O Verdadeiro Som dos Dinossauros: e por qual motivo eram mais assustadores

O Verdadeiro Som do Medo: Como os Dinossauros Realmente Soavam (e Por Que Isso é Incrível Para a Ficção)

Estou escrevendo um capítulo introdutório para o livro "Psicotrápolas: O Fantasma da Mortalha de Fogo", e para poder narrar certos aspectos do cenário onde a história se desenrola, precisei pesquisar um pouco para saber qual a melhor forma de descrever o som dos dinossauros. Se eu não tivesse visto um vídeo recentemente no Youtube sobre o assunto, talvez eu tivesse procurado descrever o som conforme o imaginário popular, sobretudo com o famoso e icónico som do T-Rex que conhecemos do filme Jurassic Park. Mas este vídeo mudou completamente a minha percepção sobre esse elemento narrativo, me fazendo perceber que a descrição dos verdadeiros sons dessas criaturas poderia ser muito mais assustadora e interessante para a atmosfera que desejo para essa história.

O Rugido que Nunca Existiu

Vamos direto ao ponto: o rugido do Tiranossauro Rex em Jurassic Park, embora seja uma obra-prima do design de som cinematográfico, é cientificamente improvável. O som que nos aterrorizou nas salas de cinema é uma mistura complexa de sons de elefante, tigre, crocodilo e outros animais. O problema é que o "rugido" como o conhecemos é uma característica dos mamíferos, que possuem uma laringe (caixa de voz).

Dois aventureiros, Edin e Dion, sentados em volta de uma fogueira ao pôr do sol em uma floresta tropical, com uma antiga cidade murada e montanhas ao fundo. Um homem com barba segura cartas e um cajado místico, enquanto o outro toca uma ocarina. A cena detalha vestimentas com capas laranjas e lenços roxos, e criaturas pré-históricas como um pterossauro e um dinossauro se espreitam nas sombras. Perfeito para contos de fantasia, jogos de RPG e ilustrações épicas de aventura.

Dinossauros não são mamíferos. Eles pertencem a um grupo chamado Arcossauros, cujos parentes vivos mais próximos são os crocodilianos e as aves. E o que esses animais têm em comum? Eles não rugem. As aves possuem um órgão vocal chamado siringe, localizado na base da traqueia, que lhes permite criar sons complexos como pios, gorjeios e grasnidos. Os crocodilos, por sua vez, produzem sons guturais profundos, assobios e "roncos" de baixa frequência, muitas vezes fazendo a água ao seu redor vibrar.

Portanto, um dinossauro não teria a anatomia necessária para produzir o rugido de um leão. O som deles seria algo muito mais primitivo, alienígena e, honestamente, muito mais perturbador.

Como os Cientistas Estão Decifrando os Sons Pré-históricos?

Se não temos gravações, como podemos saber? A ciência por trás disso é fascinante e se baseia em três pilares principais:

  1. Análise de Parentes Vivos (Bracketing Filogenético): Os cientistas olham para os dois grupos de parentes mais próximos dos dinossauros: crocodilos (que vieram antes) e aves (que evoluíram a partir deles). Se ambos os grupos partilham uma característica, é muito provável que os dinossauros no meio também a tivessem. Para o som, isso significa que as vocalizações dos dinossauros seriam uma mistura de características de aves e répteis.
  2. Modelagem por Fósseis: Com a tecnologia de tomografia computadorizada (CT scan), os paleontólogos podem criar modelos 3D das passagens nasais, crânios e até das cavidades do ouvido interno dos dinossauros. Ao simular a passagem de ar por essas estruturas, eles podem prever as frequências e a ressonância dos sons que um animal poderia produzir e ouvir. O famoso crânio do Parassaurolofo, com sua crista oca, é um exemplo perfeito de uma câmara de ressonância natural, sugerindo que ele emitia sons profundos, como os de uma trompa.
  3. Infrassom: Muitas das simulações apontam para o uso de infrassons — sons de frequência tão baixa (abaixo de 20 Hz) que são inaudíveis para os humanos, mas que podem ser sentidos como uma vibração. Elefantes e crocodilos usam o infrassom para se comunicar a longas distâncias. Um T-Rex, com seu tamanho massivo, poderia ter produzido um ronco infrassónico tão poderoso que você sentiria o chão e seus próprios órgãos internos tremerem muito antes de conseguir ouvi-lo. Assustador, não é?

