A ARANHA E O QUIBUNGO: AIYA ANANSI
A Astúcia Perversa da Aranha: A Lenda Ancestral de Engano
🗡️ Àquele que encontrar este pergaminho...
É noite de primavera. O ar aqui na cabana é quente e carregado, mas lá fora, o vento uiva suavemente sobre as copas das árvores. Consigo ouvir o som gutural das feras noturnas espreitando na escuridão e o bater de asas fantasmagórico dos morcegos que voejam ao redor, enquanto a pena raspa sobre este pergaminho rústico. É neste silêncio da Fronteira que forjo as Crônicas das Terras Selvagens.
Sempre nutri uma admiração peculiar e sombria pela aranha, pela geometria letal de sua teia e sua paciência de predador. Talvez seja por isso que, ao criar meu personagem para a última campanha em Conan Exiles, um de meus passatempos favoritos no O ARSENAL DO RPG, escolhi Zamora como seu lugar de nascimento. Naralaki, o Ladrão de Zamora, é um devoto fervoroso de Zath, o deus Aranha da Era Hiboreana, inspirado nas histórias do mestre Robert E. Howard.
Essa escolha se deu porque eu queria trilhar um caminho que desviasse do meu perfil habitual — aquele do bárbaro selvagem e brutal, que, devo confessar, adoro encarnar em jogos —, e me aprofundar na mente do ladrão ardiloso e astuto, mestre do engano e da sobrevivência pela sagacidade.
A astúcia, meu companheiro, é uma arte perigosa. Por isso, ao buscar mais um espectro para habitar a sombria câmara das nossas MASMORRAS PERDIDAS, voltei meu olhar para as ancestrais terras africanas. Ali, na tradição do Folclore Sombrio, encontrei a personificação perfeita dessa sabedoria traiçoeira: o Pai Aranha, mestre da perfídia, cujo conto é um aviso sobre a força bruta versus o engenho sem moral.
A Aranha e o Quibungo
Essa lenda em particular, pertencente ao ciclo de histórias africanas conhecidas como Anansiasen (ou contos da aranha), revela o arquétipo da aranha como um ser de astúcia, prudência, perfídia e sabedoria traiçoeira. Nas tradições da Costa do Ouro, especialmente entre os Ashanti, o Pai Aranha (Aiya Anansi) é uma figura que domina o ciclo.
O conto de "A Aranha e o Quibungo" é uma crônica perfeita da vitória do fraco sobre o forte, um padrão comum onde o bandido malvado (como a onça, correspondente ao leopardo africano) acaba perdendo no último ato.Aqui, a trama começa com o Quibungo, um monstro de ferocidade bruta e pouca inteligência, acusando a aranha de ter devorado seus peixes. O Quibungo, enfurecido, busca vingança.
O que faz a aranha, esse mestre da enganação? Ela tece uma rede de mentiras para escapar da fúria do monstro. Primeiro, ela usa de artifícios para iludir uma juriti. Em seguida, a aranha recorre a um de seus truques mais baixos, utilizando a pele de um veado como um disfarce. Sob esta nova pele, ela se aproxima do Quibungo e o convence de que uma aranha-caranguejeira, perversamente, a transformou em um ser fraco.
O monstro, tolo e cego pela raiva, acredita na farsa da aranha. A aranha disfarçada então bebe da fonte e se banha.
O golpe final e a revelação vêm quando a aranha, já satisfeita e segura, raspa a pele falsa do veado. Ela então escala o tronco de uma árvore alta, sentando-se no alto de um galho onde o Quibungo não pode alcançá-la, e zomba do monstro.
O Quibungo, descrito como "fulo de raiva", é deixado humilhado e derrotado pela mente afiada da aranha.
O Pai Aranha, portanto, permanece invencido apesar de suas perversidades. Ele é a encarnação do Ladrão perfeito: não a força bruta, mas a inteligência desprendida de moral que sempre vence, mesmo contra a Morte.
A Bússola da Astúcia: O Legado de Câmara Cascudo
Para o aventureiro que deseja se aprofundar nessa sabedoria traiçoeira, eu aponto para a bússola do folclore nacional: o livro Contos Tradicionais do Brasil, do Mestre Luís da Câmara Cascudo. Comprando por esse link, você ajuda o Blog.
Nesta obra, que reúne cem histórias populares colhidas diretamente na boca do povo brasileiro, o leitor encontrará a narrativa da aranha ao lado de notas eruditíssimas que, sem pedantismo, revelam o longo caminho que essas lendas percorreram — um roteiro fantástico de mais de 3 mil anos através de diversas culturas — até se alojarem na memória do contador popular nordestino. Além disso, a obra de Cascudo preserva a velha sabedoria e malícia popular que Naralaki, o Ladrão de Zamora, tanto aprecia, sendo um recurso essencial para quem busca entender a astúcia, astúcia e perseverança que o Pai Aranha personifica.
Que esta lenda sirva de inspiração para seus próprios encontros, seja nas masmorras de papel ou no deserto exilado. Cuidado com as teias que os fracos tecem. Elas são mais resistentes que o aço e mais traiçoeiras que a serpente.
Que a próxima sombra que encontre seja de sua própria espada.
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