5 Contos de Horror não convencionais para um Halloween cheio de arrepios
5 Contos menos conhecidos para Ler na Noite de Halloween
O Halloween se aproxima, ou o Dia das Bruxas, se preferir o termo em bom português. Há ainda quem prefira chamar a data de Dia do Saci (eu particularmente adoro a ideia), mas, seja lá como for, o 31 de Outubro está próximo e, com ele, o véu entre os planos enfraquece. Não há hora melhor que essa para histórias de terror: para narrá-las, ouví-las ou lê-las no silêncio da noite.
Por isso, trago esta semana, uma lista de cinco contos para ler na noite de Halloween, porém não uma lista qualquer. É fato que todo ano, as listas mencionam contos já consagrados e apreciados para a ocasião. Mas, quem gosta de ler e está em busca de algo um pouco diferente este ano, deixo aqui cinco indicações menos conhecidas de contos rápidos, mas igualmente primorosos e que evocam o clima perfeito do 31 de Outubro.
Um mapa incomum para sentir medo no Halloween
Se a minha vida me ensinou algo, é que os melhores pesadelos raramente são aqueles que todos conhecem. O horror que perdura não tem cheiro de alho nem o brilho da prata; ele tem o gosto metálico da dúvida.
Estes cinco contos não pertencem ao panteão dos gigantes óbvios. Eles são artefatos literários que encontrei em minhas viagens por becos de Paris, templos na Índia e ruínas esquecidas. Eles compartilham um veneno: o momento em que a sua certeza — seja na ciência, na moral ou na própria identidade — se desintegra em pó.
Prepare sua fogueira, afie seu facão e deixe a porta entreaberta. O Cronista Bárbaro tem algumas histórias para guiar sua noite.
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Primeira Parada: O Vazio que Grita
A Casa Vazia (The Empty House) — Algernon Blackwood (1906)
O Caçador e a Disciplina Eduardiana
O autor, Algernon Blackwood, não era um mero escritor; era um homem obcecado em provar o invisível. Ele fazia parte de um clã de excêntricos vitorianos e edwardianos que dedicavam seus dias a medir fantasmas com bússolas e termômetros — a Society for Psychical Research. Meu caro, ele não inventava o sobrenatural; ele o catalogava. E é por isso que este conto tem o peso de um relato de campo.
O conto surge na Era do Algodão Engomado, um tempo onde os homens se vestiam de otimismo tecnológico, mas escondiam no porão uma obsessão doentia por sessões espíritas. O maior medo da época era o de perder o controle e ser exposto ao ridículo. Blackwood explora esse medo: o horror não está em morrer, mas em enlouquecer enquanto se tenta manter a compostura.
O Legado da Assombração Residual
A Casa Vazia é um marco. Se você já leu sobre uma casa com um "passado" que contamina o presente, a semente veio daqui. Lovecraft, o arquiteto do horror cósmico, considerava Blackwood um dos quatro mestres. Ele dominou a técnica da assombração residual: a ideia de que eventos violentos e emoções cruéis não desaparecem; eles se imprimem no próprio tijolo e cimento, como uma mancha de sangue que nunca seca.
O conto não tem enredo; tem atmosfera. O terror aqui é um gás venenoso que se acumula e te sufoca.
O Relato do Baque Surdo
O narrador, Jim Shorthouse (o alter ego do autor), e sua tia Julia — uma mulher velha, mas de coragem de ferro que subverte todas as regras de donzela indefesa — decidem invadir uma casa notória. A casa, por fora, é banal, idêntica às suas vizinhas, mas emana um "cheiro" de medo e opressão psíquica.
A escalada é lenta, uma tortura planejada. Eles procuram pela origem de uma lenda: o fantasma disforme de uma pessoa que, anos atrás, quebrou o pescoço na escada após uma tragédia.
O clímax é o horror que eu respeito: o horror da ausência visível.
Eles não veem o espectro. Eles sentem a emoção avassaladora e maligna do evento original. Ouvem passos apressados seguidos por passos mais pesados, "gritos arrastados, ofegantes e sufocados" e, finalmente, o som inconfundível do "baque surdo nas profundezas da casa... no chão de pedra do salão".
A lanterna permanece firme. O ar não se move.
O verdadeiro medo, meu caro, é que não há nada para esfaquear. O horror é um sentimento tangível, opressor, que te força à fuga. A ciência do Investigador da SPR falha miseravelmente; ela apenas mede a intensidade da paranoia.
