A Lua cheia da última Sexta-feira 13 de Junho de 2025

O Inverno está chegando... E outras coisas mais...

A síndrome do "coelhinho da Alice" não me abandona nunca. Estou atrasado, definitivamente atrasado. Sei bem disso, pois junho já está no seu último "terço" e eu ainda não postei tudo o que gostaria no Wattpad. Sim, estou postando uma história no Wattpad, mas o atraso está segurando meus braços e pernas, por mais que eu corra para terminar tudo à tempo...

Foi a minha esposa quem me diagnosticou com essa síndrome, pois eu sempre vivo atarefado, com mil projetos em andamento e atrasado em todos eles, ou pelo menos acho que é por aí que a coisa vai.

Desde o diagnóstico, tenho tentado me tratar e isso significa separar um tempo para não fazer nada. É difícil, mas às vezes eu consigo.

Em todo caso, a sensação de "estar atrasado" não me abandona e hoje eu estou aqui para falar de mais um projeto que era para estar mais adiantado do que eu gostaria, não fossem os percalços da vida.

Um dos percalços deste mês de junho é o meu pai. Ele é alcoólatra e “ele” foi um grande problema em nossas vidas por muitos e muitos anos (não por ser alcoólatra, pois há muitos alcoólatras que são super tranquilos e pessoas boas, apesar de seus problemas). Eu lembro quando a figura dele se confundia com a silhueta de um verdadeiro vilão; um ser odiável e asqueroso que significava apenas ameaça e vilania para nossa mãe e para meus irmãos e eu. Hoje, esse vilão está vencido: foi completamente derrotado pelo tempo (este monstro ainda mais terrível que não poupa nem mesmo montanhas) e pelo peso de suas próprias ações. Não somos amigos, como se pode perceber pelo meu breve relato à respeito dele. Mas tento ter um relacionamento cordial com ele, na medida das minhas possibilidades. Quando ele está sóbrio, é uma pessoa com quem é possível conversar de forma decente, desde que certos limites estejam estabelecidos. Quando está embriagado (nem que seja só um pouco), deixa transparecer o ogro sociopata que mora dentro dele (para o qual estou mais que vacinado).

Uma figura lupina sinistra e misteriosa, com olhos verdes brilhantes, está montada em uma mountain bike vermelha no topo de uma colina com vista para uma cidade, sob uma pequena lua cheia centralizada em uma noite fria de outono. A criatura veste roupas pretas, coturnos militares pretos e uma pequena mochila tática, exalando uma aura de mistério e solitude. A luz ambiente é fria, com a iluminação da lua realçando o contorno da figura e da bicicleta. A imagem evoca uma atmosfera gótica e melancólica, ideal para ilustrar temas de lobisomens urbanos, jornadas noturnas ou confrontos internos.

Infelizmente, mesmo com os problemas de saúde que ele tem hoje, o álcool continua em sua vida, como um companheiro fiel e inseparável. Meu pai pediu para ser internado, pois acha que precisa passar um tempo longe do seu velho e fiel amigo. Ele faz isso de tempos em tempos: quando percebe que seu amigo álcool está próximo demais, arrastando-o para as profundezas, ele tenta se esquivar dele fugindo para as montanhas ou qualquer outro ermo, onde se “tranca” em busca de sobriedade.

Eu o internei no último dia 13, em uma sexta-feira. Não escolhi a data de propósito, mas ela caiu como uma luva. Eu lembrei de um poema; uma certa carta para um certo personagem de "A Rua dos Anhangás".

🐺

Evite qualquer escura e erma senda.

Hoje é sexta-feira 13 e a lua está cheia.

Escute os ecos sussurrantes se arrastando em suas entranhas.

Tenha medo, pois você deve.

Hoje é sexta-feira 13 e a noite guarda muita coisa estranha.

Recolha-se bem cedinho, e se algeme à algum grilhão.

O mau em seu estômago geme, à espera de um empurrão.

Para romper a epiderme de cordeiro, 

como um lobo zombeteiro,

à soprar uma frágil cabana de palha; 

e revelar o seu segredo,

um bicho cujo caráter é só um malicioso amontoado de lodo e de falha.

