Amor e escândalo em Os Segredos de Colin Bridgerton

 Um romance entre Penelope e Colin Bridgerton

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Querido e gentil leitor, 

Não poderia começar esta resenha com outra frase, como também seria impossível não comparar o livro "Os segredos de Colin Bridgerton" com a 3ª temporada da série Bridgerton da Netflix.

Esta que lhe escreve vem humildemente opinar que a adaptação da 3ª temporada é melhor que o livro, na qual pelo que pesquisei a autora Julia Quinn foi consultora da série. Sinto que a série tem muito carinho, respeito e zelo pela obra e pela autora Julia Quinn sendo recíproco da parte da autora para com a adaptação pelo que vi em suas entrevistas. Assim o resultado não poderia ter sido outro, uma série fantástica onde os fãs de Bridgerton só ganharam.

A série, aproveitando de uma demanda atual, insere representatividade de diversidade de corpos, sexualidade, críticas sociais, principalmente referente às questões das mulheres perante a sociedade, etarismo, e o mérito de pertencer à aristocracia. Acerta em alguns pontos onde neste livro replica questões problemáticas que foram normalizadas ou romantizadas. Na contramão do livro, a série se aproveita exatamente do contrário: ela normaliza a representatividade em um contexto histórico, pois as minorias representadas sempre existiram na história, mas onde elas estão quando contamos essas histórias? Por qual motivo essas minorias não aparecem? A série simplesmente as coloca lá e ponto.

Visto que a autora escreveu um romance histórico no final da década de 90 e início dos anos 2000, seria realmente difícil não replicar certos clichês problemáticos, mas como a própria escritora disse em entrevista sobre o porquê que acha que as pessoas ainda se interessam pelo gênero do romance histórico: "Querem se entreter, querem ter um sentimento bom, ver o conto de fadas mesmo que não acreditem nisso”. E está tudo bem e é sobre isso...

Longe da sagacidade de Lady Whistledown, irei discorrer sobre essa história do meu jeitinho e tentar não confundir o livro com a série:

Colin volta para Londres de suas longas viagens se achando "O garanhão” para mais uma temporada de levas de casamento na corte em 1824, (devo dizer que achei este costume esquisitíssimo) onde ele, com seus 33 anos, ainda não pensa em realmente se casar. Lady Whistledown não perde a oportunidade de o alfinetar em sua coluna semanal de fofocas por tamanha egocentricidade, sendo que no seu íntimo se pergunta onde foi parar o Colin mais empático e sem defeitos que ela, como Penelope, conheceu nas suas várias visitas à casa da família Bridgerton por causa da amizade que mantém Eloise, a irmã de Colin e que possui a mesma idade que ela.

Sim, Lady Whistledown é a invisível Penelope Featherington!!! Já te revelo tamanho segredo porque foi assim a minha experiência de leitura: no livro ela é descoberta quando finalmente ela ganha alguma atenção de seu amado, mas quando li o livro já tinha assistido a série de TV e me deparado com essa revelação no final da 2ª temporada.

Colin fica mais furioso com Lady Whistledown por tamanha ousadia, visto que já tinha prejudicado a reputação de sua família. Não entrarei nos pormenores desse assunto, pois se trata de outro livro e de outra temporada (sim, existe uma série de livros sobre os Bridgerton, bem como uma série de TV produzida pela Netflix com várias temporadas).

Voltemos para Penelope, com seus 28 anos, uma garota que está fora do padrão de beleza, a qual aceita que seu amado de longos 12 anos (big friend zone) e um dos pretendentes mais cobiçados, jamais olharia para ela com intenção romântica. Inclusive isso é externado com palavras ditas pelo próprio Colin, o qual é flagrado por Penelope na ocasião. Vendo seu futuro certo de solteirona destinada a cuidar da velhice de sua mãe, ela sabe que Colin simplesmente não a enxerga como uma possível noiva e por isso Penelope decide fazer coisas diferentes para obter resultados diferentes.

Então ela corre para a modista e troca o seu guarda-roupa, deixando de vestir aqueles vestidos com cores berrantes que sua mãe a obrigava a usar e passando a trajar tons de cores que a valorizam. Ela também se esforça para ter mais traquejo social, mas percebemos que ela não é boa nisso. Talvez devido a ter se acostumado aos cantos dos salões de bailes (de onde escuta tudo) e também a aguentar humilhações; principalmente vindas de Cressida, que era somente interrompidas quando Colin, tão gentil, ou um dos outros filhos Bridgerton eram obrigados pela sua mãe Lady Bridgerton, Violet, a dançar com Penelope.

O livro ainda acrescenta que Penelope emagreceu um pouco, mas não o suficiente para entrar no padrão de beleza estabelecido. Uma pena esta citação insinuando que estaria mais aceitável por isso.

