Onde está a democracia?

Imagem abstrata simbolizando a democracia brasileira
Onde está escondida a democracia no Brasil? (gerada pela Wombo Art)

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ONDE ESTÁ A DEMOCRACIA?
ALGUMAS REFLEXÕES
08/10/2012
POR WOLFGANG FÊNIX
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Olá a todos. Hoje estou deixando algumas reflexões sobre politica - um tema tão pouco popular quanto necessário.


UMA DEMOCRACIA CHEIA DE CONTROVÉRSIAS

É irônico que o lugar onde perpetuamos nossa ignorância politica seja o ambiente escolar; afinal é na escola que se vota e é a escola que se ignora quando se fala em proposta politica para resolver os problemas enfrentados pelos brasileiros - pois, se os jovens são o futuro do país, então a escola é o Planejamento deste Futuro.

Talvez a escola nem seja tão ignorada assim nas promessas de campanha, mas o é de fato na pratica. O irônico é que apesar de votarmos na escola, não é nela que aprendemos politica; aliás, onde aprendemos sobre politica neste país? Será em casa com nossa família? E se nossa família não souber politica? Ou apenas achar que sabe? Que tipo de politica um povo despreparado pode fazer em seu país? E afinal, aprender politica faz diferença na hora de votar?

Um povo que sabe sobre politica torna a sua nação mais democrática? Ou basta escolher o mais barulhento? O que possui mais cartazes? O que é mais simpático? O que é mais conhecido? O que é menos criticado? O que pertence ao partido do qual nós mais gostamos? Ou aquele cujo partido é oposto ao partido do qual desgostamos? Enfim. Aquele cujas aparências nos chama mais atenção?

Ontem, enquanto me encaminhava para as urnas eu me deparei com algumas questões dentro do meu circulo de convivência. Eis que apresento algumas como exemplo:

"Eu não queria votar em ninguém nesta eleição; porque não conheço A, porque não gostei dos X anos de B na prefeitura e porque C era assaltante de banco... Mas pensando bem eu vou votar em A, porque correm boatos de que B pode ganhar já no primeiro turno. Mas estou na dúvida, queria mesmo é votar nulo no primeiro turno, porque como já disse, não gostei de nenhum candidato; até mesmo A, pois seu partido também deixou a desejar nestes Y anos... Mas se houver segundo turno eu voto em A para que B não assuma de jeito nenhum! Pois os X anos de B foram muito ruins para a cidade."

Este monólogo usado como exemplo elucida aquilo que já ouvi muitos cidadãos chamando de estratégia politica, e fazem bem em chamar assim, pois o que mais se vê durante o horário destinado à propaganda politica obrigatória são estratagemas para derrubar a popularidade dos partidos adversários e não propostas de campanha para que o povo analise em detalhes qual candidato é mais preparado. O povo então assume este modelo na hora de fazer sua escolha; ora, não conhecendo de forma profunda os candidatos menos conhecidos e menos barulhentos – e talvez, nem os mais populares –, com menos cartazes e panfletos, resta ao povo decidir-se entre os que dominam o espaço “nobre” de baixo dos holofotes deste “ringue” eleitoral, aqueles que mais se adequam às suas expectativas e neste caso, ou escolhem o que já conhecem ou aquilo que lhes parece menos arriscado.

Talvez por isso, em São Paulo – SP, vê-se sempre uma disputa entre apenas dois partidos (cenário que começa a dar sinais de mudanças, como pudemos ver nesta eleição, mas que ainda perdura de certo modo); o povo volta-se sempre para aquilo que conhece, e isto é prejudicial à ideia de democracia – seria o mesmo que dizer que um país democrático sempre elege o mesmo presidente há trinta ou quarenta anos: é claro que o povo pode fazer esta escolha, não obstante isso, o país está sendo governado em uma espécie de democracia virtual e o fato de o povo manter-se avesso à mudança só aponta que o próprio povo é avesso ao exercício da democracia, pois prefere ser governado por aquilo que já conhece apesar de um possível descontentamento com o cenário politico.

No caso do Brasil, em especifico, ainda se vê um fato curioso; mesmo o eleitor sendo obrigado a votar – o que já é estranho em um país que se diz democrático –, cada vez mais eleitores anulam seu voto, o que deixa evidente o descontentamento com o sistema politico: os eleitores deixam de lado a única forma de exercer o seu poder no país. Mas a atitude, por outro lado, também evidencia que o povo não possui outros mecanismos de se manifestar politicamente ou não possuem esclarecimento para se manifestar segundo as regras do jogo – e neste caso resta-lhes apenas escolher entre as já conhecidas “direita e esquerda” ou abster-se de escolher entre uma das duas vias que levam ao mesmo fim.

O exemplo acima ainda nos mostra outra questão enfrentada por alguns eleitores: "E quando nenhum candidato nos agrada, anulamos o voto ou escolhemos o candidato que parece ser menos prejudicial às nossas expectativas?”. Será que quaisquer das duas opções nos bastam para fazer valer aquilo que chamamos de democracia?

