🎨 Saudações.
As últimas semanas foram bem agitadas na minha família, mas agora as coisas estão começando a voltar à normalidade. Com isso, estou finalmente retomando alguns projetos, enquanto a correnteza do caos segue forte e avassaladora no mundo da tecnologia (que é onde eu trabalho).
Escrever, nesse sentido, é um momento de relaxamento e reenergização. E eu estava ansioso para voltar a trabalhar nos meus contos e outras obras literárias.
Resolvi finalmente publicar alguns velhos contos lá no Wattpad e, de quebra, começar a publicar novos projetos por lá também.
Porém, isso me trouxe uma questão com a qual eu não precisava me preocupar há uns dois ou três anos: como vou criar a capa dos meus livros?
Ou melhor: devo ou não usar IA para gerar a capa dos meus livros?
Eu creio que já falei sobre isso aqui há alguns posts e já falei sobre a minha decisão. No entanto, pretento resgatar esse tema, mesmo que eu não tenha mudado de opinião, mas porque de lá para cá aprendi algumas coisas que podem ser úteis para orientar autores independentes que possam estar em dúvida sobre isso ou mesmo para separar o que é Verdade e o que é Mentira nessa polêmica. Então vou compartilhar o que aprendi sobre o assunto com os leitores desse blog (sejam escritores como eu, ou apenas apreciadores de arte em geral).
O Mundo da Arte em Choque
A ascensão da inteligência artificial (IA) generativa de imagens tem causado ondas de choque no mundo da arte, levantando questões importantes sobre seu impacto nos artistas humanos. Peguemos como exemplo recente a onda viral de pessoas recriando imagens e fotos copiando o estilo artístico do Estúdio Gibli (estúdio de animação oriental famoso, responsável por obras icônicas como "As Viagens de Chihiro", "O Castelo Animado", "O Menino e a Garça", entre muitos outros). Esse surto de pessoas usando IA para recriar imagens copiando o estilo Gibli reavivou a polêmica em torno do uso da IA para gerar imagens, direitos autorais, plágio, etc.
A possibilidade de criar imagens complexas com apenas alguns comandos de texto gera tanto fascínio quanto preocupação. Mas, afinal, usar IA para gerar imagens prejudica os artistas humanos? Vamos desmistificar esse assunto, separando o que é verdade do que é ficção.
Verdades e Mentiras sobre IA e Artistas Humanos:
- Verdade: As IAs generativas de imagem são treinadas em vastos conjuntos de dados que incluem obras de artistas humanos. Essa é a base do seu aprendizado para reconhecer estilos, formas e conceitos visuais.
- Verdade: A facilidade e o baixo custo da geração de imagens por IA podem levar a uma menor demanda por certos tipos de trabalho artístico humano, especialmente em áreas mais comerciais e ilustrativas.
- Verdade: Muitos artistas humanos expressam preocupações éticas sobre o uso de seu trabalho no treinamento de IAs sem consentimento ou compensação.
- Verdade: A IA pode ser utilizada para imitar o estilo de artistas específicos, levantando questões sobre a integridade autoral e a possibilidade de uso não autorizado.
- Mentira: De modo simplificado, podemos dizer que a IA não copia diretamente as obras de artistas humanos. Ela aprende padrões e gera novas imagens com base nesse aprendizado. Não há um "Ctrl+C, Ctrl+V" de obras existentes. Embora seja possível usar a IA para efetivamente copiar uma obra de arte, dependendo do prompt, em geral as IA's aprendem apenas padrões, estilos, etc e, com base nesse conhecimento, geram imagens originais replicando os padrões aprendidos mesclando os comandos passados no prompt. Exemplo: recrie a monalisa usando o estilo de animação do estúdio Gibli.
- Mentira: A IA não substituirá completamente os artistas humanos. A arte envolve muito mais do que a mera geração de imagens, incluindo intenção, emoção, conceito e uma perspectiva humana única. Sendo assim, as imagens geradas por IA são produtos artificiais inspirados em arte humana, mas não são arte em si e por mais que a qualidade e precisão das imagens tenha aumentado muito nos últimos meses, ainda não é realista imaginar que seja possível usar IA para substituir artistas humanos em trabalhos que exijam qualidade, consistência e um nível de complexidade conceitual e artística.
