O Povo das Mandalas Errantes

pai e seu jovem filho adolescente, dois nômades misteriosos de um povo cigano, trajados com roupas ninjas, cabelos escuros ondulados e compridos, cajados de madeira retorcida. mandalas estampadas nas vestes. vila pesqueira nevoenta entre a floresta tropical e o mar assombrado por fantasmas e tigres dente de sabre. noite. arte fantástica e sombria

📕

O Povo das Mandalas Errantes

Os Segredos dos Suna Mandís: Oitocentos Aromas de Devaneio

Hoje estou às voltas com o povo das mandalas errantes... Protagonistas (e antagonista) do segundo conto no qual estou trabalhando neste universo fantástico que tenho chamado de Um Mundo Estranho (e que talvez, apenas talvez, eu batize com um nome melhor no futuro...).

Mas quem é o povo das mandalas errantes?

Eles são os Suna Mandís; um povo nômade; conhecido por suas roupas coloridas que ostentam belas e misteriosas mandalas estampadas em suas capas de viajem (na verdade xales-mantas que vestem como capas). Essas mandalas representam as castas e ofícios a que pertencem dentro da hierarquia desse povo misterioso. O que poucos sabem é que os Suna Mandís são guardiões de perigosos conhecimentos, que são mantidos em segredo do resto do mundo desde épocas remotas.

Edin e Dion possuem uma mandala estampada em suas capas de viajem, a qual exibe em seu centro um caranguejo roxo em cujo casco há quadrados desenhados um dentro do outro em posições cruzadas que causam uma ilusão diótica que dá a impressão de se estar olhando para um túnel (há exatamente nove quadrados um dentro do outro, mas a impressão é que o centro segue infinitamente nessa repetição, formando um túnel). Esse desenho representa as nove terras e os nove céus que se deve cruzar antes de chegar a Ouan; um Oceano Espiritual que se acredita ser a origem de todos os mundos. Os quadrados também são uma metáfora que representa as quatro leis que regem o nosso Ouran (o universo físico em que vivemos).

O fato de Edin e Dion usarem esta mandala em suas capas de viajem significa que eles pertencem a uma casta de Suna Mandís treinada desde a infância para lidar com assuntos sobrenaturais, pois em sua cultura o caranguejo é visto como um animal com o poder de transitar entre os planos físico e esperítual, entre o Ouan e o Ouran. De certo modo, o caranguejo é o principal símbolo desse povo e, em seu misterioso idioma, caranguejo é chamado de Suna Mandí: aquele que cruza a fronteira entre os mundos.

Por baixo de suas capas de viajem, ambos usam roupas pretas similares às de um ninja (o termo ninja não existe nesse mundo, mas usá-lo vai facilitar o entendimento geral de como eles se vestem).

Estas roupas pretas, por sua vez, são estampadas com mandalas discretas cujo símbolo é uma rosa roxa com espinhos pontiadugos.

Esta figura ostentada pela dupla de carismáticos protagonistas significa que ambos são assassinos por profissão, treinados para eliminar os alvos escolhidos pelo conselho de seu clã.

Sim, os protagonistas desse enredo são dois assassinos frios e dissimulados que se passam por uma simpática dupla sempre pronta para ler a sorte das pessoas na rua e mendigar por esmolas (seja comida ou um pouco de álcool para espantar o frio).

Mas calma, isso não faz deles pessoas ruins: a casta de assassinos treinados para lidar com o sobrenatural são um recurso necessário para esse misterioso povo proteger seus perigosos e secretos conhecimentos.

Sem eles o mundo correria sérios perigos, ou pelo menos sua vila, suas terras, seu relacionamento, sua fortuna ou o que quer que esteja em jogo... Enfim. Há muito em jogo para nos atermos a isso agora.

Talvez um título bom para as histórias dos Suna Mandís seja...

Não, espera... Acho que preciso voltar alguns passos e começar do início...

Como surgiu a ideia para este segundo conto?

Eu trabalho em uma história a muito e muito tempo. Essa história cresceu e hoje ela é um universo com vida própria. Um Mundo Estranho, misterioso e um tanto genioso e que teima em não ser batizado com um nome mais "apropriado". Acreditem, eu tentei e fracassei miseravelmente (embora esse pobre escritor ainda não tenha desistido completamente de tentar mais um pouco).

É quase como se eu entrasse em transe, quase como se meu espírito fosse capaz de voar até este outro lugar e, após visitar e observar este outro mundo, eu voltasse para este lado carregado de lembranças dormentes, as quais vou lembrando enquanto escrevo. Claro, esta é uma forma de ver as coisas. Outra forma é dizer que após trabalhar em algo por longo tempo, este algo acaba se tornando uma parte nossa.