A série ainda nos entrega um baile com o qual todas nós já sonhamos na adolescência, mesmo que não assumidamente; nos imaginando entrar no baile, descer as escadas e roubar toda a atenção das pessoas no salão, as quais param para admirar tamanha beleza o que nos faria sentir ganhando aquele carimbo de validação social. Ai ai... Quando vi isso na série, pensei “como Julia Quinn não pensou nisso?”!! Pois isto seria algo mais do que merecido… Penelope; maravilhosa, mostrando que “SIM”, ela é merecedora de admiração do jeito que ela “É”. Isto melhoraria o clichê do antes e depois. Nada como um clichê bem usado.

Nas idas e vindas da casa Bridgerton, Penelope; “sem querer”, lê o diário de Colin e fica encantada com a habilidade de escrita de seu amado, mas Colin a pega em flagrante e fica bravo, dá um chilique durante o qual acaba se cortando. Quando Penelope começa a ajudá-lo com o ferimento, ela o elogia em relação à sua escrita. Então ele desarma e fica interessado pelo que Penelope tem a dizer, ficando intrigado no fato de não ter prestado atenção nela antes: em sua inteligência, perspicácia e; porque não, na sua beleza.

Colin procura Penelope para conversar, sua admiração por ela só aumenta e o faz pensar mais e mais em “como não reparou nela antes”. Por fim ele acaba confessando para ela que se sente incompleto, insatisfeito com a vida, pois não têm um propósito.

Obviamente, Penelope fica irritada com a ousadia de Colin, ao dizer que tem “grandes problemas”. Aaaafffff, concordo plenamente com ela…

Porém, Penelope infelizmente faz a “mea-culpa” por sempre ter imaginado um Colin perfeito e também por não ter se dado a possibilidade de imaginar que ele teria realmente defeitos, mas afinal ela foi criada assim, não é mesmo. Por fim, não vemos Penelope fazer resistência a Colin nem por um segundo depois de tantos anos se rastejando por ele. Fica a critério de vocês leitores decidir o que pensam sobre isso. Finalmente Colin beija Penelope após a súplica desta por uma migalha de demonstração de carinho romântico, ele finalmente assume seus sentimentos por ela.

Enfim ele vai à casa dela e a vê saindo “estranhamente” com uma carruagem alugada e a segue em sua própria carruagem. Durante a perseguição, Colin fica imaginando para onde ela estaria indo, talvez poderia ser para sua casa, mas percebe que ela vai mais longe, para a parte humilde de Londres e o “protetor” Colin se irrita ao imaginar o quanto ela estaria se arriscando e pelo que estaria correndo esse risco (senti aqui um preconceito de classe hein).

Então Penelope vai até uma igreja e Colin, de longe, a observa deixando um pacote no banco. Em seguida ele se aproxima e a pega de surpresa saindo. Furioso por sua donzela estar em um lugar inapropriado e se arriscando a grandes perigos, ele a questiona sobre suas intenções naquele lugar. Penelope tenta enrolar Colin, mas ele dá um bote e pega o pacote, deixando-a desesperada, pois naquele pacote contém a próxima coluna de Lady Whistledown, o qual deixou para o tipógrafo publicar. Quando Colin abre o pacote, fica chocado e mais furioso, aperta os braços de Penelope, pega em seus ombros e a chacoalha, querendo que ela entenda o quanto isso era inapropriado e perigoso. Pois é, uma cena que desperta gatilhos não é mesmo cara leitora? Mais um dia na vida de uma mulher. 

A cena da perseguição de carruagem parece demonstrar que a autora, de alguma maneira, quer justificar a agressão de Colin; como se ele tivesse alguma razão. Penelope não cede e corre para fora, mas sua carruagem já havia ido embora, então, sem saída, ela espera o Colin para partirem de volta. 

Já na carruagem de Colin ela insiste em explicar seu ponto, diz que não irá deixar Cressida levar os créditos por ser Lady Whistledown; justo ela que, ainda por cima, foi oportunista e aproveitou que Lady Whistledown anunciou que não publicaria mais. Mas Penelope pretendia fazer sua última publicação para desmascará-la. Aquilo ela não suportaria, “cortaria seu coração”. Após um trabalho de 12 anos, durante os quais ninguém nunca a tinha descoberto.

Colin insiste em seu ponto de vista, e ela sabe que se a sociedade souber quem ela é, suas chances de casamento já tão pequenas iriam se tornar nulas. Fora a reputação de sua família. Cressida já era uma viúva falida, mas sem nunca perder a pose e a influência, queria o dinheiro oferecido por Lady Danbury (viscondessa muito fluente) para quem descobrisse quem era Lady Whistledown. Tal oferta foi feita para agitar a corte. 

Aqui a série brilhantemente adapta o clichê do bem contra o mal, a vilã e a mocinha, acertando na humanização de Cressida, falando sobre a rivalidade feminina; valoriza o trabalho de Penelope como escritora, pois a Penelope da série não quis desistir da coluna de Lady Whistledown e teve que lidar com Eloise, que foi quem descobriu primeiro sobre a outra vida da amiga. O que faz total sentido, pois ela já tinha atenção, amizade e o carinho de Eloise, fora que Eloise é muito esperta.

