Desvendando Segredos e Mistérios. O vídeo em questão (abaixo) fala sobre a série Primal (do mesmo criador de Samurai Jack). Bem, eu ainda não assisti a Primal, mas já assisti Samurai Jack e, juntando isso ao que vi no canal citado, garanto que essa série está na minha lista e tem tudo para ser tão incrível como suspeito que seja… Mas estou perdendo o foco aqui: a questão é que a abertura do vídeo usou o poema de Byron. E que poema. E que tradução. O clima soturno e sombrio combina perfeitamente com o tom da série, porém isso você poderá conferir assistindo ao vídeo.

Resolvi então falar um pouco sobre Lord Byron aqui no Blog. Com isso eu estudo sobre o assunto (do qual sou um entusiasta, mas nem de perto um especialista) e de quebra compartilho um pouco desse universo maravilhosamente sombrio que é a cultura gótica; incluindo a literatura gótica, que é do meu total interesse.

Lord Byron nasceu no ano de 1788 e morreu em 1824. Foi um dos principais poetas britânicos do romantismo, e também um dos mais influentes para a literatura gótica. Suas obras se caracterizam pela presença de elementos sombrios, misteriosos, fantásticos e macabros, que refletem a sua personalidade rebelde, melancólica, libertária e lásciva.

Byron viveu uma vida cheia de paixões, escândalos e aventuras, que o levaram a viajar por vários países da Europa e a participar da luta pela independência da Grécia, onde morreu aos 36 anos. Ele deixou um legado de poemas épicos, narrativos, líricos e satíricos, que inspiraram outros escritores góticos, como Mary Shelley, Edgar Allan Poe, Bram Stoker e Álvares de Azevedo.

Um dos seus poemas mais famosos e góticos é “Trevas”, escrito em 1816, após a erupção do vulcão Tambora, na Indonésia, que causou um ano sem verão na Europa. Nesse poema, Byron imagina um cenário apocalíptico em que o sol se extingue e a humanidade é consumida pela escuridão, pelo frio e pelo desespero. Acho curioso que o tema “apocalipse” sempre vem à nossa mente como algo atual, contemporâneo, coisa dos tempos modernos, quando na verdade este é um tema que acompanha a humanidade desde os seus primórdios. Não apenas a humanidade, quero dizer: quantas espécies já não tiveram o seu próprio apocalipse? Quanto ao Humano: este já quase teve o seu, inúmeras vezes antes, o que me faz pensar que a Humanidade é uma espécie louca, pois é a única que parece querer provocar o próprio fim… Mas estou divagando novamente. Voltemos ao poema Trevas…

O poema é dividido em nove estrofes de nove versos cada uma, seguindo o esquema rimático ABABBABCC. O ritmo é marcado pela alternância de versos iâmbicos (com uma sílaba átona seguida de uma tônica) e trocaicos (com uma sílaba tônica seguida de uma átona). O tom é sombrio, trágico e irônico.

A seguir, deixo transcrito o poema “Trevas” na tradução de Castro Alves (e reforço a recomendação do vídeo sobre Primal, onde você ouviram outra tradução desse mesmo poema e que é igualmente fantástica e sombria):

Trevas

Eu tive um sonho que não era em todo um sonho

O sol esplêndido extinguira-se, e as estrelas

Vagueavam escuras pelo espaço eterno,

Sem raios nem roteiro, e a enregelada terra

Pendia cega e negra no ar sem lua.

A manhã não voltava mais; cada noite era

Uma noite sem fim; os homens se esqueciam

De seus passados claros; não havia outra aurora

Senão a da esperança vã; o alimento era

O pão amargo do desespero.

E os homens se reuniam em grupos à cidade,

Para falar duma esperança já perdida;

E sorriam com amargura uns para os outros,

E tremiam com frio inútil junto ao fogo;

E as donzelas olhavam para os seus amantes,

Como quem diz adeus; e os olhos dos rapazes

Brilhavam como loucos; e as mães apertavam

Os filhos ao peito – mas nada disto os salva.

Nem eles nem seus filhos – de coisa alguma.