Por muito tempo, eu escrevi, escrevi e escrevi. Reformulei, melhorei e reescrevi (aliás, reescrever foi o que mais fiz). Até que em dado momento eu percebi que a coisa não terminava nunca e talvez nunca venha a terminar...

Então pensei comigo “Eu tenho uma propensão maníaca para histórias longas e, se eu continuar assim, vai demorar muito terminar um único grande livro, isto é, se eu terminá-lo algum dia“.

Foi então que resolvi dividir esse grande universo em várias pequenas sagas e também em histórias isoladas mais curtas.

E eu pensei ainda melhor “Vou começar pequeno: vou tentar escrever um pequeno conto, um bem simples, o mais curto possível. Vou manter os pés no chão e ser o mais realista possível...".

E assim nasceu "O Leão de Aeris", lá no longínquo oeste do Império de Hudan...

Mas não passou muito tempo e eu viajei para o leste, onde eu queria escrever um pequeno conto sobre um andarilho do povo Suna Mandí que chega a uma vila pesqueira e ali conta uma história tradicional do seu próprio povo para entreter um bando de crianças: era para o foco da história ser a narrativa do Suna Mandí. Era para eu ser realista, manter os pés no chão e tudo o mais...

Hahaha! Como um tolo e ingênuo escritor usado pelos espíritos do caos deste Mundo Estranho, eu fui ludibriado como uma marionete.

Eu fracassei e deixar esse conto simples... Fracassei em deixá-lo curto. Fracassei em manter os pés no chão.

Por isso esse conto foi (do meu ponto de vista pessoal) um grande sucesso!

Ele é complexo e cheio de nuances, mistérios, aventura e sombras terríveis e fascinantes... Mas espere... Eu não deveria estar elogiando o meu próprio trabalho, ou pelo menos eu não deveria fazer isso como um cientista louco orgulhoso da criatura que engendrou com as próprias mãos.

Apesar de tudo, eu não posso negar que este é um grande conto. Grande sob muitos aspectos: tanto em quantidade de páginas (caso ele fosse impresso em um formato similar ao A5 com fonte tamanho 11, teria em torno de 400 páginas) como em significado. Não quero parecer arrogante e nem nada do tipo: quando digo que o conto é grande em significado, eu quero dizer que ele tem muito significado para mim, ainda que possa não vir a ter significado nenhum para outras pessoas. Mas isso só o futuro poderá dizer.

Bom, e foi assim que nasceu Os Segredos dos Suna Mandís: Oitocentos Aromas de Devaneio. Pelo menos este é o título que eu vislumbro para esse conto (aliás, título sobre o qual eu relutei bastante).

Minha esposa achava que ele deveria se chamar "Os Dois Suna Mandís" (e provavelmente ela está certa, apesar de eu achar que esse título restringe um pouco as minhas ideias megalomaniácas para o futuro).

Quanto a mim, eu já cheguei a fazer um teste publicando-o com o título "Os Demônios de Ergatan", mas isso foi uma péssima escolha da minha parte (pena que eu só vi isso depois). Claro, se a ideia era fazer um teste, publicá-lo foi uma decisão muito correta ainda que a escolha do título tenha sido incorreta: testes são para isso, para errarmos e aprendermos com nossos erros (e também aprender com nossos acertos).

Com essa publicação teste eu consegui alguns leitores beta que me tranquilizaram quanto à qualidade do texto e do enredo. Inclusive eu consegui (através do Wattpad) a opinião de um leitor lá da China, o qual veio me perguntar se o livro era uma fan fic do quadrinho da Dao Zao (o que me deixou lisonjeadíssimo, apesar da minha resposta para ele ser não). Mas, mesmo respondendo que minha obra não era uma fan fic, esse leitor me respondeu dizendo que amava a Dao Zao e também amava "Os Demônios de Ergatan".

Mas então porque diabos "Os Demônios de Ergatan" não doi uma boa escolha?

Simples: porque apesar de lá na China o termo "demônio" ter uma conotação mais próxima do folclore do universo fictício que eu exploro, aqui no Brasil (na verdade no "Ocidente" como um todo) o termo demônio ainda está culturalmente muito carregado da influência cristã e todo seu significado ligado ao inferno católico e tudo o mais...

