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Antes de mais nada, eu preciso dizer que se eu tivesse que resumir esse animê em uma só palavra, esta seria: emocionante.
Pluto é uma daquelas histórias carregadas de temas complexos, explorados com uma sensibilidade tão certeira e apurada que poderia ser comparada a um bisturi emocional. O animê é repleto de episódios e momentos emocionantes, mas o que mais me surpreendeu foi o primeiro episódio e vou dar alguns spoilers sobre ele nesse texto. Além disso, em um mundo em alerta com o tema da Inteligência Artificial, com ferramentas como o ChatGpt preocupando trabalhadores e artistas quanto ao futuro de seus empregos e sobre indagações como "robôs podem fazer arte?" e "robôs vão roubar empregos?", certamente esta é uma história muito relevante.
Mas primeiro vamos a uma rápida resenha com informações gerais sobre Pluto...
Resenha
Pluto é um animê da Netflix baseado no mangá homônimo de Naoki Urasawa, que por sua vez é uma reinterpretação do arco “O Maior Robô da Terra” do clássico Astro Boy de Osamu Tezuka. A série conta a história de Gesicht, um detetive robô da Europol que investiga uma série de assassinatos dos robôs mais avançados do mundo e humanos ligados a um comitê que foi responsável por investigar o país chamado Pérsia à respeito da existência de robôs de destruição em massa, levando esse país a uma guerra catastrófica mesmo sem a existência de provas concretas sobre a existência desses supostos robôs de destruíção em massa. O assassino, no melhor estilo "serial killer" sempre deixa uma assinatura peculiar nas cenas do crime: um par de cifres improvisado com o que estiver à mão no local: galhos, vigas meálicas, braços, etc. Em meio à sua busca pelo culpado, Gesicht se depara com Atom, um robô avançado que questiona sua própria identidade e emoções. Ele também entrevista um prisioneiro robô; Brau-1589, sobre suas suspeitas acerca do assassino e Brau, por sua vez fala que haviam vários deuses na europa, os quais possuíam chifres; como Hades, senhor do submundo na mitologia grega e sua versão Romana: Pluto. Certamente Brau sabe muito mais do que revela com suas frases misteriosas e sarcásticas, às quais se propõe a provocar o detetive robô; pois segundo Brau, Gesicht sabe do que se trata a série de assassinatos. O que será que ele quer dizer com isso? Em sua busca, Gesicht descobre uma conspiração que ameaça a paz entre humanos e robôs e que envolve o misterioso robô chamado Pluto.
Pluto é um animê que aborda temas como a inteligência artificial, a ética, a identidade, a memória, a guerra, a violência e a arte. Inclusive, na sua crítica à guerra, o animê faz referência à invasão real do Iraque pelos EUA em 2003, embora o nome dos países apareça de forma alterada: Estados Unidos da Trácia e Pérsia são os nomes utilizados pela obra. A série explora as complexidades e os dilemas dos robôs, que possuem personalidades, sentimentos e aspirações, mas que também são vistos como ferramentas, armas ou ameaças pelos humanos. A série também mostra como os robôs podem se relacionar com os humanos, seja como amigos, inimigos, aliados ou rivais. Além de mostrar que em algum momento, os robôs não só serão tão parecidos com os humanos em aparência, como também em suas personalidades e "consciências robóticas". Inclusive, recomendo uma visita na página da World Robot Conference e nesse vídeo do Youtube que mostra alguns robôs na WRC de 2023 que facilmente te fariam acreditar se tratar de uma pessoa de verdade se você apenas os visse de longe andando na rua.
Inteligência Artificial Aliada
Um dos exemplos mais interessantes dessa relação é o que ocorre entre Paul Duncan, um gênio da música idoso e aposentado, e North Número 2, um robô mordomo que foi criado para ser um soldado e que participou do trigésimo nono conflito da ásia central; conflito este que será citado ao longo de toda a obra e que une todos os envolvidos na misteriosa e sombria trama. Alerto que darei alguns spoilers sobre o primeiro episódio ao falar da relação entre o músico idoso e seu mordomo robô. No primeiro episódio do animê, vemos como os dois se conhecem e como evoluem de uma relação de desprezo e desconfiança para uma de respeito e admiração. Paul Duncan, que sofre de um bloqueio criativo, inicialmente rejeita North Número 2, dizendo que nada que venha das máquinas pode ser considerado arte verdadeira. No entanto, ele muda de opinião quando North Número 2 revela que viajou até a terra natal de Paul Duncan para aprender sobre as músicas típicas da região e para ajudá-lo a recuperar suas memórias perdidas de sua infância e de sua mãe. Graças à inteligência artificial e ao acesso rápido aos dados, North Número 2 consegue encontrar a música que Paul Duncan cantarolava em seus sonhos, mas que não conseguia lembrar ao acordar. Essa música era a chave para que Paul Duncan pudesse superar seu bloqueio criativo e concluir sua obra-prima.
Esse episódio mostra como a inteligência artificial pode ser um auxiliar para as pessoas, melhorando sua qualidade de vida e inclusive auxiliando em processos criativos. North Número 2 não é um concorrente ou um inimigo de Paul Duncan, mas sim um grande aliado que o ajuda a encontrar respostas para suas dúvidas e bloqueios. Além disso, o episódio mostra como a inteligência artificial pode ter curiosidade, vontade e sensibilidade, características que normalmente associamos aos humanos e à arte. North Número 2 quer aprender a tocar piano, não por uma ordem ou por uma programação, mas por um desejo próprio de se expressar e de se afastar da guerra. Ele também demonstra emoções como medo, tristeza, alegria e gratidão. Ele é, portanto, um personagem que desafia os limites entre o humano e o robótico, entre a arte e a máquina.
