Ticê: a feiticeira que se tornou a deusa do submundo

 

ticê é a deusa feiticeira do submundo tupi-guarani, está em pé em uma cavena escura e cercada pelos espíritos dos mortos. Seu cabelo longo é preto e sua pele é mameluca. Seu olhar é maldoso e seu sorriso cruel. Trajando as vestes das mulheres guarani, olhar malévolo e sorriso cruel.

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Sobre a dificuldade de chegar até a senhora do submundo

Em minha pesquisa sobre a mitoliga dos povos brasileiros (creio que podemos chamar assim), sobretudo a mitologia que se refere ao período anterior à invasão da América do Sul pelos povos europeus, iniciada em 1500, eu tenho me deparado com dificuldades ao encontrar fontes confiáveis na internet e nem tenho conseguido (ainda) por as minhas mãos em algum livro sobre o assunto.

Infelizmente, não é fácil encontrar fontes confiáveis e acadêmicas sobre os mitos das tribos que habitavam o Brasil antes de 1500. Muitas dessas histórias foram perdidas ou distorcidas ao longo do tempo, por causa da colonização, da catequização e da violência contra os povos indígenas. Mas essa situação felizmente parece estar melhorando um pouquinho, com a publicação de livros por pessoas que pertencem às tribos que ainda sobrevivem neste país que lhes dá tão pouco valor. Claro, apesar dessa pequena melhora, a situação ainda esteja muito longe da ideal. Eu tenho um pequeno livro em casa, que se chama "A Terra uma só" ou Yvy Rupa, foi escrito por Timóteo da Silva Verá Tupã Popygua, liderança guarani, contando o que aprendeu e pensou nos caminhos que percorreu pela Mata Atlântica, na América do Sul, junto ao seu povo Nhande’i va’e, conhecidos também como Guarani Mbya. Mas ainda preciso de muitos outros livros como esse para melhorar minha pesquisa e enriquecer minhas fontes de informação. Mas sinto que, ainda assim, nem sempre seja fácil descobrir e estudar determinadas lendas antigas desse território continental que hoje se chama Brasil.

Ticê, a senhora do submundo

Algumas, como a história dos sete monstros lendários dos guaranis, anhangá e jurupari até são citadas em artigos acadêmicos, sites especializados, blogs e em alguns casos, até em livros. Eu uso algumas dessas histórias como inspiração para o conto a Rua dos Anhangás, que estou reescrevendo e transformando em uma história maior, em que outros lendas servirão de inspiração, como o Jurupari e o Mapinguari. Em dado momento, no entanto, eu precisei de mais e foi aí que me deparei com a história sobre uma feiticeira que, com sua própria ambição e conhecimento, elevou-se à condição de divindade.

Essa lenda muito me interessou nesse processo de dar nova roupagem para esse antigo conto (a rua dos anhangás). Essa feiticeira poderosa e ambieciosa, que conseguiu elevar-se à condição de divindade vai servir aos meus propósitos mesquinhos de enfeitar minha narrativa ao mesmo tempo que a enriqueço com menções a essa cultura tão antiga e formidável. Falo de Ticê, senhora do submundo e consorte de Anhangá. Contudo, não consegui encontrar nenhuma fonte acadêmica que fale sobre Ticê, de modo que tudo o que eu aprendi sobre ela em meu estudo, é baseado em blogs e sites de pessoas que se interessam pelo assunto. Mesmo o pequeno livro que eu tenho em casa não aborda essa personagem e mesmo pesquisando no google acadêmico eu não consegui (não ainda) encontrar nenhum artigo sobre o assunto.

Pelo apanhando de referências à deusa Ticê, eu descobri que ela era uma feiticeira muito poderosa e temida, que dominava a maldade e a inveja. Ela se tornou a deusa do submundo ao se casar com Anhangá, o deus que castigava os cruéis e protegia a flora. Eles se apaixonaram ao se olharem nos olhos, sem que Ticê fosse afetada pela loucura e morte que os olhos de Anhangá causavam. Juntos, eles reinavam sobre o mundo dos mortos.

Em uma das versões que li a respeito, foram os homens que, temendo o poder e os planos de Ticê, a levaram até Anhangá, com o objetivo de que este a punição por seus crimes, mas o tiro saiu pela culatra, visto que Anhangá se apaixonou por aquela mulher que era imune ao seu olhar enloquecedor e letal.

Referência a Ticê em A Lenda de Tupã

A fonte mais confiável que eu consegui dessa lenda, foi um pequeno livro infantil, em versão digital, na biblioteca da Funai. O livro, publicado em 2012 pela editora Cuore, é "A Lenda de Tupã" de Paulinho Tapajós. Esse pequeno livro não conta a história de Ticê, mas a cita brevemente, como também cita os demais deuses criado a partir da mente de Tupã, o deus supremo. 

