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"Sonhos maus não me acordem,
Forças malignas não me abordem." — Hino para a noite (extraído de Histórias Sobrenaturais de Rudyard Kipling)
Continuo a leitura de Histórias Sobrenaturais de Rudyard Kipling. Estou especialmente atento a como o autor inicia os seus contos. Estou pensando em fazer uma lista "como começam os contos", por curiosidade, estudo e para satisfazer a minha vontade de colecionar essas informações interessantes.
Para quem escreve ou se dedica a essa arte, tenho certeza de que já ouviram algum conselho (seja numa aula no Youtube, ou em algum site pela internert afora) sobre como se começa uma história da forma correta. Particularmente eu não acredito que exista uma fórmula mágica para se começar uma história da maneira correta, embora eu acredite que hajam muitas formas de se começar uma história da maneira errada. Em todo caso, a melhor forma de se aprender algumas coisas é praticando e observando como os outros fazem.
Uma das poucas vantagens que a Índia tem sobre a Inglaterra é uma maior possibilidade de conhecer pessoas.
Assim começa a segunda história de fantasma que Kipling escreveu, também destinado à leitura de Natal, mas do que trata esse conto?
Você já teve um caso amoroso que não deu certo e depois ficou assombrado pelo fantasma da pessoa que você rejeitou? Não? Pois é o que acontece com o protagonista de “O Jirinquixá Fantasma”, um dos contos mais famosos de Rudyard Kipling, (talvez seja relevante lembrar que ele é o autor de “O Livro da Selva” também chamado de Mogli: o livro da selva).
O conto narra a história de Jack, um inglês que vive na Índia colonial do século XIX. Ele se envolve com uma mulher casada chamada Agnes, mas logo se arrepende e termina o relacionamento. Agnes, porém, não aceita o fim e passa a persegui-lo por toda parte, implorando que ele volte para ela. Jack, então, se apaixona por outra mulher, Kitty, e fica noivo dela. Mas Agnes não desiste e continua a importuná-lo, seguindo-o em seu Jirinquixá de painéis amarelos. Até que um dia, ela morre de uma doença misteriosa. No entanto, a primeira continua reaparecendo em sua vida, implorando-lhe que reconsidere. Uma morte inesperada, aparições fantasmagóricas e uma revelação inusitada levam a história a um caminho surpreendente que só a maestria de Kipling seria capaz de produzir.
Acho curioso que o Jirinquixá possua painéis amarelos. Isto estaria relacionado a onda de histórias produzidas nessa época que usavam a cor amarela em histórias de terror? Eu falo sobre o uso da cor amarela por escritores e artistas nessa época em outro post. Falo principalmente sobre Robert W. Chambers e o seu Rei de Amarelo. A coincidência é tão grande faço questão de deixar essa anotação para futura referência. Caso tenha interesse em ler mais sobre esse assunto, não deixe de visitar o meu post sobre O Rei de Amarelo e a cor da loucura.
Contudo, agora devemos voltar para o conto de Kipling...
“O Jirinquixá Fantasma” foi escrito por Kipling quando ele tinha apenas 19 anos e foi publicado pela primeira vez em 1885 na revista Quartette, da qual ele era um dos editores. O conto foi inspirado em uma experiência pessoal do autor, que teve um caso com uma mulher casada chamada Florence Garrard e depois se arrependeu. Ele também usou elementos da cultura indiana, como a crença nos espíritos dos mortos e nas carruagens fantasmagóricas.
O conto é considerado uma obra-prima do gênero fantástico e uma crítica à hipocrisia da sociedade vitoriana, que condenava o adultério mas tolerava os abusos dos colonizadores. Além disso, o conto mostra a habilidade de Kipling em criar personagens complexos e ambíguos, como Jack, que é ao mesmo tempo vítima e vilão da história. Embora eu não consiga pensar em Jack como uma vítima.
“O Jirinquixá Fantasma” faz parte da coletânea "The Phantom 'Rickshaw and Other Tales", publicada em 1888. No Brasil, o conto está presente na edição "Histórias Sobrenaturais de Rudyard Kipling", lançada pela editora Bertrand Brasil. Se você quiser ler o conto online em língua inglesa, pode acessar o site Literariness, que oferece uma análise detalhada da obra. Voce também pode ler mais posts meus sobre Kipling e sua obra sobrenatural, caso seja do seu interesse.
E você, já teve algum caso amoroso que terminou virando assunto de fantasma? Ou prefere as histórias mais divertidas e inocentes de Kipling, como as do Mogli? Conte nos comentários!