Plágio e a Lei: O que é e o que não é?
No contexto legal tradicional, o plágio geralmente se refere à apropriação indevida da obra intelectual de outra pessoa, apresentando-a como própria. Isso envolve a cópia literal ou substancial de uma obra protegida por direitos autorais.
Atualmente, a situação da arte gerada por IA e o plágio são complexas:
Obras Geradas por Humanos: A lei de direitos autorais protege as obras originais de autoria humana. Copiar ou utilizar substancialmente essas obras sem permissão constitui plágio.
- Treinamento da IA: O uso de obras protegidas por direitos autorais no treinamento de IAs é uma área cinzenta legal. Em muitos países, alega-se que isso se enquadra no uso justo (ou equivalente legal), especialmente para fins de aprendizado e pesquisa. No entanto, essa questão ainda está sendo debatida e pode haver mudanças na legislação no futuro.
- Imagens Geradas por IA: A maioria das imagens geradas por IA não é considerada plágio direto de uma obra específica de um artista humano, pois a IA cria algo novo com base nos padrões aprendidos. No entanto, se um prompt for muito específico e intencionalmente direcionado para replicar uma obra existente, ou o estilo de um artista de forma indistinguível, as implicações éticas e legais podem ser questionadas.
- Direitos Autorais da IA: Em muitos casos, considera-se que a imagem gerada pela IA não possui direitos autorais próprios, pois não houve uma criação humana no sentido tradicional. A autoria e a propriedade intelectual dessas imagens ainda são temas em discussão.
Como a IA Pode Prejudicar Artistas Humanos:
Apesar de não haver necessariamente plágio direto no sentido legal, a IA pode prejudicar artistas humanos de diversas maneiras:
- Desvalorização do Trabalho Artístico: A abundância de imagens geradas por IA pode levar à desvalorização do trabalho artístico humano, especialmente para tarefas mais simples ou visuais genéricos.
- Redução da Demanda: Empresas e indivíduos podem optar por usar imagens geradas por IA por serem mais baratas e rápidas de obter, diminuindo a demanda por artistas humanos.
- Preocupações Éticas com os Dados de Treinamento: Artistas não tiveram controle sobre o uso de suas obras no treinamento das IAs, levantando questões sobre direitos de propriedade intelectual e consentimento.
- Imitação de Estilos: A capacidade da IA de imitar estilos pode prejudicar artistas que construíram uma identidade visual única ao longo de suas carreiras.
- Uso Não Autorizado: A facilidade de gerar imagens pode levar ao uso não autorizado de estilos e conceitos que foram originalmente desenvolvidos por artistas humanos.
O Lado Positivo: Como a IA Pode Ajudar Artistas Humanos:
É importante notar que a IA também oferece ferramentas e oportunidades para os próprios artistas humanos:
- Inspiração e Brainstorming: A IA pode gerar ideias visuais rapidamente, auxiliando artistas no processo criativo e na exploração de novos conceitos.
- Geração de Protótipos e Conceitos: Artistas podem usar a IA para criar protótipos rápidos de ideias antes de investir tempo e esforço na criação manual.
- Automatização de Tarefas Repetitivas: A IA pode auxiliar em tarefas como remoção de fundos, retoques e outras edições, liberando tempo para o trabalho criativo principal.
- Novas Formas de Expressão Artística: A IA abre novas avenidas para a criação artística, permitindo a combinação de habilidades humanas com as capacidades generativas da máquina.
- Acessibilidade para Não Artistas: A IA democratiza a criação visual, permitindo que pessoas sem habilidades artísticas tradicionais visualizem suas ideias.
IA para Projetos Não Lucrativos e Autores Independentes: Uma Mão na Roda?
Para indivíduos com projetos pessoais, como blogs e sites não lucrativos, e para a vasta maioria dos autores independentes que publicam com orçamentos apertados, a IA generativa de imagens pode ser uma ferramenta extremamente útil. Historicamente, esses projetos muitas vezes dependiam de bancos de imagens gratuitos (com riscos de direitos autorais) ou de criações amadoras, pois contratar um artista profissional simplesmente não era viável financeiramente.