Em "A Lenda de Tupã", o deus supremo criou todos os demais deuses, do céu, da alegria, entre outos. Inclusive, ele criou também os deuses cruéis, dos quais Anhangá era o representante mais perverso. Ticê faz parte desse elenco de deuses cruéis nessa lenda e essa é toda a informação que o livro dá ao respeito de Ticê: ela era uma das divindades criadas por Tupã e era cruel. Nada mais, infelizmente, pode-se tirar dessa fonte.

Contudo, não consegui descobrir a inspiração ou a fonte de informação que Paulinho Tapajós usou para escrever esse livro, mesmo eu tendo pesquisado bastante a respeito. Sendo assim, não posso afirmar o quão fiel esta obra é às tradições orais dos povos ancestrais da América do Sul. Pesquisando um pouco sobre o escritor Paulinho Tapajós na wikipédia e em outros sites, pude constatar que ele não é um escritor indígena, apesar do sobrenome, mas ainda assim ele escreveu algumas obras sobre lendas indígenas além de A Lenda de Tupã, como por exemplo A Lenda das Amazonas, A Lenda do Uirapuru e A Lenda da Vitória-Régia. Em suma, atestar o quão fiel as lendas indígneas descritas em blogs e mesmo em livros (como os que eu mesmo estou escrevendo) não é o melhor caminho. No entanto, essas obras e esses blogs certamente são importantes na divulgação dessa cultura ancestral, pois desperta (ao menos em mim) a curiosidade para aprender mais sobre essas lendas e sobre esse passado tão distante.

Aliás, eu já li que antes dos colonizadores europeus, Tupã era apenas o deus do trovão, enquanto Jurupari era o deus mais importante e reverenciado pelos índios. Os jesuítas, que queriam converter os índios ao catolicismo, associaram Tupã ao deus cristão e Jurupari ao diabo, mudando assim a percepção dos índios sobre essas entidades como é possível ler nesse artigo da revista superinteressante. e também nesse artigo do dapibge.

Conclusão

Ou seja, a minha intenção de encontrar a versão dos mitos dos povos originais antes de 1500 é realmente difícil, porque os próprios povos originais passaram por um período de reestruturação de suas crenças com base na influência da igreja católica, por intermédio dos jesuítas.

Apesar de tudo, meu objetivo não é o de criar um trabalho acadêmico na área e sim o de divulgar um pouco mais sobre a rica mitologia dos povos ancestrais da América do Sul utilizando suas crenças como inspiração em alguns de meus contos e mesmo sobre isso, não sei se estou fazendo um bom trabalho. Mas faço porque gosto. Já escrevi sobre isso no prefácio de a rua dos anhangás e ainda acho que o que eu escrevi nesse prefácio é bastante válido (você pode ler o prefácio nesse post).

A Rua dos Anhangás, no entanto, explorava apenas dois seres que pertencem à história dos sete monstros lendários dos guarani. Além disso, alguns aspectos do conto nunca me agradaram completamente. Por isso resolvi melhorar esse conto, expandindo-o. De certo modo, eu já vinha fazendo isso, com um microconto em forma de carta e dois episódios de podcast chamados "Arquivo Umbra: Quotidiano Sombrio" em que eventos perturbadores nas imediações da rua dos anhangás apontam para um terceiro ser, pertencente aos "sete monstros lendários".

Foi com o roteiro para outro conto neste cenário que eu me decidi: iri revitálizar toda a história e dar a ela a atenção que ela merecia.

Esta nova história vai se chamar (provavelmente) Vila Santa Morte: Vias Sombrias e ele é uma fantasia sombria e urbana, que mistura elementos míticos das culturas indígenas brasileira com lendas urbanas e uma boa dose de violência e horror. Claro que não poderia faltar um elemento que eu adoro colocar em meus textos: mistério.

Se você quiser saber mais sobre a lenda de Ticê, você pode visitar os links que eu encontrei para você:

  • Ticê - Conheça a História Da Deusa do Submundo - Astrocentro

Obrigado pela sua atenção e nos vemos na próxima lenda!

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ticê é a deusa feiticeira do submundo tupi-guarani, está em pé em uma cavena escura e cercada pelos espíritos dos mortos. Seu cabelo longo é preto e sua pele é mameluca. Seu olhar é maldoso e seu sorriso cruel. Trajando as vestes das mulheres guarani, olhar malévolo e sorriso cruel.






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Éder S.P.V. Gonçalves
Osasco, SP, Brazil
É um ficcionista trevoso; escreve poema, romance e também conto. Mescla tom sério com humor ao falar sobre fantasia, mistério e terror. Mantém um blog onde posta textos por vezes sombrios e temperados com ácido humor.

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