Jack O'Lantern, Monstro do Halloween: Quem é o Pária Condenado que deu origem à Lenda?
Jack O'Lantern: Quem é o Pária Condenado que se Tornou o Primeiro Monstro do Halloween?
I. O Encontro Inesperado no Monte Silva: A Proximidade do Samhain
O sol desceu rápido hoje, engolido pela névoa fria que se arrasta sorrateira pelo vale ao pé do Monte Silva. Posso sentir, nos ossos, o cheiro de turfa queimada e decomposição. É o Samhain, viajante, o dia em que o véu entre o que é e o que não é fica fino. E o uivo dos lobos alados é o som da noite que ecoa pelas encostas e vales sombrios.
Parei por um instante no topo. As lanternas de abóbora que alguns tolos acendem brilhavam lá embaixo, nos pequenos vilarejos. Deixei as minhas, claro, propositalmente apagadas. É uma cortesia. Jack é um velho conhecido.
Foi então que os vi. Quatro pares de olhos arregalados, espreitando a boca da minha caverna. Um pequeno grupo perdido.
— Não precisam ficar aí fora, o ar está gelado — eu disse. — Perigos? O Monte Silva é selvagem, mas a caverna é minha.
Aceitaram o convite. Enquanto os guiava pelos túneis úmidos, um deles perguntou sobre o Halloween.
— É um dia de travessia. E o melhor é que talvez tenhamos uma visita especial hoje. Vocês já ouviram falar de Jack O'Lantern?
Ouvi um murmúrio de confirmação.
— Não o bastante — retruquei. — Poucos conhecem a história de Jack nos detalhes.
Chegamos à câmara de estar. Acendi o braseiro central.
— Acomodem-se. Tenho café quente e forte. E o hidromel está ali no barril, que só reservo para as visitas. Sirvam-se.
Enquanto o braseiro arde, retomo a história.
II. Stingy Jack: A Traição Sombria da Astúcia
Todo monstro é, no fundo, uma história de escolhas catastróficas. Jack não tinha poderes. Sua única habilidade era a astúcia.
O nome verdadeiro do nosso monstro original é Stingy Jack – Jack, o Avarento. A lenda floresceu nas tabernas úmidas da Irlanda, a partir do século XVII, como um aviso severo sobre a falta de caridade e a vida desregrada.
Stingy Jack era a escória. E foi a essa escória que o próprio Diabo apareceu. Acho engraçado as histórias sempre dão a entender que o diabo gosta dos excluídos e marginais.
Jack o enganou, transformando o Diabo em uma moeda de prata e prendendo-o em sua carteira com um crucifixo. O Diabo foi obrigado a prometer não importuná-lo por dez anos.
Um som agourento de correntes arrastando soou do túnel lateral. O semblante de todos de repente ficou em alerta e o mais jovem deu um salto.
— O que foi o quê? Isso? — Eu o encarei, mantendo o tom calmo. — Isso deve ser o vento nas galerias, carregando o ruído das minhas forjas. Não se preocupem.
Continuei:
— Anos depois, o Diabo voltou. Jack, com a mesma malícia, o convenceu a colher uma maçã no alto de uma árvore. Assim que o Diabo subiu, ele talhou uma cruz no tronco. Humilhado e furioso, o Diabo foi obrigado a um juramento irrestrito: ele jamais levaria a alma de Jack, não importando as circunstâncias...
Uma das garotas murmurou.
— O quê? Acha que ele se deu bem nessa história? Ele certamente evitou o inferno, mas eu não diria que ele se deu tão bem quanto esperava.
Mas é claro que a morte chega para todos. O álcool, dizem, adiantou a de Jack.
III. O Monstro Sem Lar: A Condenação da Alma Vazia
E qual vocês acham que foi o destino do trapaceiro?
Ele subiu até portões de entrada do Céu. Mas sua vida de malícia o impediu de entrar. Então ele desceu aos portões de entrada do Inferno. O Diabo, vingativo, apenas riu e o lembrou da promessa solene. Ele jamais levaria a alma de Jack.
Jack, o Pária, estava condenado ao limbo. Não tinha para onde ir.
O Diabo, em um último ato de sarcasmo, atirou-lhe uma brasa ardente do Inferno. Jack usou este fragmento de danação, colocando-o dentro de um nabo oco. A brasa do inferno dentro de um vegetal podre.
A lenda de Jack se encaixou perfeitamente no cenário sombrio do Samhain, o festival celta do fim da colheita, quando o véu entre os mundos era mais tênue. Jack, com sua luz errante, se tornou o símbolo perfeito do vagante eterno.
— O quê? Estão com pena do meu velho amigo? Saibam vocês que Jack é um verdadeiro monstro e vocês não desejariam que ele entrasse no caminho de vocês em uma trilha erma como as dessa montanha, ou de outros lugares pelo mundo...
