Os gritos dos marinheiros eram abafados pela tempestade que rugia ao redor do navio como um terrível monstro marinho. Eu espionava pelas frestas na madeira da minha cela, na esperança de descortinar o quão ruim a situação estava lá fora.
— Com mil Górgonas! Seu Nemediano miserável, tenha descência e me deixe sair daqui... Eu posso ajudar a baldear a água — gritei para um dos soldados que passou correndo em frente a porta de madeira, chapinhando na água salgada que já nos alcançava ali no porão do navio, indicando que a situação era no mínimo "desesperadora". O soldado sequer me dirigiu a palavra ou mesmo um olhar, passou por mim completamente alheio ao meu chamado, com olhos vidrados e o rosto lívido.
Como a água continuava subindo e os gritos e a correria não paravam, me lancei contra a porta da cela, na tentativa de arrombá-la. Tive certeza de que estávamos afundando quando ninguém veio até mim à despeito do barulho que eu fazia.
Sem contar no barulho que o navio fazia; um gemido hediondo de madeira e água espirrando e fluindo de forma infernal, como e o próprio navio fosse uma criatura lamentando e se debatendo durante um afogamento.
O portão cedeu um pouco com o meu último chute e meu pé ficou latenjando horrores, mas não havia um momento sequer para me queixar de dor. Enfie o braço pela brecha e tentei alcançar o trinco, mas havia um maldito trinco do lado de fora, selando o trinco com uma corrente de ferro presa a este cadeado.
Voltei a me lançar contra a porta, na tentativa de arrancar os pregos da outra dobradiça à força, mas só consegui fazer ela ceder um pouco mais. Talvez a brecha na lateral fosse suficiente para eu me espremer pela abertura estreita e foi o que fiz enquanto a água já estava em minha cintura. Os gritos dos marinheiros haviam se tornado ainda mais distantes e suponho que muitos tenham abandonado o navio pulando no mar ou tentado a sorte nos botes de madeira.
Quando eu finalmente consegui deixar aquele maldito cubículo de madeira fétida repleta de água do mar, corri para a escotilha que levava ao convés da melhor forma possível enquanto o navio dançava caóticamente em meio à tempestade. O vento era tão ensurdecedor quanto as ondas quebrando contra o costado e o navio subia e descia na crista de ondas colossais.
Eu não sabia o que fazer e quando o navio tombou diante de uma onda colossal, lembro-me de ter me agarrado a um mastro que havia despencado trazendo consigo o cordame e a vela à baixo, batendo com violência contra o convés.
E enquanto eu abraçava aquele pedaço de madeira, vi e senti a escuridão turva do mar me engolindo e também a todo o navio, que afundou lentamente. Tenho uma vaga lembrança de tentar me impulsionar para cima enquanto eu ainda tinha uma noção de cime e embaixo.
Não lembro mais nada claramente depois disso...
Quase me afoguei, senti água e vento me arremessando e me puxando de um lado para o outro, para dentro e para fora da água, enquanto eu me segurava naquele pedaço de madeira como se estivesse agarrado ao fio da própria vida...
Mas a exaustão enfim chegou e eu desmaiei. Por quanto tempo fiquei desacordado não sei dizer.
Quando despertei, estava jogado na areia da praia, em meio aos destroços do navio, caixotes de madeira e corpos de marinheiros afogados. Por um momento me perguntei se eu eram um desses fantasmas do mar que se erguem na costa para assombrar os vivos. Mas a dor em meus membros e a exaustão me deixaram bastante claro que eu ainda estava vivo. A névoa salgada do mar se erguia à minha volta, mergulhando a paisagem indômita do lugar em uma bruma mistério hostil. Caminhei um pouco, sentindo a areia úmida sob meus pés até conseguir ver melhor o lugar onde eu estava... O desenho da costa, os destroços de incontáveis navios, os esqueletos de criaturas colossais que jaziam ali há eras e o contorno distante das imensas sequóias me fizeram sentir um arrepio na alma... Eu não tinha absoluta certeza, mas suspeitava que havia sido arrastado pela tempestade até a costa da temível ilha de Siptah.