Para a Noite de Halloween: O horror da Casa Vazia é o medo da exploração urbana e da adrenalina barata. É o medo de que, ao buscar o perigo, você encontre apenas o vazio que te consome.
- Ideia de Fantasia Minimalista:
- O Investigador da SPR: Casaco de tecido grosso, uma gravata-borboleta torta. O elemento crucial é a expressão de pavor fixo e paralisante no rosto, como se você tivesse acabado de ouvir o baque, mas não viu nada.
- O Medo Residual: Roupa simples e escura, com maquiagem pálida e sombreada. Seus olhos devem estar arregalados, refletindo o momento do terror, preso em um loop emocional.
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Segunda Parada: O preço de blasfemar contra os deuses antigos
A Marca da Besta (The Mark of the Beast) — Rudyard Kipling (1890)
O Sacerdote do Raj e a Degeneração
Rudyard Kipling, o homem que nasceu na Índia e se tornou a voz do Império Britânico, escreveu este conto não como uma aventura, mas como um aviso de retribuição. Ele tinha um medo profundo das "forças primitivas" da Índia, aquelas que o Império tentava, em vão, soterrar com trilhos de trem e tribunais de justiça.
Este é o Horror da Transgressão Cultural. O colono branco, o Sahib (o governante), vive sob a ilusão de que sua civilidade é invencível. Kipling, com crueldade, mostra que essa civilidade é um fino verniz. O conto reflete a ansiedade colonial da degeneração: o medo de que o homem "civilizado" perca sua forma e regrida à selvageria quando confrontado com a magia da Terra.
A Liturgia da Profanação
O conto não perde tempo. Na Véspera de Ano Novo, um inglês novo e ignorante chamado Fleete comete o sacrilégio. Bêbado, ele profana o sagrado de um templo ao deus-macaco Hanuman, apagando seu charuto na testa da estátua. Um ato de riso que custará sua alma.
A punição é imediata: um Homem de Prata (um leproso, ou um sacerdote sem boca) o toca. Fleete desenvolve uma marca no peito e começa a regredir.
O Horror Corporal e a Selva Interior
A queda é visceral. Fleete começa a anseiar por carne crua, grunhe e desenvolve uma mancha de roseta de leopardo no peito. Ele uiva como um lobo dentro de casa. É uma forma de licantropia induzida, misturada com a hidrofobia (raiva).
Mas o verdadeiro terror não é Fleete. São os seus amigos Strickland (um policial) e Dumoise (um médico). Percebendo que a ciência ocidental é inútil contra a maldição, eles decidem que a única salvação é abandonar a moralidade cristã e descer à brutalidade do local. Eles capturam o Homem de Prata e o torturam com canos de rifle em brasa até que ele inverta a maldição.
A lição final é cruel: para salvar a "civilização" (Fleete), os homens civilizados (Strickland e Dumoise) devem se tornar mais selvagens do que a própria "besta" que temem. A ferida de Fleete se cura, mas a Marca da Besta permanece na alma dos seus salvadores.
Para a Noite de Halloween: Este conto é a fúria dos deuses antigos contra o turista desrespeitoso. É um lembrete de que há pântanos e florestas que não podem ser pavimentados.
- Ideia de Fantasia Minimalista:
- Fleete Amaldiçoado: Um terno ou smoking amarrotado, sujo de terra. A chave é a marca escura e manchada no peito (visível com a camisa rasgada) e um comportamento ligeiramente agachado, farejando o ar.
- O Doutor Torturador: Um traje vitoriano simples, mas carregando um atiçador de lareira (de brinquedo) ou um pedaço de ferro e usando luvas de médico, com uma expressão de determinação sombria.
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Terceira Parada: Que cara o medo tem nas terras do Sol Nascente?
Mujina (Mujina) — Lafcadio Hearn (1904)
O Estrangeiro e o Folclore em Extinção
Lafcadio Hearn (ou Koizumi Yakumo) era um estrangeiro que se tornou o cronista da alma japonesa em um momento de crise. Durante a Era Meiji, o Japão estava jogando fora suas tradições e Yokai (monstros do folclore) para abraçar a pressa ocidental. Hearn, um homem que se sentia "sem rosto" entre o Ocidente e sua nova casa, coletou estas histórias para salvar a alma do Japão.
Ele introduziu ao Ocidente um horror que não é gótico, mas psicológico. Não é sobre o que te ataca, mas sobre o que se dissolve debaixo dos seus pés.
A Fragilidade da Identidade
O conto é curto e afiado como um punhal de samurai. Um comerciante viaja pela estrada de Akasaka à noite e encontra uma jovem chorando. Em um ato de cortesia, ele tenta consolá-la.
