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A criação de capas de livros sempre foi um desafio para autores independentes. Com a popularização da inteligência artificial, novas ferramentas surgiram, prometendo facilitar esse processo. No entanto, o uso da I.A. para gerar imagens levanta questões importantes sobre ética, direitos autorais e o impacto no trabalho de artistas. Neste texto, vou analisar os benefícios e os riscos de utilizar a I.A. na criação de capas de livros, e oferecer algumas reflexões para autores que estão considerando essa opção. Alerta de spoiler: mal comecei a usar I.A. nas capas dos meus contos e já estou abandonando a ideia.
Bem, mais de uma semana se passou desde o meu último diário de escrita.
Eu avancei um pouco no meu novo conto. Vou chamá-lo temporariamente de PROJETO NIX. No momento estou na terceira ou quarta versão do roteiro e, já em processo de escrita. Acredito que já mencionei anteriormente que o cenário desse conto é a região do Vale do Ribeira; um lugar que eu nunca visitei pessoalmente, mas que adoraria visitar. Mas, já estive em outros lugares da região da Serra do Mar, então tenho certa familiaridade com o clima da região.
Após terminar de escrever essa versão do roteiro, vou começar a revisar e lapidar o conto, corrigindo incongruências, adicionando detalhes necessários, descrições e tudo o mais que eu achar que deve compor a obra.
Daí sim vem a parte mais difícil: cortar e reduzir.
Por fim, revisar e revisar e revisar.
Mas a parte difícil já começou; na penúltima versão do roteiro, criei um encontro muito interessante entre a protagonista e uma misteriosa figura. Mas no roteiro novo, essa figura não se encaixa mais com a história. Eu não estou conseguindo criar uma conexão: na verdade, o roteiro novo não aceita outros personagens da forma que está. Eu deveria simplesmente cortar esse encontro, mas gostei mesmo do texto. Então, estou pensando em uma forma de aproveitá-lo da melhor maneira possível… Se é que vai ser possível. Talvez eu deixe para fazer disso um novo conto, ou talvez eu consiga pensar em algo, em algum momento… Quem sabe.
Enquanto isso, estou me debatendo mentalmente com uma questão sobre as capas: usar ou não usar geradores de imagens por meio de inteligência artificial para criar essas primeiras capas?
Eu não vou investir dinheiro nas minhas publicações, então, de qualquer forma, não é como se eu estivesse deixando de contratar algum artista humano para criar as capas desses contos.
E, para dizer a verdade, geralmente os escritores independentes não possuem recursos financeiros para investir em suas obras e, por isso, desde antigamente, quase sempre fazem tudo por conta própria (ou são patrocinados por alguém).
Com a evolução tecnológica, muitas coisas tornaram-se mais simples, inclusive, para quem faz as coisas por si mesmo. Hoje existem ferramentas que podem ajudar um escritor independente a levar sua obra até os seus potenciais leitores sem a necessidade de investir rios de dinheiro em impressão, distribuição e aluguel de prateleiras em livrarias. Isso não é uma propaganda da tecnologia do ebook ou das plataformas de autopublicação: é um fato. Essa tecnologia possui uma boa quantidade da filosofia do “faça você mesmo” ou DIY (Do It Yourself, no original em inglês).
Os geradores de imagem por I.A. são um exemplo mais recente de ferramentas desse tipo, mas há também uma série de outras ferramentas, mesmo indo além de coisas como as plataformas de autopublicação (Amazon KDP, Wattpad, Clube de Autores, etc), editores de imagens e plataformas de designer como o Canva, etc. Um exemplo que nos acompanha há algumas décadas são os próprios editores de texto, com seus corretores ortográficos embutidos: fico me perguntando se na época em que os corretores ortográficos foram inventados, os profissionais de edição de texto e revisores se sentiram ameaçados por essa tecnologia. Imagino que sim, pois nos mesmos moldes que vemos agora, estamos falando de uma tecnologia que foi inovadora para em seu tempo, simplificando e muito o trabalho de corrigir e editar um texto.
Claro, o trabalho de edição de um livro não se limita à correção ortográfica, mas isso é outra história — até mesmo por que, não existe certo e errado em edição de texto, falando de maneira geral. Um exemplo disso é que se “O Senhor dos Aneis” fosse escrito hoje e passasse pelas mãos de um profissional de edição, o livro final certamente não seria como o conhecemos e muita coisa preciosa que consta do original seria removida, como por exemplo, o icônico Tom Bombadil e talvez a passagem de Frodo pelas Colinas dos Túmulos…
Pensando por esse lado, a filosofia do DIY permite que os escritores independentes cheguem aos leitores sem o viés comercial das editoras. Mas, estou fugindo aqui do assunto…
Bom, então por qual motivo estou me debatendo sobre o uso de I.A. para gerar minhas capas? Aliás, as três primeiras capas da coleção Trópico Sombrio já foram publicadas com o uso de I.A., então, qual é o meu problema? Minha dúvida? Minha relutância em seguir usando as facilidades tentadoras da tecnologia? Já que a I.A. é apenas mais uma dessas tecnologias inovadoras para quem quer se preocupar em escrever, ao invés de ter de se preocupar também em criar uma capa?
