Golem & o Gênio: Uma Fábula Atemporal em NY

 Capa do livro Golem e o Gênio de Helene Wecker, mostrando o título em destaque e uma ilustração de fogo e sombras.

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Golem & o Gênio

Uma Fábula Eterna

Helene Wecker

O que faz alguém sair de seu país natal com toda sua cultura e tentar prosperidade em um mundo novo?!

Sou da geração e de um recorte social que teve muita influência de obras americanas nas décadas de 80 e 90, e por isso acabamos “conhecendo” lugares que nunca fomos, como por exemplo Nova York. Achei fantástico ter uma perspectiva de uma NY nos seus primórdios, do final do século XIX, ter uma noção da importância dos imigrantes na construção desta cidade, principalmente sobre duas culturas, árabe e judaica, que historicamente existe conflitos.

Acompanhamos a saga da Golem, um boneco de barro, que foi feito por um rabino no leste europeu por encomenda de um rapaz que desejava uma esposa perfeita antes de ir para NY e tentar uma vida mais prospera. Contrariando orientações, a Golem foi animada por ele no navio, que cria uma ligação com o mestre. A Golem lê mentes, logo ela obedece a seu mestre antes mesmo da ordem, satisfazendo as vontades dele, assim controlando a sua natureza violenta.

Mas o rapaz falece no navio e a Golem desembarca em NY, e sem um mestre ela fica totalmente perdida podendo ser perigosa para as pessoas, então um rabino a reconhece como Golem e a ajuda, e dá o nome de Chava.

E claro, acompanhamos também a saga do Gênio, ou Djin, que foi aprisionado por um feiticeiro a centenas de anos em uma garrafa de cobre que foi passado por gerações, e acaba nas mãos de um ferreiro que vive em uma comunidade árabe em NY, que ao consertá-la “libera” o Gênio, que está desorientado e com muita raiva da vida que não teve, e o ferreiro lhe dá o nome de Ahmad. O Djin é de ar e fogo, portanto esta habilidade é usada para ajudar o ferreiro em sua demanda, mas a sua natureza é livre e se limitar a uma rotina em NY é sufocante.

Estas duas criaturas mágicas irão se cruzar e com as histórias paralelas com a deles desvendará o que eles têm em comum, em um final onde eles têm que deixar as diferenças de lado para suas sobrevivências tomando uma decisão muito difícil.

Capa do livro Golem e o Gênio de Helene Wecker, mostrando o título em destaque e uma ilustração de fogo e sombras.


[SPOILER início]


De um modo geral achei que o ritmo da história é lento, ainda mais que sabemos que os personagens, Golem e o Gênio, irão se cruzar, daí dá uma sensação maior ainda de lentidão, parece com a impressão de que a ida de uma viagem demora mais que a volta. Tive que ter paciência, pois as coisas tomam um ritmo melhor depois de 200 páginas lidas e irei confessar que demorei 9 meses para terminar o livro, sendo o que me fez sempre retornar a história, foi o vilão.

Alguns personagens secundários acabam sendo perceptíveis que estão lá para serem personagens que salvam os personagens principais, não que tenha problemas, a questão é ser perceptível durante o enredo. Achei que autora se preocupou mais em dar contexto e falar do ambiente do que desenvolver os personagens, assim quando acontece de alguns personagens morrerem não me sensibilizei tanto, tirando o rabino que ajudou Chava em NY.

Já em relação a grande ameaça que os dois tem que enfrentar foi para mim uma ótima virada, veio devagarzinho, mas não previ a ligação das histórias, no início da leitura não dei um centavo, mas veio aí.


[SPOILER fim]


É uma história com contexto histórico que adoro, pois nos lembra de onde viemos e ajuda na consciência social. Nos toca na tolerância, humanização, abordado aqui sobre a imigração e religião em um país que parece mais homogênea em sua cultura hoje em dia.

Em tempos como hoje, que aflora a intolerância aponto de desejar o extermínio do outro em prol de uma higienização social, obras assim ajudam na reflexão.