🎧 Caravana Sombria

Não, não vá por aí.  Não seja tolo.  Em uma grande caverna na montanha vive um ogro.  Ele parece um sujeito cortês,  mas não se engane,  é um Ogro Montês.  Não ultrapasse os limites do vale.  Se algum estranho falar com você,  não responda,  não fale.  Não suba muito alto na montanha.  Lá acontece muita coisa estranha.  Esse Ogro é perigoso (qual não é?).  Você não quer correr riscos (É verdade ou não é?).  Histórias ele irá te contar e com isso irá te hipnotizar.  Quando perceber, já não haverá volta; o Ogro terá te levado para o fundo de alguma de suas tocas.  Claro.  Tudo isso é bobagem.  Não dê muita atenção a estes avisos...  Afinal,  nesta vida, não ganha grande coisa,  quem não corre alguns riscos...

Monstros também tem voz

As pessoas buscam pelo sobrenatural desde que se deram conta de suas consciências. Não importa se o buscam na religião, na ciência, em crenças antigas ou modernas; é fato que o Sobrenatural faz parte de nossas almas. Sempre gostei de criaturas sombrias, estranhas e incompreendidas. Elas são reflexos de nosso próprio espírito e do nosso desejo de explorar o desconhecido.

Pensando nisso, em algum momento me vi perguntando: por qual razão os monstros nunca protagonizam as histórias? O que eles diriam, se eles próprios dessem a sua versão dos fatos? E foi assim que um certo Ogro nasceu, nas cavernas do nebuloso Monte Silva, cercado por florestas tropicais e vales sombrios. Esse Ogro não é como os outros. Ele gosta de livros, gosta de contar histórias e apreciar a paisagem silvestre de sua casa... Mas não se engane: ele é um monstro, um daqueles que habita o subterrâneo escondido em todos nós.

Aqui, darei vida a esse meu Ogro Subterrâneo, para que ele, o "Monstro" por natureza e "Pária" por escolha, conte suas crônicas e fale sobre sua gente; a vastidão inumerável de monstros que habitam o mundo, da perspectiva dos próprios monstros.

 Se também anseia por mundos fabulosos, junte-se a mim nesta Caravana Sombria.

Primeira Temporada: Piloto

A primeira temporada desse podcast possui alguns episódios pilotos, onde trechos do livro "Os Dois Suna Mandís e o Fantasma da Mortalha de Fogo", que na época do lançamento dos episódios foi publicado como um projeto experimental sobre o título “Os Demônios de Ergatan”.

Nesta temporada estão inclusos também dois episódio do “Arquivo Umbra: quotidiano sombrio”, que fazem parte do "meta-universo" expandido de outro livro, "A Rua dos Anhangás", que apesar de já ter sido publicado, está passando agora por um processo de revisão, para a sua expansção com novas histórias, além da história original, o que inclui o conteúdo dos episódios do Arquivo Umbra.

Apesar de tudo, a Primeira Temporada está encerrada, pois serviu ao seu propósito: ensinar a este escritor que acumula passa tempos e projetos como se faz (tecnicamente) um podcast.

Episódios da primeira temporada

O livro Os Dois Suna Mandís está disponível na íntegra no Wattpad.


Segunda Temporada: Bestiário dos Monstros

Aqui o Ogro do Monte Silva assume o controle da Caravana Sombria, levando os viajantes perdidos para os subterrâneos de suas cavernas e galerias para lhes narrar as histórias de inumeráveis monstros que vagam pelo mundo e pela alma humana.

Episódios da segunda temporada


Em breve:


Sobre o narrador do Bestiário dos Monstros

Um pouco sobre quem sou eu… Ou sobre quem eu não sou… Entendam como preferirem…

Muitos termos curiosos foram inventados ao longo do tempo para designar coisas ou seres diferentes daquilo que se considera normal em um grupo. Por exemplo, em uma aldeia cheia de pessoas "normais", de repente surgiu uma pessoa muito baixa. Todos os "normais", desde então, combinaram entre si que os baixinhos tinham que ser chamados de Anão.

Mas é claro que o termo Anão, sendo genérico como é, foi usado ao longo do tempo para designar muita coisa diferente. Pessoas de estatura considerada baixa, gnomos, duendes, senhores das minas das montanhas e até mesmo gigantes foram considerados uma raça de anões por uma raça de lagartos radioativos ainda mais gigantescos.