O pagamento pelo seu bom coração é o pânico: quando ela se vira, seu rosto é uma "lousa em branco" — sem olhos, nariz ou boca. O terror não é o monstro, mas a anulação da identidade humana.
O comerciante corre desesperadamente até encontrar um vendedor ambulante de soba (macarrão), uma imagem de refúgio e calor humano. Ele conta, histérico, o que viu.
A Quebra da Segurança
O vendedor de soba ouve com simpatia e, virando-se para o homem, pergunta: "Ela se parecia com... isto?" — e ele também revela um rosto vazio. Todas as luzes se apagam, e o comerciante desmaia.
Aqui está o veneno: a criatura que Hearn descreve é o Noppera-bō (o fantasma sem rosto), e não o Mujina (o texugo). Mas, graças à popularidade da história, o nome Mujina virou sinônimo do fantasma sem rosto no Ocidente. Um erro de nomenclatura que a história transformou em cânone.
O horror existencial é a dissolução da segurança. O comerciante pensa que escapou do vazio da mulher, apenas para descobrir que o seu refúgio, o rosto simpático do vendedor, era apenas mais uma parte da ilusão.
Para a Noite de Halloween: Este conto ressoa com o medo moderno da despersonalização e do anonimato da internet. O rosto que você vê pode ser uma tela em branco. Não confie no sorriso do seu vizinho.
- Ideia de Fantasia Minimalista:
- O Noppera-bō (Fantasma Sem Rosto): Uma vestimenta simples. O segredo é a maquiagem: uma tela branca, apagando completamente as feições (sobrancelhas, boca, nariz). Um horror conceitual, profundamente perturbador.
- O Vendedor de Soba: Um avental simples, carregando uma tigela. A chave é a máscara lisa, branca e sem feições (ou uma maquiagem apagada) que é revelada num instante.
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Quarta Parada: Quando o Horror Gótico brota em uma aventura de capa e espada
As Caveiras nas Estrelas (Skulls in the Stars) — Robert E. Howard (1929)
O Gótico da capa e espada e a Moral Inabalável
Aqui está o homem que eu respeito: Robert E. Howard, o pai da Espada e Feitiçaria. Ele fundiu o pulp fiction de ação com o horror cósmico. E o seu campeão, Solomon Kane, é a encarnação do seu próprio código bárbaro, mas com um toque de puritanismo sombrio.
Kane é um justiceiro errante. Ele anda pelo mundo, do pântano inglês aos ermos africanos, com a Bíblia num bolso e a pistola de pederneira no outro. E o que ele enfrenta não são apenas bandidos; são os deuses esquecidos da terra, o horror elementar que antecede o tempo.
O Horror Elementar da Natureza Morta
Este conto é curto, tenso e se passa em um pântano inglês, um cenário clássico do Gótico Britânico, mas injetado com a ação e o fatalismo de Howard.
Kane está vagando à noite quando ouve os gritos de um homem. Ele encontra um corpo jogado na estrada. O homem foi morto por uma criatura que ataca com uma velocidade e força sobrenaturais, deixando para trás apenas a evidência de uma brutalidade não humana.
O mistério não é sobre quem fez, mas sobre o que é o mal.
A Confrontação do Caos Antigo
Kane investiga e descobre que a criatura é um espírito da terra, uma entidade metafísica que opera sob a égide do Caos Antigo, um horror que se esconde na bruma da charneca. O inimigo não tem forma definida; é uma força predatória que transcende a zoologia.
O auge é a luta de Kane. Ele não usa ciência ou rituais complexos; ele usa o seu florete afiado e a sua fé inabalável. A arma de Kane é sua convicção. O puritano atira no escuro, confiando na sua moral para repelir o pavor.
O terror de Howard não é o medo de enlouquecer (Lovecraft), mas o medo de ser destruído pelo Caos – um caos que está sempre à espreita, fora da luz da fogueira, esperando pelo momento certo para te dilacerar.
Para a Noite de Halloween: Este conto é a essência do Horror Bárbaro. É o medo do que espreita na escuridão, e a certeza de que a única coisa que vai te salvar é o seu facão e a sua coragem bruta.
- Ideia de Fantasia Bárbaro-Minimalista:
- Solomon Kane: Um casaco longo e escuro, chapéu puritano de abas largas, e a barba rala. Carregue um florete (ou uma pequena adaga) ou uma pistola de pederneira (todos de brinquedo, ok?). O olhar deve ser fixo, moralista e pronto para a violência.
