A Sombra da Ditadura: Reflexões sobre a Crise na Coreia do Sul e os Riscos para a Democracia

 post banner - lei marcial na coreia do sul: imagem histórica sobre Em 18 de maio de 1980, o heroico povo sul-coreano pegou em armas para se opor ao morticínio do regime militar-fascista de Chun Doo Hwan, patrocinado pelo imperialismo ianque

🌏

Ontém o meu dia terminou com uma notícia que me soou um tanto quanto surreal: o presidente da Coréia do Sul decretou lei marcial. Bom, eu não sou nenhum especialista em geopolítica e nem mesmo em história e certamente foi por isso que a coisa toda me pareceu "surreal". Parte da minha surpresa reside no fato de que a Coréio do Sul é um país estável e econômicamente saudável, pelo menos quando comparado com outros países pelo mundo. Apesar disso, como eu já assisti a um "punhado" de seriados coreanos, com fortes críticas políticas e sociais, percebi alguns paralelos entre o sistema político Coreano e o brasileiro, pelo menos, tenho certeza de um ponto: eles sofrem com a corrupção política e o abuso de poder (seja político ou mesmo vindo de empresas ricas e inescrupulosas). Um ponto no qual o povo coreano parece ser diferente do brasileiro é que eles são mais politizados e não falo isso devido à sindrome de vira-lata (uma sínrdome epidêmica, de fato), mas sim como uma comparação honesta. Claro, eu não sei se todo cidadão sul-coreano é policamente mais consciente, mas acredito que a quantidade de obras ficcionais que abordam o assunto são um indicador do que o publico sul-coreano gosta de consumir. Então, quando olhamos para as produções brasileiras, percebemos que, ou o povo brasileiro não se interessa pelo assunto ou as empresas que detem o poder econômico para produzir conteúdo estão alinhadas com um pensamento em particular, o de que é preciso manter o povo "alienado" de determinados assuntos.

Esse fato na Coreia do Sul, que me pareceu tão chocante pelos motivos acima expostos, me levou a refletir sobre um cenário cada vez mais presente no mundo: o frágil equilíbrio entre democracia e autoritarismo. A tentativa abrupta de instaurar a lei marcial no país, por parte do presidente, revela uma escalada autoritária que nos remete a um passado sombrio e a um futuro incerto.

A decisão do presidente sul-coreano, que na minha opinião foi motivada por investigações em curso, demonstra um desprezo pela democracia e uma clara intenção de concentrar poder em suas mãos. A rápida reação do Parlamento e a intervenção dos Estados Unidos, embora tenham evitado um cenário ainda mais caótico, evidenciam a gravidade da situação e a importância de uma comunidade internacional vigilante. Aliás, sinto certa inveja dos parlamentares que servem o povo sul-coreano; fosse aqui no Brasil, não tenho convicção de que eles se colocariam contra um ato autoritário como esse, arriscando-se a uma votação contrária à decisão quando os militares já ocuparem a sede do governo.

O mais assustador nessa notícia é que essa crise não se limita às fronteiras sul-coreanas. Vemos movimentos semelhantes em diversas partes do mundo, impulsionados por grupos radicais que buscam minar as instituições democráticas e estabelecer regimes autoritários. A tentativa recente de golpe no Brasil (conhecida como "8 de janeiro") foi planejada para aparentar em um primeiro momento obra de manifestantes populares, mas conforme as investigações seguiram seu curso, descobriu-se que a ação foi planejada e conta com o envolvimento de empresários e até mesmo militares, conforme foi noticiado à pouco, com planos de assassinato de líderes políticos (como Lula e Alexandre de Moraes). Casos como esse são um exemplo claro dessa ameaça radical que assombra o mundo.

Além da sombra do totalitarismo e da ditadura, vemos as garras da guerra se alastrando pelo mundo. Os primeiros conflitos que vieram à minha mente enquanto pensava sobre o assunto são o conflito entre Rússia e Ucrânia e entre Israel e Palestina, mas em uma rápida pesquisa, vejo que existem hoje mais de 30 conflitos espalhados pelo mundo, conforme é citado neste vídeo:

Em 2024, o mundo conta com mais de 30 guerras em andamento. A maioria no norte da África, algumas no Golfo Pérsico, na península arábica e uma no leste da Europa. Todos os países envolvidos disputam, além de territórios, o controle de reservas de petróleo, gás natural e minérios fundamentais para a indústria — sinopse do vídeo na TV Senado, em que o especialista em Defesa e Conflitos Armados, Ricardo Lobato, analisa os riscos e impactos econômicos das guerras, em especial os conflitos que envolvem os integrantes do Conselho de Segurança da ONU.

Segundo este artigo da BBC; "Quais são as grandes guerras em curso no mundo — e por que algumas chamam menos atenção?", o mundo está vivendo um aumento da violência global quando comparamos o momento atual com o início desse século. Os conflitos mais significativos incluem Israel-Hamas, Rússia-Ucrânia, Burkina Faso, Somália, Sudão, Iêmen, Mianmar, Nigéria e Síria. As motivações desses conflitos? Fatores como tensões econômicas e sociais, rivalidades entre grandes potências e efeitos das mudanças climáticas contribuem para o aumento dos conflitos. Mas em resumo, podemos ver através de uma breve leitura que o cenário global é preocupante.

A sensação é de estarmos vivendo em um mundo à beira do abismo, onde as liberdades conquistadas ao longo de décadas estão em risco. A escalada autoritária, o discurso de ódio e a polarização política criam um ambiente fértil para a violência e a instabilidade. É como se estivéssemos assistindo a uma distopia em tempo real, onde as ficções distópicas se transformam em uma realidade aterradora.

A crise na Coreia do Sul é um alerta para todos nós. A democracia é um bem precioso que precisa ser defendido diariamente. É fundamental que nos mantenhamos atentos aos perigos que nos cercam e que nos unamos para combater o autoritarismo e a intolerância. A história nos mostra que a luta pela liberdade é constante e que a inação pode ter consequências devastadoras.

Gosto de ser otimista e pensar que nestes dois casos; Coréia e Brasil, as tentativas de golpe e de um retorno da ditadura e do totalitarismo fracassaram. No entanto, é preciso que, em uma época como essa, o nosso otimismo seja vigilante e estejamos atentos à esta sombra que se esgueira pelo mundo, ameçando décadas de conquista.

Enquanto eu refletia e lia sobre esse assunto um tanto quanto deprimente, lembrei também de um dos meus livros favoritos e em parte da trajetória de vida de seu autor: falo de O Senhor dos Anéis e John R. R. Tolkien.

Tolkien viveu as duas Grandes Guerras Mundiais na pele e, certamente, sua experiencia pessoal é refletida, em alguma medida, em sua obra.

Por isso quero finalizar a triste reflexão de hoje com um dos vários conselhos icônicos de Gandalf para seu amigo Frodo Bolseiro:

— Eu gostaria que isso não tivesse acontecido no meu tempo —  disse Frodo, ao que Gandalf responde:

— Eu também, e todos os que vivem para ver esses tempos. Mas isso não lhes cabe decidir. Tudo o que temos a decidir é o que fazer com o tempo que nos é concedido.