Enfim. Termos são curiosos, pois eles podem significar muita coisa; até mesmo algo contrário ao próprio termo. Como aquele amigo alto e forte do Robin Wood, que se chama João Pequeno.

Com os termos "Bruxa" e "Monstro" não é diferente. São dois termos bastante comuns e são usados das formas mais variadas possíveis.

Um homem ou uma mulher muito habilidosos em uma área podem ser chamados de "Bruxo" ou "Bruxa". Pessoas com habilidades especiais também podem receber essa alcunha. Pessoas que praticam alguma religião desconhecida em um lugar, podem ser chamados de "Bruxo" ou "Bruxa" nesse lugar e suas práticas religiosas chamadas de "bruxaria". Até mesmo pessoas com alguns gostos peculiares (como passear em cemitérios) ou capacidades estranhas (como manter uma conversa enquanto dormem) podem ser assim classificadas. E claro, Bruxos e Bruxas também podem ser chamados dessa forma.

O termo monstro então, nem se fala. Qualquer pessoa terrível pode receber essa alcunha. Pessoas muito habilidosas em algo também. Sem contar as pessoas de índole duvidosa; estas também são chamadas de monstros em algumas situações. E também pessoas de caráter nobre podem ser chamadas de monstros; basta que alguém se beneficie disso. E claro, os monstros em geral também podem ser chamados de monstros; e quase sempre também são seres terríveis e habilidosos — mas a verdade é que os monstros de verdade raramente são reconhecidos corretamente pelo termo que de fato os designa, pois são mestres em confundir as pessoas tolas, ou seja, quase todo mundo.

Agora, talvez você esteja se perguntando: por que esses dois termos em especial têm importância?

Ora, e porquê qualquer coisa teria importância? Simples: porque escolhemos lhe dar importância.

No meu caso, escolhi dar alguma atenção ao estudo desses termos, porque eles estão ligados às minhas raízes e porque eu sempre dei importância ao significado das palavras (e ao não significado também). Cresci lendo um grande Dicionário velho que meus pais mantinham em casa, cujas páginas amareladas tinham as bordas douradas como em um grande Grimório repleto de mistérios… De fato, talvez este tenha sido o primeiro Grimório que toquei com minhas patas.

Minha mãe é uma Bruxa e meu pai um Monstro (sob muitos aspectos). E talvez por isso eu seja um tanto peculiar. Muito bruto para fazer poções, alguns dizem; muito letrado e cavalheiro para caçar e desossar pessoas, dizem outros. Mas quase sempre, os "outros" nunca sabem do que estão falando. Por isso não aconselho a se informarem a meu respeito perguntando aos outros (ainda que esse método seja o preferido de todo mundo).

O que eu acho sobre o assunto é o seguinte: nunca me achei desajustado; pelo contrário, sempre tive a certeza de que o mundo é meio torto e claustrofóbico; um grande paradoxo esquizofrênico. Fazer o que? Um louco, aos seus próprios olhos, é são (além disso, não se engane: sou muito bom com poções, só tenho um gosto peculiar para os temperos; e posso desossar uma pessoa com a mesma facilidade com que um macaco descasca uma fruta, eu apenas evito chamar a atenção e convenhamos, nada chama mais a atenção pública do que um sujeito feito em pedaços).

Além disso, devo dizer que tenho a prova de que não há nada de errado comigo: sempre gostei das montanhas, das florestas e de uivar para a lua cheia. E quem não gosta? Se isso não conta como "ser normal", então "ser normal" não vale grande coisa.