Nesse cenário, a IA oferece uma alternativa para ilustrar postagens de blog sobre temas específicos (como usar imagens personalizadas para um artigo sobre "O Senhor dos Anéis", evitando o uso indevido de obras de artistas como Alan Lee) ou para criar capas de livros mais personalizadas para autores independentes que, de outra forma, não teriam condições de investir em um capista profissional.
É importante notar que, em muitos desses casos, a IA não está substituindo uma demanda existente por artistas humanos. Para a grande maioria dos blogs pessoais e para muitos autores independentes, a contratação de um artista profissional nunca foi uma opção realista devido a restrições orçamentárias. A IA, portanto, democratiza o acesso à geração de imagens, permitindo que indivíduos com recursos limitados criem visuais mais adequados para seus projetos.
Eu posso me citar como um exemplo disso: estou acompanhando a democratização da publicação independente desde o lançamento das plataformas de autopublicação mais antigas aqui no Brasil (KDP, Wattpad, Clube de Autores, etc). Em todos esses anos, nunca contratei um artista para criar minhas capas. Não falo isso com orgulho (eu adoraria poder contratar um artista para criar minhas capas). Mas também não falo isso com vergonha: a realidade da maioria dos autores independentes é essa: investir em outros profissionais na construção de um livro é irrealista e, a menos que um autor independente consiga se tornar um best seller e vender muitos livros, ele provavelmente vai continuar não tendo recursos financeiros para investir nisso, a menos, é claro, que ele use recursos financeiros que obtém com outro trabalho que não seja a escrita para investir nisso (neste caso, vai estar gastando com algo que, por sua vez, dificilmente dará algum lucro financeiro). Essa realidade não é motivo para ninguém se abalar e muito menos fingir surpresa (a menos que você seja um jovem que ainda não sabe como funciona o mercado). É notório que em qualquer campo artístico, a maioria dos artistas não consiga "sobreviver" financeiramente da sua arte. É um campo muito parecido com o esporte: em muitos casos, os atletas precisam ter um emprego que pague suas contas em quanto se dedicam ao esporte, pois não conseguem sobreviver de sua paixão.
Contudo, é fundamental lembrar que as questões éticas em torno do treinamento das IAs com obras de artistas humanos ainda são válidas, mesmo neste contexto. Além disso, embora a IA ofereça uma solução acessível, a qualidade e a originalidade podem não se comparar ao trabalho de um profissional. A principal diferença aqui reside no fato de que, para este nicho específico, a IA preenche uma lacuna onde o investimento em arte profissional era improvável, não diminuindo diretamente uma demanda preexistente significativa por esses serviços. A preocupação maior surge quando empresas estabelecidas, que tradicionalmente contratam artistas, começam a substituir esse trabalho pela IA.
Usar ou Não IA para Criar Capas de Livros: Prós, Contras e Implicações:
A decisão de usar ou não IA para criar a capa do seu livro é pessoal e envolve ponderar diversos fatores:
Prós de Usar IA:
- Custo-Benefício: Geralmente é mais barato (ou até gratuito) usar IA do que contratar um artista profissional para criar uma capa sob medida.
- Rapidez: A IA pode gerar diversas opções de capas em questão de segundos ou minutos.
- Variedade de Estilos: As IAs podem gerar imagens em uma ampla gama de estilos visuais, permitindo explorar diferentes opções.
- Facilidade de Uso: As interfaces das ferramentas de IA são geralmente intuitivas e fáceis de usar, mesmo para quem não tem experiência em design gráfico.
Contras de Usar IA:
- Questões Éticas: Como discutido, o uso de IA levanta preocupações éticas sobre o impacto em artistas humanos.
- Potencial Percepção Negativa: Alguns leitores e artistas podem ter uma visão negativa de capas criadas por IA, o que pode influenciar a percepção do seu livro.
- Falta de Toque Humano e Colaboração: Ao usar IA, você perde a oportunidade de colaborar com um artista humano, que pode trazer sua própria interpretação, emoção e expertise para a criação da capa.
