Desvendando o Mundo Xianxia: Uma Imersão no Gênero Chinês que Conquistou o Ocidente
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Como um bom apreciador da cultura oriental, confesso que demorei a me render aos encantos dos animes chineses, os tais "donghua". Minhas filhas, essas criaturas que insistem em me apresentar novidades, me recomendaram "Mo Dao Zu Shi". Dei o braço a torcer e, para minha surpresa, achei a animação bastante interessante. É claro que a coisa toda é bem diferente dos filmes de kung fu que eu curtia na minha juventude, com Jackie Chan e Jet Li quebrando tudo, ou das lendas mirabolantes do Rei Macaco. Mas, convenhamos, a China tem mostrado que não está para brincadeira quando o assunto é animação.
Após maratonar a saga do Patriarca de Yiling, fui pesquisar mais a fundo e descobri que "Mo Dao Zu Shi" é classificado como Xianxia. Eis que surge um novo universo a ser explorado. Preparem seus cálices de vinho de macaco e venham comigo desvendar o que diabos é Xianxia!
A Origem do Xianxia: Das Montanhas Zu para o Mundo
Xianxia, meus caros, é um gênero de fantasia chinês que bebe direto da fonte da mitologia local, com pitadas de taoísmo, budismo, artes marciais, medicina tradicional chinesa e outras esoterices orientais. É como se pegassem a "Jornada para o Oeste" , turbinassem com esteroides místicos e jogassem num caldeirão fervendo com "O Senhor dos Anéis". O resultado? Uma mistura exótica que tem conquistado legiões de fãs ao redor do mundo.
A popularização do Xianxia remonta ao período da República da China, lá nos anos 30 do século passado. Mas foi em 1932, com o romance "A Lenda dos Heróis da Espada da Montanha Zu", que a febre Xianxia realmente explodiu. No século XXI, com a ascensão da publicação online, o gênero ganhou um novo fôlego. Sites como Qidian, Zongheng e 17k viraram verdadeiros celeiros de histórias Xianxia, com autores entregando conteúdo serializado para um público sedento por imortalidade e pílulas mágicas.
E não demorou muito para o Xianxia cruzar as muralhas da China. No início dos anos 2000, traduções feitas por fãs começaram a pipocar na internet, abrindo as portas do gênero para o público ocidental. Mais tarde, sites como Wuxiaworld e Webnovel passaram a publicar traduções oficiais, consolidando de vez o Xianxia como um fenômeno global. Hoje em dia, o gênero invadiu programas de TV, filmes, manhua (os quadrinhos chineses) e até games. Ou seja, tem Xianxia para todos os gostos e vícios.
Cultivando a Imortalidade: A Jornada do Herói Xianxia
Se você quer entender a alma do Xianxia, precisa conhecer a obsessão dos protagonistas: o cultivo da alma. Esses caras, chamados de "cultivadores" (xiuzhe, xiushi ou xiuxianzhe, para os íntimos), buscam desesperadamente se tornar Xian, seres iluminados que alcançaram a imortalidade, poderes sobrenaturais e níveis de força que fariam o Superman chorar no banheiro. E toda essa busca frenética tem uma base na prática real do Qigong, a meditação chinesa que promete harmonizar o corpo e a mente. Só que no Xianxia, o Qigong ganha uma roupagem fantástica, com técnicas mirabolantes e resultados explosivos.
As histórias Xianxia são recheadas de deuses, imortais, demônios, fantasmas, monstros, tesouros mágicos, pílulas medicinais e tudo quanto é tralha mística que você possa imaginar. As tramas se desenrolam em mundos fantásticos onde a busca pela pureza da alma é o valor máximo. E para alcançar essa pureza, os cultivadores se enfiam em lutas mortais, quebrando o pau para conquistar os recursos necessários para fortalecer suas almas e avançar na jornada rumo à imortalidade. É a boa e velha jornada do herói, popularizada no ocidente por Joseph Campbell, só que com tempero chinês e uma dose extra de testosterona mística.
Cenários e Temas: Da China Antiga ao Multiverso
Os cenários iniciais das narrativas Xianxia costumam remeter à China Antiga, com palácios imperiais, vilarejos perdidos em montanhas e seitas de cultivadores isoladas do mundo exterior. Mas não se engane, meu caro padawan. As histórias rapidamente ganham uma dimensão sobrenatural, com reinos, galáxias e universos paralelos entrando em cena. A ação e a aventura são o prato principal, mas o romance também marca presença, com cultivadoras de beleza estonteante e cultivadores galantes trocando olhares e pílulas afrodisíacas em meio ao caos das batalhas cósmicas.
Xianxia na Tela: Do Cinema à TV
Se você quer ter um gostinho do Xianxia nas telas, pode começar com o clássico de Hong Kong "Zu Warriors from the Magic Mountain" (1983), um filme pioneiro que mistura artes marciais e fantasia com uma pegada Xianxia raiz. Em 2001, ganhamos um remake, "The Legend of Zu", que apesar de mais modernoso, não capturou a mesma magia do original. Mais recentemente, filmes como "Era uma vez" (2017) e "Dinastia de Jade" (2019) tentaram adaptar romances Xianxia para o cinema, com resultados mistos.
Mas é na TV que o Xianxia brilha de verdade. As séries chinesas do gênero têm feito um sucesso estrondoso nos últimos tempos. "Ashes of Love", "Eternal Love" e "The Untamed" são alguns dos títulos mais badalados, todos eles adaptados de romances populares publicados na Jinjiang Literature City, uma espécie de Wattpad chinês bombado com hormônios de cultivo. O fandom Xianxia é tão fervoroso que a maior parte das novas produções para TV e cinema são adaptações desse gênero ou de outras fantasias orientais. Ou seja, se você entrar nesse universo, prepare-se para maratonar até o cérebro fritar.
Xianxia vs. Wuxia vs. Xuanhuan: A Santa Trindade da Fantasia Chinesa
Para finalizar, é importante fazer uma distinção crucial. Na explosão inicial de popularidade dos dramas e romances de fantasia chineses no ocidente, muita gente acabou confundindo Xianxia com Wuxia. O site Wuxiaworld, um dos pioneiros na tradução do gênero, contribuiu para essa confusão ao usar o termo "wuxia" no nome. Mas a verdade é que, embora Xianxia e Wuxia compartilhem algumas características, são gêneros diferentes. Wuxia é mais pé no chão, focado em artes marciais e aventuras em cenários históricos, enquanto Xianxia é mais místico e sobrenatural, com cultivo da alma, imortalidade e poderes cósmicos.
E para complicar ainda mais a salada chinesa, ainda temos o Xuanhuan, um gênero que mistura elementos de Xianxia e Wuxia com outras influências, como a fantasia ocidental e os games. É como se fosse um Xianxia híbrido, mais modernoso e menos preso às tradições chinesas. Ou seja, a fantasia chinesa é um multiverso de gêneros e subgêneros que merece ser explorado com calma e mente aberta.
Prepare-se para Cultivar!
E aí, curtiu a viagem pelo mundo Xianxia? Se você ficou com sede de mais, prepare-se para embarcar numa jornada de cultivo sem volta. O gênero é viciante, cheio de reviravoltas e personagens catIvantes. E o melhor de tudo: tem Xianxia para todos os gostos, dos romances aos animes, dos filmes aos games. É só escolher o seu portal de entrada e se jogar de cabeça nesse universo mágico e misterioso. Mas cuidado, viu? Depois que você começa a cultivar, é difícil parar. Palavra de um velho cultivador de animes chineses!
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