Mas não sou um bruxo, nem um monstro. Estou mais para um Bárbaro, um Selvagem, um Pária, um EstranhoExcêntrico, ou um Ogro. Todos esses termos têm algo em comum… A estética do bem, do mal e do estranho pinta como belo tudo aquilo que está de acordo com o Sistema e, pinta de Feio tudo aquilo que está contra o Sistema e, por tanto, é considerado “mau”. O termo Ogro, por exemplo, também pode ser aplicado a um leque amplo de designações. É quase um sinônimo de “Monstro”, mas possui leves sutilezas que a diferenciam… Esse termo, aqui, nesse texto peculiar e enviesado por minha ótica particular, refere-se a um filho de Bruxa com Monstro; um monstro fabuloso e mágico; e que pode se metamorfosear em todo tipo de fera conforme seu estado de humor (desde um lobo feroz e de semblante sombrio, um lagarto rebelde com humor ácido, ou então em um aventureiro bárbaro e inquieto demais para deixar passar a chance de se embrenhar em terras ou mares selvagens e desconhecidos), mas que não chega a ser demoníaco (apesar do que dizem ao meu respeito) e nem aprecia passeios em cemitérios (contrariando a tradição da família). Aqui, o termo Ogro também se refere a uma criatura selvagem, no sentido de "silvestre", isto é, que detesta ambientes urbanos. Mas uma criatura suficientemente culta para manter uma biblioteca em sua toca, e coleções de grimórios e pergaminhos antigos em suas masmorras. E sou um Ogro do tipo Montês porque gosto das montanhas — afinal elas são ótimas para meditar e para levar uma vida longe das pessoas. Não digo uma "vida solitária", pois há toda uma horda de criaturas vivendo nas montanhas; mas não pessoas (a maioria delas acha difícil viver lá).

Sendo redundante, moro em uma longínqua, hostil e exuberante montanha: o Monte Silva, que se destaca de uma imensa cordilhera por um vale e é cercado por uma vasta e misteriosa floresta. As pessoas das vilas próximas apontam para mim e gritam “um Ogro Montês”, mas meu nome é Éder; palavra que se originou de um idioma antigo, de uma terra distante, e que significava em sua origem algo como “Ermo” ou “Terra Selvagem” — mas podem me chamar como preferirem, provavelmente não darei importância para isso.

Sou alérgico às multidões; pessoas tolas me dão vertigens e náuseas — infelizmente as pessoas tolas estão em toda parte. Por isso que eu procuro evitá-las sempre que possível. Raramente desço de minha caverna na montanha para ir à vila, mas quando não tem jeito, vou disfarçado, pois assim evito aqueles olhares curiosos e também evito àquelas pessoas estranhas que gostam de puxar conversa; quase sempre sobre temas enfadonhos e aleatórios e que dão vontade de desossa-las — só um pouquinho — para que me deixem em paz.

Apesar de raramente ir à vila, eu viajo com maior frequência para passear além das montanhas mais altas do leste; as duas últimas colunas das esquinas do mundo. Passando por elas é possível visitar outros mundos. Também faço essas viagens disfarçado, é claro; pois isso torna tudo muito mais prático. Nestas ocasiões, como um observador atento, testemunho muitas histórias realmente admiráveis.

Sei que nem todos sabem o caminho para ir além das duas montanhas mais altas do leste; ou possuem a disposição física necessária para isso — é uma viagem longa e árdua e as terras nestas montanhas e nos vales na planície entre elas são bastante hostis. Por isso pensei que seria legal da minha parte contá-las para as pessoas da vila ao pé da “minha” montanha — sei que não gosto de multidões, mas as pessoas que gostam de boas histórias raramente andam em bandos, são inteligentes e ao contrário das pessoas tolas, elas não me dão alergia.

Claro, o preço é camarada; um pouco da alma e do espírito dos ouvintes em troca de um entretenimento de primeira... Brincadeira. Brincadeira. A alma e o espírito das pessoas não tem serventia para mim; ao menos não sem antes engordar estas almas e espíritos, recheando-as com histórias incríveis.

Se alguém estiver passeando pelas terras deste Ogro, tome cuidado, fique atento e evite ultrapassar os marcadores de pedra como se a sua vida dependesse disso — pois ela depende… Depois não diga que eu não avisei. Os bichos nesta montanha (e também algumas árvores) são hostis com invasores e eu mesmo não gosto de topar com desconhecidos por aqui. Mas há um lugar em que podemos nos encontrar com certa tranquilidade; uma clareira próxima ao vale que fica ao pé da encosta oeste da montanha, onde há uma praça rústica no centro da qual às vezes arde uma grande fogueira. Podemos nos reunir em torno dessa fogueira no fim da tarde para que eu possa (se estiver disposto) falar um pouco sobre as histórias que já vive, vi e ouvi por aí — ou talvez eu apenas às escreva para que vocês peguem os pergaminhos e os leiam vocês mesmos no conforto de suas casas. E assim, atravessaremos o serão da noite viajando do jeito antigo; deixando o corpo relaxar enquanto a mente cria asas e voa para longe...

— Um Ogro Subterrâneo



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