Muitos leitores e principalmente potênciais leitores acharam que a obra se tratava de algo ao estilo Supernatural ou algo do genêro. E se eu precisava explicar o título do livro e dizer que a história não era sobre o que eles estavam achando ao ler o título, então esse título não poderia ser a escolha certa.

Por isso, após um longo e desesperador período estudando títulos e me perdendo cada vez mais em fórmulas e ideias cada vez mais complexas e rebuscadas sobre o que é um bom título e sobre qual eu deveria escolher, eu finalmente cansei e resolvi voltar para o início de tudo... Quando eu fiz os primeiros esboços e havia estipulado um título completamente amarrado à trama.

Esse título (o título original) era "Oitocentos Aromas de Devaneio" (um dos vários anagramas escondidos nessa história).

Mas eu também resolvi aproveitar a dica da minha esposa (Os Dois Suna Mandís) para criar título e subtítulo e com isso poder me permitir explorar novos contos no futuro, envolvendo esse povo tão carismático e misterioso que eu adoro tanto.

pai e seu jovem filho adolescente, dois nômades misteriosos de um povo cigano, trajados com roupas ninjas, cabelos escuros ondulados e compridos, cajados de madeira retorcida. mandalas estampadas nas vestes. vila pesqueira nevoenta entre a floresta tropical e o mar assombrado por fantasmas e tigres dente de sabre. noite. arte fantástica e sombria
E é assim que foi criado o título "Os Segredos dos Suna Mandís: Oitocentos Aromas de Devaneio".

O nome comprido, eu bem sei. Mas eu sou bom com nomes compridos (talvez seja uma maldição lançada pelos meus pais em mim, quem sabe).

Eu queria que o povo Suna Mandí; um grupo étnico nômade bastante similar aos ciganos, fossem os protagonistas dessa história. Na verdade, queria escrever várias narrativas tendo os Suna Mandí como protagonistas, pois eu os imagino como contadores de história naturais, uma vez que a sua tradição é mantida pela oralidade. Eu imaginei que a cada novo conto um Suna Mandí errante narrasse alguma história de sua tradição para outros personagens deste mundo; e quase sempre personagens simples, do dia-a-dia, em geral da classe trabalhadora, como fazendeiros, pescadores entre outros.

Então surgiu a ideia da vila pesqueira. Claro, esta ideia não surgiu do nada. Confesso que eu sempre fui um bicho do mato e não fossem as minhas responsabilidades me impedirem de fazer isso no momento, eu moraria no meio do mato e de preferência, próximo à praia. É onde eu quero estar no futuro; em uma casa de campo entre o mato e a praia (claro, acompanhado da minha esposa e, se possível, das minhas filhas).

Eu tirei essa foto no Guaraú em 2018, ao fundo é possível ver a estação ecológica Juréia-Itatins (cujo território  está distribuído pelos municípios de Iguape, Miracatu, Itariri, Pedro de Toledo e Peruíbe)
Eu tirei essa foto no Guaraú em 2018, ao fundo é possível ver a estação ecológica Juréia-Itatins (cujo território  está distribuído pelos municípios de Iguape, Miracatu, Itariri, Pedro de Toledo e Peruíbe)

Felizmente ainda existem alguns lugares assim, como o Guaraú, em Peruíbe; um lugar que já visitei algumas vezes e pelo qual me apaixonei. O bairro do Guaraú possui uma praia não muito grande, pouco visitada e que marca o inicio da reserva ambiental da Juréia. Pois foi exatamente a Juréia que me deu a ideia de escolher um cenário litorâneo no Império de Hudan como paisagem de fundo para essa história.

Tiramos essa foto no Perequê, lá na Juréia, em uma das visitas ao Guaraú: minha esposa está de vermelho, minha filha de verde amarelo e minha mãe é a que está de calça jeans. Esse foi um dia quente de inverno e nos divertimos muito nessa trilha.
Tiramos essa foto no Perequê, lá na Juréia, em uma das visitas ao Guaraú: minha esposa está de vermelho, minha filha de verde amarelo e minha mãe é a que está de calça jeans. Esse foi um dia quente de inverno e nos divertimos muito nessa trilha.

Paisagem litorânea Nessa foto eu apareço, parecendo um caranguejo cinzento e de boné
Nessa foto eu apareço, parecendo um caranguejo cinzento e de boné

Desta forma, minha atenção foi atraída para a vila de Ergatan (cujo significado do nome é algo como Bruma e também Espuma do Mar), no sul da província de San Napolean, no Estado de Urdo. Eu já conhecia Ergatan; sabia de sua existência e da importância de seu porto e de suas embarcações. Mas até então eu não havia pensado em escrever uma história que se passasse lá (excetuando um certo evento; o qual está no futuro em relação aos acontecimentos abordados em Os Segredos dos Suna Mandís e que tem Ergatan como palco para o fim de uma outra história).