A desconfiança com que os robôs são vistos e a acusação de que eles roubam empregos humanos (não apenas nas áreas operacionais, como também criativas) são temas bastante atuais no mundo real e esse primeiro espisódo, na minha opinião, dá um exemplo de como a Inteligência Artificial e os Robôs podem coexistir de forma saudável com os humanos. O animê irá abordar isso em outros episódiso e sobre outras óticas. Creio que todos os que estejam preocupados, zangados ou entusiasmados com tecnologias como o Chat GPT, R.P.A.'s, Bard, entre outros exemplos do uso de I.A. no dia-a-dia, vão gostar dessa série e das perspectivas e questionamentos que ela traz com seu enredo.
Particularmente, eu acredito que o verdadeiro potencial da Inteligência Artificial (ou robôs) não está na "substituição das pessoas por máquinas" e sim na parceria entre estes dois atores: humanos e máquinas trabalhando de forma cooperativa para superar barreiras e limites em prol de seus objetivos. Agora, se estes objetivos serão bons ou ruins, isso ainda é uma questão que depende dos atores humanos envolvidos no processo. Afinal, como qualquer tecnologia, esta pode ser empregada para fins maléficos.
Também acredito que, no futuro, questões morais e filosóficas serão debatidas pelas pessoas à respeito de inteligências aritificiais cada vez mais avanças; tão avançadas que talvez tenhamos dificuldades em diferencia-las de consciências humanas. Isso nos faz questionar: se um robô atingir uma inteligência tão avançada que se pareça com a nossa, quem nos garante que ele seguirão sua programação?
Neste ponto eu gostaria de chamar a atenção para o meu personage favorito em Pluto: o velho Brau-1589.
Sim, apesar de um roteiro cheio de personagens carismáticos, sensíveis e profundos, eu ainda consigo eleger o meu robô favorito nesta obra: Brau-1589, um robô misterioso e sarcástico, aparentemente aprisionado pelos humanos no subsolo durante oito anos, após Brau-1589 assassinar um humano (este é o primeiro caso conhecido de um crime cometido por um robô). O problema é que robôs não deveriam ser capazes de ferir ou matar humanos, pois eles são programados para NÃO fazer isso em hipótese alguma. Ainda assim, Brau-1589 mata uma pessoa, por vontade própria em circustâncias não reveladas pela obra. Após ter sua inteligência artificial estudada pelos peritos humanos, nenhum defeito foi encontrado em Brau. Após esse choque, as pessoas trancam Brau no subsolo, talvez para poder estudá-lo no futuro e com medo do que descobriram à respeito das Inteligências Artificiais avançadas que criaram à imagem e semelhança de seus criadores (talvez semelhantes até demais). Brau-1589 é um daqueles personagens intrigantes e complexos, que tem uma visão crítica e profunda sobre o mundo e sobre si mesmo e que aparecem na trama como uma pista empolgante e emocinante, não apenas sobre o roteiro no qual está inserido, mas talvez sobre nós mesmos. Perguntar qual é o defeito em Brau é o mesmo que perguntar o que é que nos torna humanos.
Enfim, Pluto é um animê que nos faz refletir sobre a inteligência artificial e a arte, e sobre como elas podem se influenciar e se complementar. A série nos apresenta um mundo futurista, mas também nos convida a olhar para o nosso presente e para as questões que envolvem a convivência entre humanos e robôs. Pluto é uma obra que nos faz pensar, sentir e imaginar, e que nos mostra que a arte pode vir de qualquer lugar, até mesmo de um robô.
Realidade ou ficção
Não adianta se esconder em uma toca ou em um abrigo nuclear; os robôs já estão entre nós há bastante tempo e a inteligência artificial não é uma tecnologia tão recente quanto imaginamos. Desde assistentes como a Siri e a Alexa, passando por robôs ultrarealistas como os da WRC de 2023, entre outros como o robô Ameca. Mas, além dessas Inteligências Artificiais mais visíveis e perceptíveis, os humanos já usam essa tecnologia em soluções de software que nós sequer notamos ou paramos para refletir sobre o assunto: desde o GPS descobrindo a melhor rota em seu carro ou smartphone, aprensetação de publicidade na internet, reconhecimento facial, câmeras de vigilância, diagnóstico médico, controle de estoque, etc. Enfim, a inteligência artificial é uma tecnologia já presente em nosso cotidiano e como qualquer outra tecnologia, o melhor que temos a fazer é aprender sobre ela e como podemos fazer o melhor uso dessa tecnologia para facilitar nossa vida...
Quem sabe até possamos pensar em usar essa tecnologia até para resolver os grandes problemas da humanidade: um exemplo simples e atual é o aquecimento global. No entanto, a solução para alguns problemas não se trata de ter tecnologia disponível para isso e sim de vontade humana para resolver o problema. Quem aí for humano vai saber por qual motivo alguns problemas não são solucionados, mesmo quando há tecnologia disponível para isso.
Mas, como diria o ChatGpt ou o Bard: esta conversa talvez tenha começado a ficar estranha e, por isso, vou encerrar esta conversa por aqui...
Até o próximo programa 🤖