Creio que o mais importante que as duas perguntas colocadas acima – anular o voto ou escolher o candidato menos desagradável às nossas expectativas – é perguntar o porquê sentimos esta sensação – a de falta de boas opções –, pois ou só temos pessoas má intencionadas, despreparadas e/ou interesseiras se candidatando ou nos falta mecanismos para conhecer a fundo as propostas que cada partido e candidato nos apresentam.
Vamos analisar a questão mais profundamente. Primeiramente diante de um novo candidato, até então desconhecido, questionamos se o mesmo é de fato uma boa escolha. E como descobrir? Certamente não se descobre através das placas, cartazes, panfletos e todo material que invade as ruas da cidade em época de eleição e transforma-se em lixo, indo para os esgotos e bueiros, e com isso contribuindo para o alagamento e entupimento das vias publicas.

O modelo atual usado pelos candidatos para “se fazer notar” pelos cidadãos é uma sabotagem à democracia; todos os candidatos deveriam ter um espaço e tempo iguais para apresentar suas propostas aos cidadãos. Todos os candidatos deveriam ter um formato modelo para apresentarem os seus projetos. O que querem fazer. Por que querem. Como pretendem fazer. Com que recursos pretendem fazer. Em que prazo e quais os benefícios para a cidade e seus habitantes, etc.

Não basta gritar num alto-falante "Eu sou a melhor escolha para a cidade" ou imprimir em um folheto "Eu vou construir um Hospital digno do primeiro mundo com o apoio do Governo" ou ainda “meu adversário é inexperiente ou é incapaz”. Nunca vi em uma empresa privada alguém apresentar um projeto fazendo promessas ou tentando mostrar-se capaz ressaltando a incapacidade do concorrente - é preciso que se mostre um plano detalhado e claro do projeto, pois do contrário ele sequer é considerado como um projeto.

Mas a culpa por este modelo de campanha ser usado não é de ninguém senão do próprio povo; que não se interessa em assistir ou exigir debates verdadeiros entre os candidatos. O povo não faz questão de questioná-los, de exigir detalhes sobre as promessas feitas. O povo quando muito, informa-se sumariamente sobre seus candidatos antes do dia da eleição. Quem vai atrás, pesquisar o partido, os candidatos e a sensatez das propostas que estes fazem com antecedência? Quem leva até eles as necessidades de sua região? Os vereadores? (Quando um vereador veio lhe perguntar o que você acha que precisa ser melhorado em seu bairro ou quando você o procurou para informá-lo de algum problema?)

Não vejo o poder do povo nesta democracia vivida pelo Brasil. Diz-se que o poder do povo está em este poder escolher seu representante, o qual irá governar sua cidade, estado, país, enfim. Sendo que a escolha é feita com base naqueles cujas propostas vão de encontro aos seus interesses ou ideais políticos. Mas o que se vê na pratica?

Tomemos como exemplo as promessas que se repetem por gestões a fio sem que se vislumbre sua execução. Ora, claro que há projetos que levam tempo para serem realizados; mas mesmo assim é cômodo demais para um partido sempre prometer um hospital ou investir em educação sem que se note, no decorrer dos anos, alguma ação que aponte que de fato há vontade politica de se cumprir as já tão batidas promessas de campanha. Além do mais, não deveriam ser classificados como "prioridade da gestão" os projetos que sabidamente não podem ser concretizados em quatro anos, nem mesmo pode-se pensar que problemas para os quais a solução só se alcançará no transcorrer de pelo menos uma década ou mais são os únicos que interferem diretamente e diariamente na vida do cidadão. Há tantas minucias de problemas no dia-a-dia de uma cidade e para esta miríade de pequenos espinhos há também uma miríade de soluções que se alcançariam com apenas um pouco de vontade politica: de ruas mal asfaltadas ou sequer asfaltadas, problemas de tráfego ocasionados por faróis mal planejados, falta de leitos e atendimento de má qualidade nos hospitais públicos, regiões suburbanas nas quais não há saneamento básico para todos – isso no século XXI – e cidades onde não há coleta e ao mesmo tempo tratamento do esgoto coletado – uma utopia em muitos lugares do Brasil –, entre tantos.

Estes problemas, os "pequenos" e corriqueiros, é que devem ser solucionados com prioridade - afinal, pessoas morrem nos hospitais por falta de medicamentos, médicos e outras coisas básicas. Mas hoje se promete erguer “mais quatro andares em uma casa em cujo térreo em vias de desmoronar faz-se necessário uma reforma emergencial”. Alguém pensa em comprar um carro zero de luxo quando sua família não tem orçamento nem mesmo para cuidar da saúde? Alguém pensa em comprar aparelhos eletrônicos, como notebooks e celulares quando mal sabe ler e escrever?

Mas quem deve mudar no Brasil; o povo ou os candidatos? Onde esta mudança deve começar; na escola, em casa, nas ruas ou em Brasilia?

É irônico pensar que saímos da escola sem saber onde está a democracia no Brasil e voltamos para ela para depositar nas urnas a certeza de que continuamos sem saber.