O Chamado Selvagem: Instintos Ancestrais e a Luta pela Sobrevivência

 

instintos errantes podem parecer acostumados ao aperto dilacerante de velhas correntes...

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"E quando, nas noites frias e silenciosas, ele apontava o focinho para uma estrela e soltava um uivo longo, semelhante ao de um lobo, eram seus ancestrais, agora apenas poeira, que apontavam o focinho para uma estrela e uivavam através dos séculos e através dele." — Jack London

Eu me lembro da primeira vez que li "O Chamado Selvagem". Eu estava na sétima série e já era um visitante assíduo da biblioteca da escola. Acontece que desde cedo eu sentia uma atração muito forte pelo símbolo do lobo, de modo que eu consumia tudo o que tinha relação com esse animal e estivesse ao meu alcance; documentários que passavam na TV Cultura, revistas da National Geographic que eu encontrava na Biblioteca da Escola e livros.

Foi então que, vasculhando a prateleira de literatura internacional da biblioteca, eu encontrei um livro que rapidamente me chamou a atenção: na capa havia algo que se parecia com um lobo caolho e muito zangado e o seu título era "O Chamado Selvagem". Não poderia haver um livro mais apelativo que aquele para um jovem como eu.

Eu li o livro inteiro em menos de uma semana. Dali uns dois meses, quando alguma das professoras passou como trabalho do bimestre a leitura de um livro sobre o qual teríamos que fazer um resumo eu não dei muito importância; pelo menos não até ela acrescentar que nós poderíamos escolher o livro.

Foi então que eu li novamente O Chamado Selvagem e me atentei para o nome do seu autor: Jack London.

Anos mais tarde, já adulto, eu viria a me decepcionar com Jack London, ao descobrir que ele era racista. Eu descobri isso enquanto lia "O Rei do Mundo", um livro jornalístico que narra a tragetória do boxeador Muhammad Ali. Em uma das primeiras passagens da obra, o autor conta como eram as lutas de Boxe em seus primórdios lá nos Estados Unidos e destaca uma série de comentários racistas de um jornal da época; acontece que o comentárista responsável pela matéria era ninguém menos que Jack London. Apesar disso, continuo gostando dos livros de Jack London e tenho um carinho especial por este livro em questão; ainda mais eu que sempre fui um apaixonado por Lobos e Cães.

Eu sei que li esse livro um bom número de vezes, a ponto de memorizar as suas primeiras páginas... Das quais me recordo pouca coisa hoje em dia, embora eu ainda me recorde com alguma precisão das passagens mais importantes do livro e, claro, de sua temática.

"O Chamado Selvagem" foi publicado pela primeira vez em 1903 e é considerado a obra-prima de London. O livro é geralmente classificado como uma obra de ficção, mais especificamente, ficção de aventura. Este gênero é caracterizado por narrativas que enfatizam a ação e as aventuras emocionantes, muitas vezes em locais exóticos ou perigosos. Jack London utiliza a corrida do ouro do Klondike como pano de fundo para explorar temas de sobrevivência, natureza versus civilização e a regressão aos instintos primitivos.

Na minha opinião a grande ênfase está na regressão aos instintos primitivos. Como Jack London baseou “O Chamado Selvagem” em suas próprias experiências durante a corrida do ouro de Klondike, eu suspeito que de algum modo, a história a respeito dos cães é também uma analogia ao que acontece com as pessoas naquele ambiente inóspito e hostil. Não que o autor dê qualquer indício dessa metáfora na obra; a suspeita é apenas um deveneio meu a esse respeito e, lendo sobre o assunto na internet, eu descobri que “O Chamado Selvagem” é frequentemente visto como uma autobiografia simbólica de London, refletindo suas visões sobre a sociedade e a natureza humana. Temática que ele aborda em outras obras, como O Lobo do Mar.

Seja lá o que o autor tenha pretendido com a obra, eu devo dizer que apesar de ser uma história curta, o livro consegue nos fazer pensar e lançar devaneios sobre a vida e sobre as amarguras que precisamos enfrentar.

Por isso vou compartilhar de forma resumida e dividida em tópicos, algumas informações sobre a aventura de um cão chamado Buck, filho de um São Bernarndo com uma Collie Lassie. Buck nasceu e viveu seus primeiros anos de vida em uma terra ensolarada que pertencia a um tal de Juíz Miller. Porém, a descoberta de certo metal amarelo na escuridão do ártico mudaria a sua vida e a de todos os seus semelhantes que, por azar, possuíssem músculos fortes, pelos longos e fartos e que conseguissem suportar a dura travessia das geleiras.

