Os Pesadelos do Construtor e a Promessa de Bars: Uma Luta Contra o Tempo e o Cimento
Ah, meus caros companheiros de jornada por este estranho mundo, sentem-se um pouco mais perto da fogueira, pois a história que vos conto hoje não é de dragões ou de velhas maldições, mas sim de um inimigo tão implacável quanto qualquer monstro das Profundezas: o Cansaço. Sim, aquele que se esgueira pelos ossos após um dia de labuta, roubando o fôlego e, pior, a inspiração.
Já se foi uma semana de férias, acreditem se quiserem. Sete dias que deveriam ter sido dedicados aos sussurros de "Psicotrápolas: O Fantasma da Mortalha de Fogo", a desvendar os mistérios de Bars, a dar vida aos Suna Mandhis e às suas auras que moldam a própria existência. Mas, como sempre, a vida, essa velha trapaceira, tinha outros planos. Planos estes que envolviam marretas e martelos, enxadas e pás, areia, pedra e sacos de cimento.
Sim, meus amigos, a primeira semana de minhas tão sonhadas férias foi devorada, pedaço por pedaço, por uma batalha épica contra a reforma da casa. Das oito da manhã às oito da noite, fui um operário incansável, um demolidor de paredes e pisos, um carregador de entulho, um alquimista de concreto. Minhas mãos, que deveriam estar deslizando sobre o teclado, estavam sujas de pó e cimento, e meus pensamentos, que deveriam estar tecendo tramas sombrias, giravam em torno de prumos e níveis. Não me levem a mal; eu adoro trabalho pesado, ainda mais quando esse trabalho envolve quebrar coisas e carregar peso. Mas quando tenho um prazo para terminar uma história, um trabalho tão extenuante concorre com o músculo pensante que carrego sob o crânio.
Por mais que minhas filhas tenham em ajudado com a etapa da demolição e do transporte do entulho, ao final de cada dia, quando a escuridão se aconchegava lá fora e a luz artificial iluminava a poeira da batalha, eu desabava. O notebook, o fiel escudeiro de minhas aventuras literárias, jazia intocado. O caderno, com suas páginas em branco esperando por histórias macabras e feitiçarias ancestrais, permanecia fechado. O cansaço, esse demônio sorrateiro, roubava-me as palavras e a sanidade. Era como se a própria Aura da escrita estivesse em hibernação, aguardando um sinal que eu não conseguia dar. Minhas filhas também sentiram um pouco da sina do trabalho pesado; sentiram como era carregar as pedras da ponte "Olha a Morte" dos caçadores de Trolls sem a ajuda de um cajado mágico: um trabalho verdadeiramente épico.
No entanto, nem tudo foi em vão neste purgatório de obras. Consegui, entre um tijolo e outro, erguer algo de concreto – literalmente. Meu baú de pinus, essa arca rústica e imponente para meus preciosos kettlebells, está quase completo e eu nem dei tantas marteladas nos dedos quanto imaginei que daria. Ah, não esperem uma obra de arte renascentista, mas sim um monumento à força bruta e à praticidade (ao menos em trabalhos de força). Uma grande caixa de madeira que, em breve, abrigará meus instrumentos de ferro; os kettlebells, algumas anilhas e, quem sabe, até alguns manuscritos secretos. Falta apenas um retoque de stain em alguns trechos onde a madeira lascou superficialmente, a instalação das rodas – para que eu possa arrastá-lo para longe das vistas curiosas – e as dobradiças da tampa, que manterão meus tesouros a salvo dos olhos dos desavisados. Talvez umas alças para dar um ar ainda mais robusto, como um baú de piratas forjado para os mares tempestuosos.
Ontém foi sexta-feira e também foi o meu aniversário, que passei carregando o material de construção e fazendo o concreto que foi usado para fazer o novo contrapiso da varanda do primeiro andar lá de casa. Esse foi um aniversário assustadoramente parecido com vários aniversários que tive na adolescência, trabalhando com o velho ogro, digo, o meu pai... Tive um tempo para pensar, enquanto carregava areia, cimento e pedra, que o tempo estava se esvaindo pelos meus dedos e, por mais que eu estivesse construindo algo com esse tempo, ainda não era tudo o que eu queria construir... Mas, finalmente, a tregua em meio à batalha veio.
Este sábado de julho se ergue como um oásis no deserto do trabalho braçal. É o primeiro dia em que a marreta e a pá deram lugar à caneta (metaforicamente falando, claro) e a um pouco de descanso. Estou em Itanhém com minha família, visitando o pai e a mãe da minha esposa.
E o que fiz com essa preciosa trégua?
Bom, eu descansei um pouco. Eu precisava disso. Fiz uma longa caminhada solitária pela beira da praia durante a tarde, enquanto eu refletia sobre alguns aspectos da saga literária de Psicotrápolas. Eu também me diverti com minha família visitando o centro de Itanhaém no início da noite. Ficamos fora até agora a pouco. Eu já visitei inúmeras vezes o convento no alto de um morro no centro da cidade, bem como a feirinha e já estive uma vez no novo parque "Amazônia Paulista" (que de "Amazônia" não tem nada). Mas nunca me canso de visitar esses lugares quando visito Itanhaém e dei uma passada por lá.
Agora, antes de ir dormir, vou mergulhar novamente no primeiro capítulo de "O Fantasma da Mortalha de Fogo", essa aventura envolvendo o povo Suna Mandí e espíritos trapaceiros em uma jornada pelo vilarejo de Bruma e os mistérios que se escondem nas sombras de Selvamar. Durante a semana, se as energias permitirem, darei início à revisão e postagem dos capítulos subsequentes no Wattpad...
Ah, sim, o Wattpad! Os Wattys 2025 já abriram suas inscrições, e o prazo final, esse fantasma que me assombra, é 5 de agosto. Maldição! O tempo, esse tirano implacável, parece correr mais rápido quando se tem um prazo no calcanhar. Não há espaço para hesitação, nem para a síndrome do "coelhinho da Alice" que me persegue.
A reforma, meus amigos, ainda não terminou. A poeira ainda não assentou completamente, e os resquícios da batalha ainda são visíveis. Mas tenho a esperança (e teimosia), essa chama bruxuleante no meio da escuridão, de que nos próximos dias a minha parte na reforma se tornará mais leve. E com isso, talvez, apenas talvez, eu consiga arrancar algumas horas do dia, como um ladrão de tempo, para dedicar-me aos meus projetos literários. Para que "Psicotrápolas" não fique apenas na minha mente, mas se materialize em páginas e envolva outros com seus enigmas e sombras.
Desejem-me sorte, meus caros. Que a Aura da inspiração me banhe, e que os espíritos do cimento e da alvenaria me deem uma trégua. O mundo de Bars e as Psicotrápolas aguardam, e o tempo é um adversário feroz. Mas um escritor, um verdadeiro contador de histórias, não recua diante de um bom desafio, não é mesmo? Mesmo que o desafio envolva carregar sacos de areia.
Até a próxima, quando espero ter mais do que apenas um baú para vos contar. Talvez, quem sabe, algumas novas armadilhas espirituais... ou, quem sabe, um novo capítulo para assombrar seus sonhos.
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