A "Receita" Sonora de Alguns Dinossauros

Em vez de links, que tal tentarmos algo mais descritivo? Imagine que você é um designer de som ou um escritor tentando descrever essa cena. Aqui está uma "receita" sonora para algumas espécies, baseada nas descobertas científicas:
  • Tiranossauro Rex:
    • Base: Um ronco profundo e gutural de um grande crocodilo, amplificado cem vezes.
    • Camada 1: Adicione o "boom" de baixa frequência de uma avestruz ou casuar, mas tão grave que soa como um trovão distante se aproximando.
    • Efeito: Inclua uma vibração de infrassom que faz o ar parecer pesado e pressiona o peito. O som não é agudo, é uma presença massiva e opressora.
  • Parassaurolofo:
    • Base: O som de uma trompa ou um trombone tocando uma nota longa e melancólica.
    • Camada 1: Misture com o som oco do vento soprando sobre uma garrafa gigante.
    • Efeito: Um chamado que ecoa pela paisagem, não necessariamente agressivo, mas poderoso e capaz de comunicar diferentes mensagens (alerta, acasalamento, etc.).
  • Anquilossauro:
    • Base: Por ter um crânio pequeno e sem grandes câmaras de ressonância, seu som seria menos vocal. Pense em bufos e sibilos altos, como uma gigantesca tartaruga irritada.
    • Camada 1: Sons de estalos e grunhidos graves, mais reativos do que comunicativos.
    • Efeito: O som de uma fortaleza viva, que não precisa gritar para mostrar seu perigo. O som principal seria o de sua cauda em forma de clava a свистеть no ar.
  • Velociraptor (e outros Dromaeossauros):
    • Base: Esqueça o grito reptiliano do cinema. Pense em aves. Um som sibilante e agudo, como o de um ganso furioso, misturado com os estalos e pios de uma ave de rapina.
    • Camada 1: Adicione cliques guturais para comunicação em bando.
    • Efeito: Um som inteligente, nervoso e calculista. Vários desses sons juntos criariam uma cacofonia aterrorizante, sinalizando um ataque coordenado.

Por Que Usar a Ciência na Ficção?

Aprofundar-se em detalhes como este pode elevar uma história de fantasia ou ficção científica a um novo patamar. Em vez de usar o clichê do "rugido ensurdecedor", você pode criar uma atmosfera única e muito mais eficaz:

  • Originalidade: Sua história se destacará por não seguir o caminho batido da cultura pop.
  • Imersão: Detalhes cientificamente embasados tornam o mundo mais crível, profundo e real para o leitor.
  • Terror Aprimorado: O que é mais assustador? Um monstro que grita ou um predador gigante cujo som você sente vibrando em seus ossos antes mesmo de conseguir ouvi-lo? O infrassom, por si só, é uma ferramenta narrativa incrível para construir tensão e pavor.

Essa pesquisa mudou a forma como vou descrever as criaturas no meu livro. O terror pode ser silencioso, pode ser uma vibração, pode ser um som estranho e avícola vindo de onde não deveria.

Conclusão

O capítulo introdutório de "Psicotrápolas: O Fantasma da Mortalha de Fogo" ainda não está finalizado, mas esta descoberta sobre os sons dos dinossauros já está me ajudando a moldar algumas das cenas iniciais (eu não escrevo de forma linear, então, o capítulo já está com o roteiro completamente pronto, mas estou repassando por ele, acrecentando cenas, mudando outras e eliminando o que é necessário). Ele está em estágio avançado de escrita e, em breve, será publicado no Wattpad para que todos possam ler. Fiquem atentos!

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