A temível ilha de Siptah não oferece trégua aos náufragos. Nos dias que se seguiram ao meu despertar na areia, precisei me virar para sobreviver e prosperar até o ponto de fundar o meu próprio clã naquele lugar hostil; o clã dos Fanstasmas do Mar. Este é um relato e um guia do que encontrei e conquistei em minhas jornadas iniciais por esta terra selvagem, navegando dos primeiros passos incertos até o nível 40.
A primeira vez que joguei a Ilha de Siptah em Conan Exiles foi no final do último ano; mais específicamente em dezembro de 2024. Cheguei naquele mapa imaginando que minha experiência nas Terras do Exílio seria bem parecida com esse novo cenário insular, porém eu logo percebi que estava enganado.
Para começar, preciso falar das diferenças que mais me marcaram entre os dois mapas desse game ambientado em um cenário de RPG ao estilo "Espada e Feitiçaria".
A dispersão de recursos é um dos pontos que mais me chamou a atenção. Na Ilha de Siptah, os recursos parecem estar distribuídos de forma mais uniforme, de modo que é possível conseguir quase tudo sem precisar ir muito longe.
Além disso, existem caixas de suprimentos e caixotes à beira-mar onde começamos o jogo, que já possuem quantidades generosas de madeira e pedra, além de cadáveres de marinheiros e soldados desafortunados que podem ser saqueados para conseguir suprimentos como coldres de água, alimento, moedas de ouro, etc. Com isso, coletar recursos para construir sua primeira “cabana” nessa ilha perigosa não é algo tão desafiador. Claro que, neste caso, me refiro a um abrigo inicial, algo pequeno o bastante para te manter seguro e grande o bastante para duas ou três bancadas.
O único material que continua sendo coletado em apenas uma região específica do mapa é o Metal das Estrelas, mas como ele só é relevante após chegar no nível 60, demora para você precisar se preocupar com isso. Ainda assim, já encontrei uma pequena quantidade de metal das estrelas em baús de saque em ruínas, após matar os NPCs de um dos acampamentos da costa Leste, o qual vou cita mais à frente.
Eu escolhi como lugar para o meu personagem nascer na ilha o quadrante O7 ou O8 (algum ponto entre eles ou em um deles, na beira do mar). É um lugar relativamente seguro, pois os inimigos próximos, na praia, são relativamente fáceis de enfrentar e relativamente fracos: cães ferais, pássaros (parecem o Bico de Sapato) e alguns crocodilos. Os poucos lugares onde se encontram humanos no início do jogo são fáceis de serem evitados até que você possa se estabelecer decentemente.
Contando com minha experiência prévia no Exílio, logo tratei de explorar a região em busca de ferro e isso acabou me levando até o alto de uma montanha em N8, que possui um pequeno lago no centro. No caminho até o alto dessa montanha, há uma trilha em que pequenos e esparsos nós de ferro podem ser coletados ao longo do caminho. Também o alto da montanha bucólica possui vários veios de ferro espalhados e meio escondidos na paisagem enganosamente bela. Não é como se fosse uma mina de ferro e também não é nada comparado com os grandes veios de ferro que temos no mapa do Exílio, mas é mais ferro do que conseguimos encontrar no Exílio ao longo do rio “Noob”. Além disso, o alto dessa montanha possui uma vista linda e é um lugar repleto de árvores, pés de Aloe, grama, pedra e aranhas… Sim, há muitas aranhas escondidas nessa linda e traiçoeira paisagem. E sendo bem franco com os novos aventureiros interessados em se embrenhar nas terras insulares de Siptah, há um canto afastado dessa montanha bucólica que esconde um grande Boss Aranha nível 3 Caveiras. Se enfrentar as "pequenas" aranhas no começo do jogo é tarefa árdua e difícil para um jogador solo, um Boss 3 Caveiras é um ato alucinado (não impossível, mas plenamente desaconselhável, a menos que se empregue algum estratagema engenhoso para isso e que se tenha muitas horas disponíveis para uma demanda desse tamanho).
Mas é perfeitamente possível permanecer longe desse Boss no topo dessa montanha e, caso ele seja provocado acidentalmente, é possível mergulhar no pequeno lago e nadar até a outra margem, fazendo com que ele perca o interesse em você.