Pode gritar bem alto, camarada, mas não adianta pedir socorro.

A lua cheia te observa, mas não liga para o seu sufoco.

Não venha se lamuriar.

Não venha fazer queixa.

Para começar, hoje é sexta-feira 13 e a lua está cheia.

Você bem sabe.

Eu te avisei.

Sobre estes seus abismos interiores.

Estão lotados e possuídos, por muita coisa feia.

Se quer um conselho, eu vou lhe dar.

Deixe a coisa fluir. Deixe a coisa caminhar.

Ponha para fora, esse uivo estrangulado.

E respire o ar da noite.

Deixe a fera desabafar,

exalando o seu hálito de sangue.

Hoje a lua cheia cai na sexta-feira 13,

por tanto a noite é de lobisomem.

Eu quiz postar alguma coisa no dia, mas, enfim, aquela sexta-feira 13 foi bastante agitada. Acho que a criatura (o meu pai) adorou o lugar onde foi hospedado: as colinas verdejantes e a sensação de solitude no horizonte remetem às pinturas bucólicas de paisagens góticas no clima frio de final do outono e inverno daqui do Sudeste.

Espero que esse velho inimigo aprecie suas pequenas férias e que seu fantasma de estimação se esqueça dele pelo máximo de tempo possível, afinal, o velho ogro já não é mais tão forte quanto antigamente.

Quanto à mim, naquele mesmo dia, ou melhor, naquela mesma noite, fiz um pequeno "passeio" de bicicleta à caverna onde fui criado. Eu precisava organizar algumas coisas por lá: guardar umas ferramentas, fechar a água, cortar uma primavera que havia crescido tanto que praticamente estava barrando o caminho pelo corredor. Estava frio e a vista da lua cheia no alto das colinas na volta para casa estava esplêndida. Pena que uma gripe forte me acometeu naquele dia e me deixou com a garganta ardendo por alguns dias.

Isso (e algumas outras coisas) atrasou meus projetos literários. 

O projeto em questão é o universo fantástico do qual já falei em várias postagens aqui no Blog, como em "O povo das mandalas errantes", "As Harpias das Colinas Brancas", "A queda de Ancar", etc.

Mas, um fantasma que me acompanhou por muitos anos foi não conseguir escolher um nome para esse universo; um nome que eu pudesse usar como marca para nomear toda uma coleção de histórias independentes e também sagas que se passam em uma mesma ambientação.

Parece que agora eu tenho esse nome e vou começar a reorganizar meus posts e histórias usando ele. É um nome um tanto estranho e exótico e, por isso mesmo, é perfeito para o que eu planejo: Psicotrápolas.

Sim, Psicotrápolas.

Um breve explicação do termo se faz necessária (mas uma bem "breve" mesmo, pois hoje eu não vou me aprofundar em nada: estou apenas discorrendo vagamente sobre assuntos que eu gostaria ter abordado em profundidade no tempo certo, mas sobre os quais é melhor não me aprofundar no tempo errado).

"Psico" quer dizer mente e também espírito. Quando falamos de poderes psíquicos, estamos falando de poderes que podem ser "mentais" ou "espirituais", mas também que podemos entender dentro da esfera do "sobrenatural", afinal, não nos parece "natural" que alguém consiga incendiar ou mover "coisas" com o poder da mente. Isso parece, no mínimo, algo anti-natural.

Mas o "psico" aqui tem o sentido de espírito ou, se preferir, de entidade espiritual ou, ainda, entidades "sobrenaturais".

"Trápola", por sua vez, é uma palavra que pode significar tanto "Armadilha" como "Trapaceiro", ou seja, alguém que faz armadilhas e engana os outros.

Psicotrápola, por sua vez, é um termo propositalmente ambíguo, podendo significar tanto "Espírito Trapaceiro" como também "Armadilha Espiritual" ou ainda, "Aquele que caça Espíritos".

E é com esse neologismo ambíguo e exótico que este universo fantástico vai ser batizado.

Logo mais, volto para falar sobre o universo de "Psicotrápolas" e sobre as histórias que estão por vir.


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