E os animais morriam; – até mesmo o cão fiel

Deixava o seu dono (que lhe dera o último pão)

Para rastejar ao canto escuro e ali morrer.

Os pássaros caíam dos ramos semimortos,

E ficavam calados em sua agonia.

Os vivos eram poucos – muito poucos na terra:

Uma mulher velha trêmula e um servil escravo

Eram talvez os últimos – então eles também morreram.

E as trevas foram densas sobre a face do abismo.

E os homens diziam uns aos outros:

“Vamos acender

Uma luz com a madeira verde”.

E eles acenderam.

Mas era uma luz triste; e o coração dos homens

Encheu-se de fantasmas enquanto ela ardia.

E quando ela se apagou eles pensaram ouvir

Uma voz alta clamar:

“A Terra está morta!”

E eles gemeram:

“Não temos mais irmãos!”

E eles erravam pela floresta onde outrora

Brilhara a beleza das flores; mas não achavam

Senão a cinza das folhas mortas que pisavam.

E eles paravam junto aos rios, mas bebiam

Apenas um licor amargo – não era água.

E o tumulto dos mares furiosos subia

Até o céu sem lua, e as vagas se quebravam

Umas nas outras, e sacudiam a espuma

Sobre a terra sem vida, como se quisessem

Lavá-la de sua culpa.

E os homens olhavam para o céu, e alguns enlouqueciam;

E outros sorriam com um sorriso convulso;

E outros maldiziam

Deus e morriam;

E os que ainda viviam não se amavam mais.

Mas dois deles morreram abraçados, pois tinham

Um amor tão sublime que os tornava imortais:

E em seu túmulo nasceu uma flor, que foi a última

De todas as que existiram na terra.

E os outros dois que restaram eram dois inimigos,

Que tinham sido amigos no tempo da abundância,

E lutado até a morte; mas agora queriam

Morrer abraçados, como os amantes ditosos;

Mas a inimizade era mais forte do que o amor,

E eles morreram de ódio sem se perdoarem.

E as trevas foram densas sobre a face do abismo.


um cenário gótico inspirado no poema trevas de lord byron, mostrando um castelo em uma colina, com um céu tempestuoso e um raio. o castelo tem torres altas, janelas arqueadas e bandeiras esvoaçantes. o raio ilumina o castelo e cria um contraste com a escuridão


Comentários

Minha foto
Éder S.P.V. Gonçalves
Osasco, SP, Brazil
É um ficcionista trevoso; escreve poema, romance e também conto. Mescla tom sério com humor ao falar sobre fantasia, mistério e terror. Mantém um blog onde posta textos por vezes sombrios e temperados com ácido humor.

Postagens mais visitadas deste blog

O Tigre, de William Blake

Ticê: a feiticeira que se tornou a deusa do submundo

Yokais: as criaturas sobrenaturais do folclore japonês e sua história

Drácula: é capaz de controlar os lobos?

Como configurar os níveis de aprovação no app Meu RH da Totvs?