No livro, em sua família ela só tem o carinho de sua irmã mais nova, mas esta é muito jovem. Já sua mãe e suas outras duas irmãs mais velhas, a tratam como se fosse de uma espécie inferior, como fazia o restante da sociedade. Já na série a mãe e as irmãs mais velhas também são humanizadas (e ela não tem a irmã mais nova), mostrando que como ela, elas tentam viver da maneira que podem em uma sociedade patriarcal, reestruturando e fortalecendo a família Featherington.

Voltando à carruagem de Colin, no fim ambos não entram em acordo, mas a tensão sexual fica alta e temos a famosa cena erótica na carruagem onde Colin apresenta a Penelope como a vida pode ser feliz apenas usando os dedos e de repente a carruagem para na frente da casa dela... Bom... aqui também é diferente na série, mas vou ficar com a versão do livro: na frente da casa Featherington, Penelope se preocupa se alguém os viu e ele sai da carruagem e oferece as mãos para Penelope descer, ela fica preocupada que alguém pode estar vendo e isso o deixar em uma situação difícil em se responsabilizar por ela, então ele pergunta: “Penelope Featherington, quer ou não quer se casar comigo?”

Colin, apesar de confuso com a descoberta, também se auto avalia e analisa o porquê de seus reais sentimentos sobre o desentendimento que tiveram e com muito custo admite que tem inveja de Penelope, afinal ela realizou algo grandioso e tem um propósito na vida. Ele então fica envergonhado ao perceber isso e Penelope não consegue conversar sobre Lady Whistledown com ele. Então ela confunde o sentimento que ele demonstra na ocasião, achando que ele está sentindo vergonha de quem ela é.

Durante a festa de noivado na casa Bridgerton a coluna de Lady Whistledown é lançada, mesmo contra a vontade de Colin, pois Penelope (cuja vontade é a única que importa quanto à coluna), resolveu publicá-la. Mas era para ser lançada em outra festa, depois do seu noivado. Penelope deduz com Colin que o tipógrafo entendeu que a festa de noivado seria mais “bombástica” pelos longos anos de leitura da coluna e quis ganhar mais com isso. Sinceramente não entendi essa parte: entram no baile jogando panfletos sem cobrar e com isso iriam fazer pressão para Lady Whinstledown continuar. O que? Como assim o pobre do tipógrafo da classe trabalhadora, sem nenhuma influência e com inteligência limitada? Achei preguiçoso este argumento da autora.

Mais uma vez Colin mostra sua fúria, inclusive fisicamente contra Penelope. Na série Colin é muito capaz de se controlar e de se manter respeitoso com Penelope. Uma noite que era para ser romântica acaba em briga? Nada disso: acaba na cama de Colin. Antes do casamento Penelope descobre como é possível ser ainda mais feliz usando mais do que dedos.

Após o casamento, Penelope recebe uma visita de Cressida, que a chantageia querendo dinheiro, pois descobriu que ela era a Lady Whinstledown, devido a uma expressão “cortaria o meu coração” utilizada na coluna de fofocas e ao ser questionada no baile por Lady Danburry, que tem por Penelope grande simpatia, se acreditava que Cressida era quem dizia ser ao se revelar como Lady Whinstledown.

Penelope diz que tem quase todo o valor e Colin não aceita em ceder para a chantagem que não irá ter fim, então corre atrás do irmão Visconde para ajudá-lo com isso e arquiteta tudo por Penelope e aproveita o baile do Duque de Hastings, casado com sua irmã Daphne, para anunciar a verdadeira Lady Whinstledown. Após uma linda declaração de amor para Penelope diante de todos, ele revela para a sociedade quem é Lady Whinstledown, então Lady Danbury começa os aplausos, depois o Visconde de Bridgerton, depois o Duque de Hastings, e daí sim, as Bridgerton e as Featherington aplaudem, após as devidas validações e demonstração de influência, todo baile aplaude Penelope que não abre a boca para nada. 

Penelope vira editora do livro de Colin baseado em seu diário de viagem e depois de algum tempo pensa em lançar um romance próprio.

Devo confessar que achei fraco, uma personagem desta magnitude tendo que submeter seu talento. Portanto, amei a série, pois Penelope conseguindo finalmente o apoio de Colin, e não ser salva por ele, ela arquiteta a sua revelação usando o seu dinheiro no baile que suas irmãs inventaram em fazer e manda duas cartas, uma para Lady Bridgerton e outra para rainha Charlote se revelando e pedindo uma oportunidade de se explicar neste baile, assim o faz e se compromete a ter mais responsabilidade com o trabalho de colunista, tendo a validação que realmente importa, a da rainha Charlote. Achei genial.