Como estamos falando de um jogador iniciando na Ilha de Siptah, não se engane: as pequenas aranhas do lugar são como demônios com oito patas e carapaças duras como rocha que vão derrubá-lo, envenená-lo e tentar arrastá-lo para suas teias a fim de te transformar em suco de proteína. Em outras palavras, elas são um desafio e tanto, levando vários minutos para se matar uma com uma clava rudimentar e um escudo de madeira básico. A dica aqui é usar a clava (mesmo a rudimentar), pois clavas causam um pouco mais de mais dano nas aranhas do que espadas e machados (e nesse jogo, "um pouco mais" sempre é melhor que nada).
Lembre-se sempre do pequeno lago: seja uma aranha grande ou pequena, ela não vai te atacar enquanto estiver dentro do pequeno lago. Aliás, o laguinho possui uma surpresa no fundo: uma pequena caverna com um baú de saque no fundo, onde sempre é possível encontrar quantidades generosas de ouro e prata.
Apesar da abundância de material na área, não há alma viva em volta e, por isso, para conseguir alguns lacaios e baús de saque interessantes (digo, com algo além de ouro e prata), é preciso voltar para a praia com frequência para conseguir essas coisas.
Destaco aqui os dois lugares onde se pode conseguir uma boa quantidade de recursos avançados no início do jogo e que ficam mais próximos de onde meu personagem nasceu na ilha:
- SouthWatch Keep (ruína): Essa é uma ruína difícil no início do jogo, pois conta com muitos NPCs espalhados. Mas é perfeitamente possível conseguir alguns níveis matando animais nas redondezas para então conseguir se aventurar nesse lugar. O segredo é “ir por partes”. Não invada o acampamento de uma vez: vá atraindo os inimigos para matá-los aos poucos (isso é meio que o sistema padrão em Conan Exiles, ainda mais quando se joga solo). No início do jogo, deve-se tomar mais cuidado com os feiticeiros (principalmente os T3); são sorrateiros como ninhas e empunham adagas que vão te fazer sangrar até a morte em instantes se você se descuidar. Nesse lugar, inclusive, é possível conseguir um feiticeiro T4: o soturno Apos. Eu já capturei ele 2 vezes nessas ruínas, mas, por causa de algum bug do jogo, ele simplesmente desapareceu (espero que isso não aconteça com os demais lacaios). Os baús de saque de SouthWatch Keep são generosos: desde metal das estrelas, tinturas, couraça, até ferramentas de ferro podem ser encontradas lá. Além dos feiticeiros (há pelo menos 4 feiticeiros lá) há alguns exilados, um cozinheiro e um carpinteiro. Lembrando que no loot dos feiticeiros, geralmente vem uma caixa de suprimentos, dentro da qual há um porrete de ferro para capturar lacaios e uma corda de couro. Isso tudo ajuda no início, permitindo economizar recursos.
- Wreck of the Sea Dog (vista): Esse lugar fica à beira-mar e trata-se de ruínas de navios naufragados em que feiticeiros sombrios e exilados de desafortunados de diferentes etnias ergueram um acampamento improvisado. Além dos vários baús de saque do lugar, geralmente surgem duas caixas de suprimentos notáveis no mar a poucas braçadas de distância, contendo coisas muito valiosas como reforço de aço e tijolos endurecidos. Além disso, essas caixas de suprimento costumam trazer consigo armas poderosas (com mais de 40 de dano). A arma mais forte que consegui nessas caixas foi a perna de uma mesa, com algo em torno de 50 de dano. Isso é bastante valioso no início do jogo e o melhor é que você não precisa enfrentar os membros do acampamento para pôr suas garras nestas duas caixas de suprimento, pois basta nadar até onde estão flutuando no mar que os NPCs não poderão te alcançar e depois você pode ir embora pelo próprio mar, caso queira (embora matar NPCs seja aconselhável para acumular experiência). O item mais notável dessas duas caixas de suprimentos é a “pá do coveiro”: um item que permite desenterrar itens valiosos de covas marcadas com um crânio que podem ser encontradas pelo mapa (é preciso prestar atenção, pois crânios não são um item necessariaente incomum na paisagem de Siptah). Dentre os itens encontrados nessas covas, o mais interessantes são armas e peças de armadura avançadas. Isso é outra ajuda que vem muito a calhar no início do jogo. Um último ponto interessante desse lugar é que há aqui uma receita que ensina a criar bandeiras e estandartes piratas.
Mas, deixo para falar disso em outro post...
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