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"Por outro lado, a civilização nos deu necessidades, vícios, apetites capciosos que às vezes têm o poder de sufocar nossos bons instintos e nos levam ao mal. Daí a máxima: “Se quiser descobrir o culpado, vá direto naquele a quem interessa o crime cometido!” A quem seu desaparecimento interessava? — A ninguém, meu Deus! Eu era tão pouca coisa. — Não responda assim, pois a resposta carece ao mesmo tempo de lógica e de filosofia; tudo é relativo, caro amigo, desde o rei que contraria seu futuro sucessor até o empregado que contraria o estagiário: se o rei morre, o sucessor herda uma coroa; se o empregado morre, o estagiário herda mil e duzentos líquidos de salário. Esses mil e duzentos líquidos de salário constituem seu patrimônio; são-lhe tão necessários para viver quanto os doze milhões de um rei. Todos os indivíduos sem exceção, desde a base até o topo da escala social, agrupam em torno de si todo um mundinho de interesses, com seus turbilhões e átomos vorazes, como os mundos de Descartes. Mas esses mundos continuam se ampliando à medida que sobem. É uma espiral invertida, em equilíbrio instável."
— Alexandre Dumas (O Conde de Monte Cristo)
Dando continuidade ao registro dos Quotes (citações) que estou fazendo de O Conde de Monte Cristo usando a plataforma Wombo para criar imagens usando Inteligência Artificial.
Eu tenho refletido sobre essa passagem de O Conde de Monte Cristo. Em especial o comecinho dessa citação: a civilização nos deu necessidades, vícios, apetites capciosos que às vezes têm o poder de sufocar nossos bons instintos e nos levam ao mal.
Tenho observado como é impressionante como encontramos os interesses pessoais das pessoas, mesmo quando essas estão envolvidas em causas que deveriam ser comunitárias e os interesses individuais deveriam ficar em segundo plano ou sequer deveriam ser considerados.
Pensando bem, é coisa rara ver pessoas agindo e se envolvendo em qualquer que seja o assunto sem que haja algum interesse particular ou algum ganho de benefício motivando o seu interesse.
Como não pretendo dar exemplos e nem citar os casos reais sobre os quais estou filosofando (do contrário esse texto seria para fofocar e não para refletir), ficarei apenas na cama subjetiva e vaga das ideias sobre as quais estou divagando.
Mas, no próprio livro O Conde de Monte Cristo é citado; em uma conversa entre o próprio Conde com alguns jovens, que o espírito daquele tempo é o egoísmo. De fato, o egoísmo tornou-se um "modo de ser" cada vez mais presente nas culturas humanas. Alguns o chamam de individualismo e outros podem pensar nele como em tipo de independência do indivíduo em relação à comunidade em que está inserido.
Se na época retratada no livro essa tendência já era forte o bastante para ser tratada como o "espírito daquele tempo", não é de se estranhar o quão forte ela se tornou com o avançar dos séculos.
Talvez por isso; por esse "modo de ser" ter-se tornado tão normal e enraízado nas culturas humanas é que as pessoas sequer percebem o quão individualistas e interesseiras elas são nos tempos atuais.
Neste momento em que me vejo cercado por tantos interesses individuais e sorrateiros, que me cercam como chacais ardilosos, eu lembro de um livro de Rudyard Kipling; mais especificamente Os Livros da Selva, em que há uma passagem que diz o seguinte:
“Esta é a Lei da Selva, tão antiga e imutável quanto o céu; quando um lobo a viola, ele morre, mas prospera o lobo que é fiel. Como a hera que envolve o tronco, a lei sobe, desce e volteia – pois a força da alcateia é o lobo, e a força do lobo é a alcateia”.
Isso me serve de lembrete; a lei da selva ainda é valiosa. Talvez hoje; nesta época de egoístas autoproclamados, ela seja ainda mais valiosa que nunca.
Por tanto, penso que a lei da selva sirva de remédio para o mal da civilização. Por exemplo; não devemos tomar decisões que possam afetar a todos, pensando no benefício de apenas alguns.
É fácil falar e difícil fazer, pois as relações humanas são um jogo político em que a diplomacia e o poder estão sendo testados e confrontados a todo momento.
Uma solução possível; retratada no livro de Rudyard Kipling, são as assembleias que os lobos fazem para a tomada de decisões: creio que uma alegoria para o conceito de democracia.
Também é verdade que a democracia é um ideal inalcansável e desde a sua invenção, os humanos tornaram-se excelentes manipuladores desse poder "democrático" e fazem uso de suas manipulções em benefício próprio.
Estou vendo que hoje vou dormir com esses fantasmas e demônios me perturbando o sono. Como tomar a decisão correta, quando os caminhos possíveis se apresentam nebulosos para o nosso próprio discernimento?
Acho que não existe solução mágica ou caminho fácil. A única saída é realizar o esforço de fazer o melhor possível e necessário, visando o melhor para todos; ainda que corramos o risco de errar e sofrer uma derrota.