Sinopse

“O Chamado Selvagem” narra a história de Buck, um cão doméstico que é levado para o Alasca durante a corrida do ouro no final do século XIX. Buck é arrancado de sua vida confortável na Califórnia e lançado em um mundo onde a sobrevivência do mais apto é a única lei que prevalece. Através de sua jornada, Buck se reconecta com seus instintos ancestrais e, eventualmente, responde ao chamado selvagem da natureza.

Resenha

Jack London entrega uma narrativa poderosa e visceral em “O Chamado Selvagem”. O livro é uma exploração crua da natureza selvagem e da luta pela sobrevivência. Buck, o protagonista canino, é um personagem complexo cuja transformação de um cão domesticado para uma criatura selvagem é tanto emocionante quanto comovente. A prosa de London é direta e eficaz, capturando a brutalidade e a beleza do mundo natural.

Ao longo da narrativa, acompanhamos a transformação de Buck de um cão domesticado e dócil em um animal selvagem e feroz. Ele enfrenta desafios inimagináveis, desde o frio extremo e a neve implacável até ataques de lobos e outros animais selvagens. Buck aprende a liderar a matilha, a caçar para sobreviver e a obedecer à lei da selva, onde apenas os mais fortes e adaptados prosperam.

O enredo também explora temas como a natureza versus a civilização, a crueldade do homem e a capacidade de adaptação dos seres vivos. O livro também questiona a relação entre o homem e o animal, mostrando como a necessidade de sobrevivência pode superar laços de afeto e lealdade.

Curiosidades Sobre os Cães Puxadores de Treno no Alasca

Durante a corrida do ouro no Alasca, retratada em “O Chamado Selvagem”, os cães puxadores de trenó desempenhavam um papel vital na sobrevivência e no transporte. Eles enfrentavam condições extremas, percorrendo longas distâncias em terrenos gelados e inóspitos. A resistência e a força desses cães eram essenciais para o sucesso das expedições em busca de ouro.

Raças de Cães para Puxar Trenós

As raças mais comuns para essa tarefa eram o Husky Siberiano, o Malamute do Alasca e o Groenlander. Esses cães eram selecionados por sua capacidade de resistir ao frio intenso e por sua disposição para o trabalho árduo. No livro, Buck, o protagonista, é acompanhado por uma diversidade de cães, incluindo o esperto Spitz e o leal Dave.

Tribos do Alasca e Cães Primitivos

Tribos nativas do Alasca, como a tribo Mahlemut, tinham cães primitivos que eram ancestrais dos Malamutes do Alasca. Esses cães eram parte integrante da vida das tribos, ajudando na caça e no transporte através da vasta e gelada paisagem.

A Raça de Buck

Buck, o personagem central de “O Chamado Selvagem”, era filho de um São Bernardo macho e uma Collie Lassie fêmea. O São Bernardo é conhecido por sua adaptação ao frio e por ser utilizado como cão de resgate na neve, características que Buck herdou e que o ajudaram em sua jornada no norte gelado.

Se o Buck existisse na vida real, eu diria que a aparência dele seria parecida com a dessa imagem abaixo, que eu gerei usando I.A.:

Buck, de O Chamado Selvagem; filhote de São Bernardo com uma Collie Lassie

Código de Conduta Entre os Cães

Em “O Chamado Selvagem”, observa-se um rígido código de conduta entre os cães. A luta pela liderança e a sobrevivência no ambiente selvagem criam uma hierarquia estrita, onde Buck aprende a se impor e a liderar o grupo, respeitando e sendo respeitado por seus companheiros caninos.

Atavismo e “O Chamado Selvagem”

Atavismo, do latim “atavus”, que significa “ancestral”, é o reaparecimento de características em um organismo após várias gerações de ausência. No contexto de “O Chamado Selvagem”, atavismo é um tema central, pois Buck, o cão protagonista, começa a exibir traços e comportamentos de seus ancestrais lobos. Essa regressão ao estado selvagem e primitivo é um reflexo poderoso da luta interna entre a domesticação e os instintos naturais.

A epígrafe do livro, citando John Miers Ohara, sugere que, apesar dos esforços para domar e civilizar, os instintos primitivos permanecem latentes e podem ressurgir com força avassaladora. Buck é a personificação desse atavismo, demonstrando que, mesmo após anos de domesticação, a chamada da natureza selvagem é irresistível e inextinguível.

enorme cão feroz rosnando com raiva, sangue na neve. alasca