A Natureza da Luz Fátua: O Domínio do Engano
É verdade que Jack não tem superforça ou garras. Sua manifestação é a luz espectral. Ele é o que as pessoas chamam de Ignis Fatuus, Fogo Tolo ou Fogo Fátuo. Mas a astúcia é o seu dom mais tenebroso.
Meu velho amigo é uma luz que ilude. Seu Fogo Fátuo é um brilho fantasmagórico que flutua sobre os pântanos tenebrosos e escuros, onde a umidade e a decomposição criam uma atmosfera traiçoeira. Nesses lugares, Jack atrai e guia viajantes perdidos; como vocês, para fora do caminho, conduzindo-os à perdição e ao lodaçal. Os relatos antigos descrevem sua luz como dançante e rápida. Quantos esqueletos jazem nas profundezas pútridas dos pântanos por causa de Jack? Eu não teria pena dele, se estivesse em suas peles sensíveis e dependesse de ossos tão frágeis para escapar de uma das armadilhas de Jack...
A propósito, atrair pessoas para pântanos não é a sua única especialidade... Qualquer armadilha mortal pode ser o destino derradeiro para alguém que foi enfeitiçado pela luz infernal da lanterna de Jack, desde um precipício escuro, até um bosque habitado por lobos ou por coisas piores...
Mas é verdade que Jack prefere os pântanos. As terras úmidas e pantanosas são o reflexo do seu castigo. É o lugar onde a terra e a água se misturam em um ambiente instável, assim como sua alma, presa entre a vida e a morte.
Ouvimos um grunido ainda mais alto, vindo agora de um túnel mais próximo. O viajante com o punhal o apertou na mão sem imaginar o quão inútil era aquela lâmina no lugar em que estava.
— Isso não é nada! — Eu o encarei. — É só o meu mascote. Ele está hibernando e, às vezes, sonha que está devorando um bom naco de carne e faz esses ruídos... Mas vai demorar ainda para ele acordar, faminto e sedento... Não se preocupem, até lá, vocês já não estarão aqui. Acreditem em mim...
V. O Aviso Final do Monstro
— Mas onde é que eu estava? Ah sim! Acho que vocês não devem mais sentir tanta pena do meu amigo Jack, não é mesmo? Mas saibam que podemos aprender muito com ele...
A verdade é que todo Monstro tem algo para nos ensinar...
A lenda de Jack atravessou o oceano com os imigrantes irlandeses no século XIX. O nabo original deu lugar à abóbora na América: a pumpkin dos colonos do novo mundo. A abóbora risonha que vemos hoje é a versão moderna do terror original. Mas nem por isso é menos assustadora. Eu particularmente adoro enfeitar minha caverna com abóboras esculpidas nesta época do ano. E o meu amigo Jack ganhou uma nova aparência: o pumpkin head, um visual que eu considero tão assustador quanto sua versão original, mas com uma cor que faz juz à brasa infernal que o diabo lhe lançou e que brilha eternamente em sua lanterna.
— Sei o que estão pensando. Jack é, sobre muitos aspectos, um Monstro, e a luz de sua lanterna e sua esperteza ainda são temidas em muitos lugares. — O quê? Você aí não acredita que se pode aprender algo com um Monstro? Opinião ousada a sua. Ousada e equivocada...
Jack O'Lantern é a crônica de que a alma perdida de um homem comum, quando privada de descanso, pode se tornar um terror maior do que qualquer demônio.
— Sabem qual é o aviso de Jack O'Lantern?
Jack é a advertência final: ele é o homem que ganhou a liberdade de não ser condenado, mas descobriu que essa liberdade era uma prisão ainda maior. O seu destino nos ensina que o medo de ser um Pária sem refúgio é o maior terror de todos.
Um vento sinistro soprou pelos túneis. Eu era capaz de saber pelos sons lá fora, há centenas de passos de distância, que era quase meia noite.
— Agora, peço que me deêm licença. Meu amigo Jack acaba de chegar e eu prometi um jantar especial para ele hoje.
Quando cheguei na entrada da câmara eles me interpelaram, um pouco agitados.
— O prato é um segredo de família. Mas não fiquem agitados. Isso estragaria o jantar.
Continuei pelo túnel, mas eles gritaram perguntas e imploraram para que eu revelasse o que aconteceria a seguir...
— Em breve volto com o Jack. Ele vai adorar vocês... Jack adora viajantes tolos... Sem ofensas. Ah, o que Jack gosta de comer? Ele desenvolveu um paladar refinado ao longo dos seus anos de exílio e solidão. É difícil preparar algo que Jack goste. Passei o dia procurando e quase desisti. Mas acreditam se quiserem, dei a sorte de topar com os ingredientes por acaso quando estava voltando para casa. Agora, fiquem quietos e não saiam daí...
Eles me olharam com olhos esbugalhados.
Dei-lhes um sorriso enigmático e concluí:
— Volterei em breve com o convidado e um caldeirão bem grande. Mantenham o braseiro aceso.

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