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Jurupari o Demônio dos Sonhos da mitologia brasileira
Todos os que tem algum conhecimento sobre cultura pop já ouviram falar de criaturas terríveis e poderosas que reinam sobre os sonhos das pessoas. Eu poderia citar Sandman, pensando em uma entidade poderosa (e que não é necessariamente nem boa e nem má). Eu também poderia citar Freddy Krueger de “A Hora do Pesadelo”, pensando em um ser maligno e homicida que é capaz de matar suas vítimas em seus próprios pesadelos.
Mas acontece que muito antes da cultura pop lançar mão de histórias em quadrinhos e filmes de terror — e quando digo muito antes, eu me refiro a um período que está a séculos no passado — os povos antigos já tinham suas próprias entidades poderosas e terríveis que aterrorizavam os sonhos das pessoas muito antes da invenção da eletricidade e das modernas tecnologias de impressão e encadernameno.
Eu não sou um especialista na área. Na verdade, eu não passo de um entusiasta que busca inspiração em lendas sombrias dos povos antigos. Por isso vou falar um pouco (até onde meu vago conhecimento permite) sobre o demônio dos sonhos que aterrorizava os povos ancestrais na América do Sul. Isso mesmo, se você achou que visitariasmos a Europa ou a Ásia em busca de um demônio dos sonhos, se enganou. Não precisaremos atravessar nenhum oceano hoje… Por outro lado, a América do Sul é imensa, bem como a quantidade versões sobre esta entidade chamada Jurupari.
As várias faces do Jurupari
A lenda de Jurupari é fascinante e envolve a figura de um deus da escuridão e do mal que visita os índios em seus sonhos. Nessa versão mais conhecida, Jurupari assusta os indígenas com pesadelos e presságios terríveis, impedindo-os de gritar. Essa restrição causava, por vezes, asfixia nas vítimas, gerando um grande temor e mistério em torno dessa entidade. O povo Mawe inclusive acreditava que o Jurupari era o próprio mau (algo semelhante ao que vemos na lenda de Tau e Kerana, em que Tau é visto como a personificação do próprio mau) e que gerou outros demônios, como os Anhangás e os Mapingarys.
O significado do nome Jurupari é bastante significativo e sugestivo. Ele pode ser traduzido como "aquele que cala", "que tapa a boca" ou até mesmo "aquele que visita nossa rede de descanso". Essas interpretações adicionam um aspecto sinistro à figura de Jurupari, reforçando sua conexão com os pesadelos e o medo que ele provoca.
Curiosamente, os jesuítas tiveram um papel importante na propagação dessa versão da lenda. Alguns até mesmo afirmam que foram eles que a criaram, aproveitando-se do fascínio e da necessidade de explicações dos indígenas em relação aos seus sonhos assustadores. Essa versão da lenda foi prontamente aceita pelos indígenas, que buscavam entender o motivo de seus pesadelos.
No entanto, o folclorista Luís Câmara Cascudo traz uma visão interessante sobre a concepção de Jurupari como uma criatura dos pesadelos. Para ele, essa ideia é um amálgama de lendas europeias e africanas, inventadas pelas amas de leite com o intuito de controlar o comportamento das crianças. Essa perspectiva nos faz refletir sobre a influência de diferentes culturas na formação das lendas indígenas.
Em suma, a lenda de Jurupari é uma narrativa envolvente que mistura elementos de escuridão, medo e mistério. Sua figura como o deus da escuridão e do mal que visita os índios em seus sonhos, assustando-os com pesadelos e impedindo que gritem, desperta curiosidade e fascínio. É uma história que revela a riqueza e complexidade das lendas indígenas e sua conexão com outras tradições culturais.
Mas existem outras versões dessa lenda entre as várias etnias indígenas espalhadas pela América do Sul. Nas regiões amazônicas, por exemplo, há uma visão de que Jurupari é uma espécie de “héroi” civilizador ou um legislador: um homem sábio e com poderes divinos, enviado por Guaraci (o deus do sol) para ensinar a forma correta de viver para os homens. Segundo essa visão, podemos ver em Jurupari uma lenda divisora de águas, pois como legislador, a função de Jurupari era mudar a sociedade através de seus ensinamentos, transformando a sociedade matriarcal de então em uma sociedade patriarcal.
E não para por aí, a quantidade de versões e descrições de Jurupari são muito variadas e há relatos que o mencionam como um caboclo medonho, vingativo e cruel e que estava sempre rindo com a sua boca torta. Também já foi descrito com um bebê invisível, como um espírito e até mesmo como uma cobra com muitos braços.
Meu objetivo com essa pesquisa:
Fiz algumas pesquisas sobre mitologia indigena nos últimos dias. Em especial sobre entidades como a Ticê, o Anhangá ou Angá, o Mapinguary e o Jurupari de quem vou falar hoje. Destaco que a maioria das minhas fontes são artigos da wikipédia, blogs e sites especializados na área. Com isso quero dizer que o meu estudo sobre o assunto não se trata de uma pesquisa acadêmica e infelizmente não inclui (ainda) livros especializados na área. Mas pretendo consultar em breve pelo menos alguns livros que tenho em casa do escritor e folclorista Luís Câmara Cascudo (seus livros podem me ajudar, com toda a certeza) e eu os recomendo a qualquer um que esteja buscando fazer um estudo mais sério sobre o assunto.
Já o meu interesse particular nessa pesquisa é conseguir material para o conto que estou escrevendo… Na verdade, reescrevendo. Estou dando vida nova para o conto A Rua dos Anhangás, que é levemente inspirado na mitologia guarani. Bom, ele continuará sendo levemente inspirado na mitologia dos povos indígenas, porém creio que os elementos presentes serão muito mais ricos nesta nova versão. A trama está se tornando mais densa e a coisa toda está assumindo formas que eu não previa… Do jeito que eu gosto.
Este conto vai se chamar (provavelmente) Vila Santa Morte: Vias Sombrias e ele é uma fantasia sombria e urbana, que mistura elementos míticos das culturas indígenas brasileira com lendas urbanas e uma boa dose de violência e horror. Claro que não poderia faltar um elemento que eu adoro colocar em meus textos: mistério.
Obrigado pela sua atenção e nos vemos na próxima lenda!
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