- A Bruma do Pântano: Maquiagem cinza-pálida e roupas úmidas e esfarrapadas. O corpo está coberto de ferimentos inexplicáveis (arranhões e mordidas) que parecem mais elementares do que animais.
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Quinta Parada: A Loucura Pintada em Amarelo
A Máscara (The Mask do livro The King in Yellow) — Robert W. Chambers (1895)
O Artista Decadente e a Praga Memética
Robert W. Chambers era um artista americano que viveu a vida boêmia de Paris na Fin de siècle (o fim do século). Seu conto é puro Decadentismo e Simbolismo, misturando arte, loucura, beleza e a morte.
A Máscara é um dos pilares de O Rei de Amarelo, a coleção que estabeleceu o que chamamos de Horror Cósmico (anterior a Lovecraft). O horror não é um vampiro ou um lobo. É uma ideia que infecta a mente.
A Alquimia da Arte Imortal
A história se passa no Quartier Latin, e gira em torno do escultor Boris Yvain. Boris, obcecado pela perfeição, descobriu um líquido alquímico bizarro, capaz de petrificar seres vivos, transformando-os em mármore branco perfeito. Para Boris, a vida é uma falha; a arte (o mármore) é a eternidade.
A atmosfera é contaminada pela menção à peça teatral amaldiçoada, O Rei de Amarelo, cuja leitura traz loucura. O pintor Alec (o narrador) descobre que a amante de Boris, Geneviève, foi transformada em uma escultura de mármore após cair na piscina do líquido. Boris comete suicídio. A arte vence a vida.
A Verdadeira Face do Terror
O conto termina com um epílogo estranho. Alec retorna e beija a escultura de mármore de Geneviève. Num evento de caos benigno, todos os objetos petrificados — o lírio, os peixes e a própria Geneviève — retornam à vida.
A vida vence, mas apenas através de um poder transcendental. O horror é a violação epistemológica. O verdadeiro terror não é a máscara, mas a face nua e insuportável da realidade que a peça O Rei de Amarelo revela. O medo é memético: a ideia do Rei Amarelo se espalha como um vírus, transformando a mente.
Para a Noite de Halloween: Este conto é a crítica atemporal à busca da perfeição através de meios extremos. É o medo moderno de que uma ideia viral (um infohazard) possa levar você à loucura.
- Ideia de Fantasia Bárbaro:
- O Mármore Vivo (Geneviève): Um vestido de verão simples. A maquiagem é cinza puro ou branco, com linhas finas simulando rachaduras de mármore. A perfeição é fria e morta.
- Leitor do Rei de Amarelo: Roupas boêmias (boina, cachecol). Carregue um livro fino encadernado em um pano amarelo simples, com um símbolo estranho e dourado (o Sinal Amarelo) desenhado. O horror é a sua expressão sutilmente perturbada.
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Cinco Pontos no Mapa da Loucura e do Medo
Chegamos ao fim desta jornada pelas sombras, Mestre. O seu Halloween não será gasto com as histórias de sempre; será uma caçada aos pilares ocultos do medo.
O valor destes contos reside no fato de que o terror não é sobre o que acontece, mas sobre o que se deixa de entender sobre a realidade subjacente ao mundo.
Aqui está o seu mapa final, Andarilho:
- A Casa Vazia (Blackwood):
- Eixo Temático do Medo: Terror do Vazio e da Sugestão.
- O Que é Perturbado? A Disciplina Racional e o Controle da Mente.
- A Marca da Besta (Kipling):
- Eixo Temático do Medo: Retribuição e Degeneração.
- O Que é Perturbado? A Ilusão da Civilidade e o Verniz da Moralidade.
- Mujina (Hearn):
- Eixo Temático do Medo: Horror do Rosto Vazio.
- O Que é Perturbado? A Identidade e o Sentido de Refúgio.
- As Caveiras nas Estrelas (Howard):
- Eixo Temático do Medo: Caos Antigo e a Ameaça Elementar.
- O Que é Perturbado? A Ordem da Natureza e a Segurança do Caminho.
- A Máscara (Chambers):
- Eixo Temático do Medo: Horror Memético e da Arte.
- O Que é Perturbado? As Leis da Natureza e a Barreira entre Arte e Vida.
Que suas leituras sejam sombrias, profundas e satisfatoriamente originais.
Siga o mapa e lembre-se: nas Terras Selvagens da mente, não há fronteiras para cruzar, apenas véus para rasgar. 🗡️

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