Filtrando pelo campo TSK_STATUS

Carmilla: a vampira de Karnstein

A lenda do Mapinguari: tudo o que você precisa saber sobre o monstro da Amazônia

Hajime no Ippo e o Espírito de Desafiante

À mercê dos dias, do tempo: Quote de Goethe

📮 Formulário de contato

Nome

E-mail *

Mensagem *

👁‍🗨 MARCADORES

Curiosidades Leituras crônicas de escritor crônicas de um autor independente O Conde de Monte Cristo Alexandre Dumas filosofia Livros espada e feitiçaria Entretenimento Poemas folclore Fantasia Sombria Memorandos a rua dos anhangás histórias de mistério histórias de terror vampiros Contos literatura gótica Caravana Sombria diário halloween dicas Os Demônios de Ergatan histórias de fantasma lobisomens Bram Stoker Oitocentos Aromas de Devaneio PODCASTS escrita games histórias de aventura sagas Drácula O Leão de Aeris Psicotrápolas lendas lendas urbanas mitologia Atividade Física Conan o Bárbaro Histórias Sobrenaturais de Rudyard Kipling O Governador das Masmorras Rudyard Kipling Via Sombria conan exiles critica social kettlebell lua cheia micro contos natal paganismo sociedade séries Exercícios de Criatividade O Ventre de Pedra arqueologia feriado girevoy sport gyria inteligência artificial krampus krampusnacht masmorras papai noel resenha séries de tv xbox Robert Ervin Howard cultura pagã estrela negra folclore guarani ia liberdade melkor morte quadrinhos Capas Desenvolvimento de Jogos Ilustrações Os Segredos dos Suna Mandís Passeios Space Punkers era hiboriana game designer harpia histórias de horror histórias góticas hq humanidade indicação de séries mangá netflix personagens poema gótico política prisão As Aventuras do Caça-Feitiço Conto Diana Haruki Murakami História J.R.R.Tolkien Joseph Delaney O DIÁRIO DE IZZI Romancista como vocação Sandman V de Vingança Vampiros na literatura Wana anhangás animes aranhas arquivo umbra arte bruxas chatgpt criação de histórias cultura gótica cultura japonesa cães estações do ano facismo fanfic fantasmas festividades gatos pretos godot jogos jurupari mitologia brasileira outono paródia protheus sexta-feira 13 superstições totvs vida vingança A Fênix na Espada Café Holístico Carmilla: a vampira de Karnstein Cristianismo Joseph Conrad Joseph Sheridan Le Fanu O Chamado Selvagem O Coração das Trevas O Homem Sem Memória O Mentalista Terry Pratchett age of war anime animes de esporte anotações bokken bruxaria cadernos capa castlevania ceticismo conto de terror cotia crenças criatividade culto aos mortos demônios dia de todos os santos diabo drama educação engines espada espada de madeira espiritualidade evernote família fantasia farmer walk ficção ciêntifica ficção fantástica folclore indígena folclore japonês fotografias funcom hajime no ippo horror cósmico inverno leitores listas lobos lua azul matrix megafauna mitologia indígena monstros natureza notion objetos amaldiçoados opinião palácio da memória podcast ratos reforma sea of thieves sinopse série de terror templo zu lai tigre tutoriais utilidades viagem no tempo vila do mirante vlad tepes wicca xamanismo youkais Áudio-Drama A Arte da Guerra A Balada dos Dogmas Ancestrais A Cidade dos Sete Planetas A Cidadela Escarlate A Ilha do Tesouro A Sede do Viajante A Voz no Broche Age Of Sorcery Akira Toryama Anne Rice Arthur C. Clarke As Mil e Uma Noites As Sombras do Mal Bad and Crazy Barad-dûr Berkely BlackSails Blog Breve encontro com Dracooh de Beltraam Bushido Caninos Brancos Canto Mordaz Carta Para um Sábio Engenheiro Cartas Chuck Hogan Clássicos Japoneses Sobrenaturais Daniel Handler Direitos Iguais Rituais Iguais Discworld Divulgação Doctor Who Dragon Ball Eiji Yoshikawa Elizabeth Kostova Elric de Melniboné Entrevista com o Vampiro Full Metal Alchemist Gaston Leroux Genghis Khan Grande A'Tuin Guillermo Del Toro Hoje é Sexta-Feira 13 e a Lua está Cheia Jack London Johann Wolfgang von Goethe Joseph Smith Katana Zero Lemony Snicket Lestat de Lioncourt Lord Byron Lord Ruthven Louis de Pointe du Lac Mapinguari Michael Moorcock Michelly Mordor Musashi Na Casa de Suddhoo Na toca dos ratos letrados Nergal Novela O Escrínio de Pooree O Fabuloso Maurício e seus Roedores Letrados O Historiador O Hobbit O Jirinquixá Fantasma O Lobo O Lobo das Planícies O Mar O Mundo de Sofia O Ogro Montês O Primeiro Rato Letrado O Rei