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Crônicas da escrita
Estou tentando manter uma rotina de escrita mais consistente. Isso não é fácil, mas certamente é vital para quem quer se dedicar a essa arte (seja qual for tipo de escrita à qual você pretende se dedicar: um diário, um conto, poemas, crônicas, um blog, etc). Eu acredito que tenho conseguido escrever bastante (e o blog tem me ajudado a me manter praticando a escrita, muito mais do que se eu estivessse me dedicando apenas às minhas histórias).
E quanto às minhas histórias?
Bom, tenho escrito bastante também... Tenho escrito, nas últimas semanas, sobre uma garota gótica, que observa o sol poente sentada na grama de um parque. A coisa em torno dessa garota começou simples, mas daí ela se tornou complexa. Afinal, estou falando de um conto de fantasia sombria, com elementos de terror, horror, mitologia guarani e lendas urbanas. O mais difícil não é conceber essa história: o mais difícil é que essa história não é uma história nova, estou tentando erguela em cima de um conto já escrito, transformando este antigo conto nos alicerces de uma história nova que deve manter ainda a essência do original ou, pelo menos, melhorar a essência...
E eu tenho trabalhado muito nisso (mas não tanto quanto eu gostaria).
Apesar disso, eu simplesmente não tenho conseguido me focar muito em um só trabalho. Talvez porque eu não esteja em um "momento focado" da minha vida: estou vivendo um período de muitas mudanças. E essas mudanças envolvem trabalhos e desafios que consomem o meu tempo livre e bagunçam a minha rotina, me dificultando a manter um hábito, por mais simples que seja.
Não que o hábito da escrita seja simples. Embora devesse ser. Quero dizer, cada escritor e escritora deve ter o seu ritual próprio para pode escrever e sua mente deve funcionar melhor de maneiras que são tão particulares e indivíduais e diferentes para cada pessoa.
No meu caso, eu funciono melhor em certos horários: eu escrevo particularmente bem de manhã, em alguns horários da tarde e da noite. Nos demais horários eu funciono na força bruta: mas funciono. Escrevo bastante se eu me forçar, mas preciso me forçar.
Acho que o meu problema com a escrita é que eu preciso de um equipamento (computador ou celular), já que eu montei todo o meu esquema de escrita baseado no mundo digital.
Eu gostaria de voltar a escrever prioritariamente usando papel e caneta. Mas, sempre que eu sinto um impulso em testar isso, me vejo me perguntando: para isso funcionar, vou ter que passar esse conteúdo escrito do papel para o computador com frequência. Porquê? Simples, para publicar um texto (seja um post no Blog, um conto, um poema ou um romance) é preciso editar o material primeiro e isso é feito no computador.
Sendo assim, escrever no papel é algo simples e fácil de fazer, que transmite uma certa sensação de liberdade, afinal, é só ter papel e caneta e escrever.
O problema é que escrever com papel e caneta é só uma parte do trabalho: transcrever o material deve ser levado em conta.
Enfim. Estou apenas divagando nesse meu diário de escrita.
Porém o trabalho precisa continuar. Por isso, sem desculpas, a solução é fazer o que precisa ser feito.
Em todo caso, eu tenho escrito bastante. Apenas não estou sendo suficientemente focado em um único trabalho e por isso, estou fazendo muito coisa ao mesmo tempo que nunca termino coisa alguma.
Preciso mudar isso em particular: começar a terminar os trabalhos antes de conceber os novos.
Talvez eu tenha que fazer isso com Via Sombria (a antiga A Rua dos Anhangás).
Ontem escrevi uma parte do roteiro no qual estou trabalhando para Via Sombroa. Na verdade, eu reescrevi, como que partindo do zero. Às vezes é preciso fazer isso inumeras vezes: não falo de editar, falo de realmente reescrever, desconsiderando completamente o que já estava escrito. Isso é necessário (no meu caso) para eu me desatar dos nós e laços dos textos antigos e que por vezes me levam a becos sem saída (essa história, em específico, está cheia de becos sem saída: ou talvez isso seja a história me guiando para o caminho certo o qual eu teimo em não evitar).
Ontem eu escrevi nesse roteiro algo em torno de 3 páginas A4 na fonte Times New Romam, tamanho 11 no Google Documentos, ou algo em torno de 1200 palavras.
Até o momento há uma garota sentada na grama do parque ecológico Santa Maria, olhando o por do sol enquanto remói sentimentos de raiva e escuta uma pergunta ecoando em sua mente.
Seu nome é Luisa, uma garota de 17 anos que se veste de preto e usa maquiagem carregada em tons escuros. Ela adora ouvir música com letras sombrias e melancólicas, mas neste fim de tarde a única música que seus ouvidos desejam escutar é a do silêncio. O problema é que o silêncio não é uma música fácil de ouvir, não quando não estamos isolados em um ambiente deserto e seguros de que ninguém vai nos perturbar.
E ela é perturbada, pois mais alguém parece ouvir sua mente gritando enquanto interpela o sol poente a respeito daquele terrível e triste mistério.
Esse alguém é Isac (acredite, este nome diz muito mais do que se pode imaginar à primeira vista).
Mas, será mesmo um problema que Isac esteja ali para ouvi-la e guiá-la naquele labirinto metafórico e literal que era a sua vida no Santa Maria?
E em que direção Isac poderia guiá-la?
Certamente que não é na direção da luz do sol; daquele sol poente que anuncia o fim do dia e o nascimento da noite, da treva que só respeita uma luz... A luz da lua.
Mas eu não deveria estar registrando nada nesse diário hoje: Luisa e Isac precisam da minha atenção e eu preciso continuar esculpindo essa rocha bruta na minha mente, até escavá-la o suficiente para vislumbrar do que se trata essa história.
Voltemos então ao trabalho.