Foi um comentário da minha esposa, a Lilian, que chamou a atenção para um ponto sobre o qual eu não estava olhando com a devida atenção: como esses geradores de imagem usando I.A. foram treinados para o trabalho de criação de imagens?
Simples, essas I.A.’s foram treinadas com o uso de enormes bancos de imagens disponíveis na internet. O ponto chave aqui é que boa parte desses bancos de imagem são gratuitos, mas não há como garantir que todas as imagens utilizadas no treinamento das I.A. provém desses bancos de imagens gratuitas. Afinal, há quem alegue que as imagens que estão disponíveis na internet, mesmo que não seja de forma gratuita, poderiam ser usadas no treinamento das I.A.s, visto que não há nenhuma lei que proíba o uso da imagem para tal fim. Afinal, como poderia haver uma lei para legislar sobre uma tecnologia que até então não existia?
Sendo assim, se um gerador de imagens usar as imagens disponíveis no Pinterest, por exemplo, eles não vão estar ferindo nenhuma lei diretamente, porém, isso não quer dizer que o desenho de um artista que divulga seu trabalho no Pinterest concorde que sua arte seja usada para treinar uma tecnologia que visa criar ferramentas que concorrem diretamente com a demanda por artistas humanos.
Se você perguntar a qualquer I.A. sobre o impacto do uso das imagens geradas por I.A. e seus aspectos éticos e legais tendo em vista o impacto no trabalho dos mais diversos artistas, verá que as próprias I.A. irão elaborar um texto que deixa claro que há muita polêmica e pontos não completamente esclarecidos sobre essa situação.
Eu concordo com minha esposa sobre essa questão, mas continuo pensando que se um escritor independente não possui outra forma de criar uma imagem de capa para o seu livro, o uso da I.A. é uma opção que esse escritor deve considerar. Agora, se esse escritor possuir meios de contratar um artista ou então, elaborar a capa sozinho, talvez esta seja uma opção melhor no contexto da publicação da sua obra, simplesmente porque o impacto da tecnologia dos geradores de imagem por I.A. ainda não está bem claro e a legislação em torno da mesma ainda não está consolidada.
Como eu tenho alguma habilidade com desenho (não o suficiente para desenhar uma capa, mas o suficiente para me dar algumas noções de como fazer isso), e alguma habilidade com edição de imagem (adquirida ao longo dos anos em várias das áreas do meu interesse: desde a produção das capas antigas dos meus primeiros contos, imagens para os meus jogos, etc), eu resolvi criar as novas capas para os meus contos usando as minhas habilidades. Claro, as capas não vão chegar aos pés de uma imagem gerada por I.A. e vão ficar ainda mais distantes de uma obra artística feita por um artista humano, no entanto, eu vou ter a certeza de que as capas dos meus contos não vão estar usando indevidamente; mesmo que de forma indireta, o trabalho de outros artistas.
Para as capas dos contos iniciais da coleção Trópico Sombrio, eu fiz algumas montagens usando fotos disponíveis gratuitamente na plataforma Pexels e Unsplash, além de algumas do próprio Canva (aliás, acho que o Canva usa as imagens do Pexels e Unsplash também).
Como eu sempre disse nas páginas do meu Diário de Escrita, ser um autor ou autora independente implica em ser um polímata, isto é, dominar diversas áreas além da escrita. É muito trabalho, de fato, para o pouco tempo livre que a grande maioria das pessoas possui. E acredite; criar capas, editar texto, etc, dá trabalho. Publicar vai muito além de escrever.
Para finalizar, deixo claro aqui que não sou contra o uso dos geradores de imagem por I.A., tanto que uso imagens geradas por I.A. para ilustrar as postagens daqui do Blog. Além disso, se você usar essa tecnologia em parte da sua obra, nem que seja só a capa, deixe isso claro. Aliás, pelo que vi, a Amazon já exige que os autores informem o uso ou não de I.A. para criar seus trabalhos, seja na capa, no texto, etc.
Acho que o resumo dessa ópera é: o uso dessa tecnologia deve ser pensado com o máximo de responsabilidade. E neste contexto, os autores independentes devem decidir quais caminhos seguir e ter bastante claro em suas mentes o motivo de terem escolhido um determinado caminho nesse labirinto de decisões que a autopublicação envolve. Na verdade, o uso de qualquer tecnologia deve ser feito com o máximo de responsabilidade.
Vou ficando por aqui, mas volto em breve, com as novas capas geradas por mim mesmo e com o meu progresso no PROJETO NIX.