de Amarelo O Senhor dos Anéis O Sexo Invisível O Sonho de Duncan Parrennes O Tigre O Tigre e o Pescador Obras das minhas filhas October Faction Olga Soffer Os Incautos Os Livros da Selva Os Ratos Letrados Outono o Gênioso Oz Oz City Pedra do Teletransporte Pituxa Polo Noel Atan Red John Rei Ladrão & Lâmina Randômica Richard Gordon Smith Robert E. Howard Robert Louis Stevenson Robert William Chambers Rotbranch Safira Samhain Sarcosuchusimperator Simbad Sobre a Escrita Sociedade Blake Stephen King Stranger From Hell TI Tevildo Thomas Alva Edison Tik Tak Tomas Ward Vida e Morte Wassily Wassilyevich Kandinsky William Blake Wyna daqui a três estrelas Yoshihiro Togashi Yu Yu Hakusho absinto aho aho akemi aleijadinho algoritmos alienígenas aluguel amazônia amor anagramas andarilhos animais de estimação animação ano novo aranha marrom aranha suprema arquétipo artesanato astronomia atalho atitudes autopublicação aves míticas azar balabolka baladas banho frio banho gelado bicicleta bienal do livro biografia blogger bokuto boxe bugs caderno de lugar comum calçados militares caminhos escuros carlos ruas carnaval carta do chefe Seatle casa nova casas mal assombradas castelos castelos medievais categorias cavaleiro da lua celebrações pagãs chalupa chonchu chrome cidadania cientista civilização ciência condessa G condomínio configuração consciência conto epistolar coragem cordilheira dos andes crianças criaturas fantásticas criaturas lupinas crimes cultura brasileira cultura otaku cárcere dark rider dark side democracia deusa da lua e da caça dia das crianças dia de finados dia do saci dia dos mortos distopias diy doramas eclipse eclipse do sol eclipse solar ecologia el niño ema encantos esboços escultura escuridão espírito de luta espíritos exoplanetas falta de energia elétrica faça você mesmo feiticeiras feitiçaria feitiços felicidade felipe ferri fome fonte tipográfica fonógrafo fortuna fundação japão game pass gratidão greve gênero hitória hobby homenagem homens humor husky hábitos saudáveis ia para geração de imagens idealismo identidade igualdade de gênero imaginação imaterialismo inquisição jaci jaterê japão japão feudal jogos 2d jogos de plataforma jornada kami katana kendo kraken kraken tinto labirintos labirintos 2D lealdade leitor cabuloso lenda guarani lendas antigas leste leviathan licantropia linguagem de programação literatura literatura aventuresca literatura fantástica literatura inglesa live action livros infanto juvenis loop lua de morango lugares mal assombrados lógica de programação magia malaquias mandalas mangaká matemática mawé mazolata mboi-tui meio ambiente melancolia memorização mercado de trabalho meu rh microsoft midjourney mitologia grega mitologia japonesa mitologia árabe mitra miyamoto musashi mizu moccoletto mochila modelo de linguagem modo escuro molossus monograma montanha morgoth morpheus moto motoqueiro mudança mudanças climáticas mulheres mundos método wim hof músicas neil gaiman noite eterna nomes de gatos pretos nona arte nostalgia o que é vida objetos mágicos ogros oração os sete monstros osamu tezuka patriarcado pena pensamentos perpétuos pesadelos pescador piedade piratas pluto pod cast poderes povo nômade povos aborígenes predadores prefácio primavera primeiras impressões problemas profecia pterossauro publicação independente qualidade de vida quarta parede reclamação reflorestamento religião religião de zath rio Pinheiros rio Tietê ritual robôs roc roca roda do ano roma antiga romantismo cósmico romênia roque sacerdotisas de zath samurai de olhos azuis sarcosuchus Imperator saturnalia saturnália saúde segredos seres fantásticos serpente-papagaio sexo frágil sintetizador de voz smilodon sobrenatural sobrevivencialismo solstício solstício de inverno solstício de verão sonhar sophia perennis sorte suna mandís sustentabilidade série tau e kerana teclado telhado telhas de pvc templo de hachiman tempo teoria das cores terror texto em fala ticê tigre dente de sabre totvs carol transilvânia travessão treinameno treinamento treino trevas trickster tumba de gallaman tv título um sábado qualquer universidades van helsing varacolaci vendaval verão vida em condomínio vigília da nevasca windows wombo art xintoísmo ymir yokai yokais youkai yule zath zoonoses águia ódio
Mostrar mais