Talvez alguns fatos da minha infância também tenham me influenciado em outras escolhas que fiz para esta história; como a longa trilha que os personagens percorrem no inicio desta aventura. Também há o fato de que a dupla de personagens andarilhos sejam pai e filho.

Lembro-me das longas caminhadas que eu precisava fazer para ir trabalhar com meu pai; nesta época saíamos do bairro onde morávamos e tínhamos de cruzar um matagal para chegar ao nosso destino. O meu pai é pedreiro e na época eu era o seu ajudante. Eu adorava essas caminhadas, pois tendo nascido e sido criado em uma cidade, esta travessia era a oportunidade que eu tinha de ter algum contato com a natureza que eu sempre amei.

Claro, aquelas caminhadas da minha infância eram uma verdadeira aventura para o espírito juvenil e posso afirmar que elas me renderam muitas surpresas; algumas assustadoras e desagradáveis, algumas curiosas e outras muito agradáveis (como quando encontrávamos algum Teiú pelo caminho). Lembro-me inclusive de já ter cruzado caminho algumas vezes com um grupo de ciganos que não raro montava acampamento nas redondezas do matagal ao qual me refiro.

Mas é aí que as semelhanças terminam; meu pai não era como Edin, ele sempre esteve mais para um vilão diabólico no nosso universo doméstico do que para um sábio e esperto contador de histórias (bom, talvez ele também fosse bom em contar histórias, mas era ainda melhor em ser maligno e desagradável). Quanto ao matagal que eu tinha de cruzar; este não tinha quilômetros de extensão como o percorrido por Edin e Dion. Quando muito, eu percorria apenas uns dois ou três quilômetros no meio do mato.

Infelizmente hoje o matagal não existe mais. Ele foi cortado ao meio por uma grande rodovia e das duas extremidades que restara dele, uma virou cidade. A outra parte; a parte restante, ela ainda existe e é a parte na qual encontra-se um grande córrego. Não é muito, mas espero que esta parte de mata permaneça sendo preservada. Espero também que deixem de despejar esgoto neste córrego para que este possa um dia se purificar e voltar a dar peixes (como já deu no passado: um passado que eu cheguei a testemunhar).

Mas isto depende dos demônios serem expurgados do nosso mundo real, para que aquilo que está corrompido se purifique, se livre dos vícios e recupere a sua virtude original.

Dois andarilhos misteriosos em um vila sinistra

Infelizmente os Demônios só são expurgados com fogo (ou será que sou eu que gostaria de expurgá-los assim?).

Quanto ao meu pai, este é um vilão que hoje encontra-se vencido; não pelo Tempo, mas sim pelo próprio Ego. O Ego, este sim é um fogo terrível, invisível e lento, que consome a vida até que restem apenas as cinzas, ainda que o tempo não tenha se esgotado e as cinzas tenham que se arrastar numa existência sofrida até que o tempo enfim torne-se vento e às espalhe pelo campo estrelado da noite.

Qual é a mensagem em Os Segredos dos Suna Mandís?

Eu acredito que há tantas mensagens nesse livro quanto em qualquer outro, e isto quer dizer que há tantas mensagens quanto há leitores, pois cada um encontrará as mensagens que desejar encontrar lá. É assim com todo e qualquer livro, quando os lemos, projetamos um pouco de nós no livro e ele nos reflete como um espelho distorcido. Neste caso não cabe a mim dizer se há uma mensagem e qual mensagem é essa: isso influenciaria os leitores desnecessariamente. Cabe a cada um olhar nesse espelho distorcido e procurar nele o que quer que deseje encontrar ao longo da trilha que existe entre a primeira e a última página.

E quando é que eu vou publicar esse livro novamente?

Essa pergunta é muito boa... Mas ela também é um segredo dos Suna Mandís e, como eu não quero esses assassinos carismáticos no meu encalço, vou manter este segredo por mais algum tempo (apenas o suficiente para despistá-los).

Apesar do segredo ainda me impedir de revelar uma data, eu tenho o palpite de que a publicação irá ocorrer de forma serial em mais de uma plataforma e de forma sincronizada. E tudo isso será informado aqui neste Blog, afinal ele é o lugar ideal para obter informações sobre este meu Mundo Estranho e Sombrio.