- Ambiguidade dos Direitos Autorais: A questão de quem detém os direitos autorais da capa gerada por IA pode ser incerta.
- Possível Falta de Originalidade Única: Embora a IA gere imagens novas, elas são baseadas em padrões aprendidos, o que pode levar a uma certa falta de originalidade única em comparação com o trabalho de um artista humano.
Implicações da Escolha:
- Impacto em Ilustradores e Designers: Se muitos autores optarem por usar IA, isso pode reduzir a demanda por ilustradores e designers de capas de livros.
- Percepção do Leitor: A capa é a primeira impressão do seu livro. Uma capa criada por IA pode transmitir uma mensagem diferente do que uma capa criada por um artista humano.
- Valor a Longo Prazo: Uma capa criada por um artista humano pode ter um valor artístico e emocional maior a longo prazo.
Conclusão:
A utilização de IA para gerar imagens é uma ferramenta poderosa com potencial para auxiliar e, em alguns casos, impactar o trabalho de artistas humanos. A linha entre o que é ético, legal e prejudicial ainda está sendo definida. Ao decidir se vai usar ou não IA para criar a capa do seu livro, é importante estar informado sobre o debate, considerar suas próprias convicções e pesar os prós e contras para tomar a decisão que melhor se alinha com seus valores e objetivos como escritor.
Apesar de eu usar IA para ilustrar os posts do meu Blog, eu escolhi não usar IA para gerar a capa dos meus livros, por dois... Não, por três motivos:
- Eu possuo alguma habilidade com ferramentas de designer; como o Canvas, e sei desenhar um pouco — bem pouco, mas isso já é o suficiente para me dar alguma base sobre o que pode ou não ser uma capa de qualidade. Então, como eu tenho feito ao longo de uma década, prefiro criar as minhas próprias capas;
- Além disso, embora eu prefira escrever do que desenhar ou criar colagens digitais, ainda assim acho divertido produzir minhas capas (é um trabalho árduo, mas o resultado é satisfatório, ainda que este "resultado" não seja nada comparado ao trabalho que um artista entregaria);
- Quem gosta de desenhar, ou tem algum interesse em no assunto e é um pouco exigente e já experimentou a geração de imagens por IA sabe o quanto é difícil fazer a IA interpretar seu prompt e gerar algo parecido com o que você imagina. Eu sou muito chato e exigente com isso e acho frustrante quando preciso reescrever um prompt umas trinta vezes para melhorar a imagem para ilustrar um post. Imagina então tentar gerar a imagem para a capa de uma história? Por mais que às vezes as capas que eu crio sejam colagens de cliparts ou uma combinação intrincada de filtros sobre fotos e imagens de bancos gratuítos, eu sinto que tenho mais controle sobre o resultado final quando crio as imagens para as minhas capas. Sim, às vezes eu crio várias versões até chegar a um resultado que eu ache satisfatório, mas me sinto menos frustrado quando estou com a mão na massa. Esse não é um motivo completamente racional para eu decidir não usar a IA, mas é um motivo válido do meu ponto de vista pessoal. A IA pode gerar imagens muito interessantes, mas é preciso um certo desapego com o resultado final para evitar cair em um circulo vicioso de tentativas frustradas de gerar a "imagem perfeita".
Ressalto aqui a minha opinião de que não considero errado um autor independente usar IA para criar as imagens para as capas do seu livro, ainda mais se estivermos falando de um autor independente que não ganha dinheiro com suas obras. Claro, desde que o autor independente use a IA com responsabilidade, sem copiar o estilo de artístas humanos e buscando ser o mais originais em seus prompts. Um exemplo de como escritores independentes podem fazer isso com ética e segurança é esboçando imagens (mesmo que não tenham habilidade com desenho, podem esboçar alguns rabiscos) ou tirando fotos e, a partir desse material, usar a IA para gerar imagens novas. Neste caso, a IA estaria trabalhando a partir de material original do próprio autor, aplicando sua habilidade robótica para gerar ilustração, sem copiar o estilo de outros artistas.
Mas e você? O que pensa sobre isso? Você usaria IA para criar a capa dos seus livros? Você é contra essa prática? Ou é à favor dela? Compartilhe sua opinião nos comentários!
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