O Que é a Mitologia Celta? — Mergulhando nas névoas feéricas de Avalon

🧙‍♂️ Sempre me interessei pelo sobrenatural. Eu fui uma criança e um adolescente cuja mente devorava qualquer coisa sobre mitologia, esoterismo, folclore, lendas, ciência, história e seriados e filmes de aventura e mistério (Arquivo X foi um marco na minha forma de ver o mundo).

Infelizmente, mesmo para uma mente ávida como a minha, não haviam horas suficientes em meu dia e nem mesmo haviam livros e revistas suficientes nas bibliotecas às quais eu tinha acesso. Talvez o problema não fosse só esse: eu simplesmente não sabia o que tinha que pesquisar e, por isso, alguns temas não puderam ser explorados em profundidade.

Este foi o caso com a mitologia celta. Eu adorava histórias relacionadas ao Merlin e à Excalibur (nunca fui um fã do rei Arthur, mas gostava do Merlin). Os Druídas sempre foram figuras apelativas, e todos os desenhos animados que faziam menção a eles me chamavam a atenção. Mas, bem, eu não sabia o que era a mitologia Celta e nem era capaz de responder naquela época quem eram os Celtas. Você sabe responder?

Bem, o Alexander Ricardo me perguntou lá no Pinterest se eu conheço Mitologia Celta e Nórdica e, sabendo do quão fraco eu sou nestes temas, respondi a verdade. Sei pouco, mas gostaria de saber mais.

Sei vagamente que os Celtas são formados por vários povos, incluindo aquelas da península Ibérica. Sei também que os Portugueses descendem dos Celtas e por isso, muitos brasileiros tem muito mais em comum com os Celtas do que imaginam, principalmente aqueles com descendência direta dos portuguesas (minha esposa, por exemplo, cuja avó materna é portuguesa, tem um pézinho lá na tradição Celta). Sei que a lenda do Rei Arthur pode ter sido inspirada em figuras histórias (ou em uma figura histórica). Ah, e não posso deixar de mencionar: a espada que o Arthur tira da pedra não é a Excalibur: ele ganha a Excalibur da Dama do Lago, enquanto que a espada na pedra é outra espada (um pouco confuso, não é?, pois bem, mas é isso aí mesmo). Nosso idioma, o português, também tem relação com o Celta, e muito do folclore português tem origem no folclore ibérico e parte desse folclore chegou até nós aqui no Brasil, como é o caso com a Cuca — sobre a qual já falei aqui no Blog nesse post 🐲

Morrigan: Deusa celta da guerra com longos cabelos cacheados rebeldes, beleza sensual e selvagem, lutando ferozmente com espada que solta relâmpagos. Veste armadura decotada de ferro negro com detalhes prateados e asas de plumas de ferro negro cromado. Tatuagens celtas no corpo esbelto, sujo de suor e sangue de inimigos romanos. Olhos brilhando como relâmpagos. Fundo tempestuoso sombrio com relâmpagos azuis sobre floresta de carvalhos. Batalha com sensualidade e selvageria bárbara celta. Arte estilo Castlevania, Dark Souls e espada e feitiçaria (Boris Vallejo/Frank Frazetta), cores dramáticas
. Sei também que o livro "As Brumas de Avalon" está aqui na minha escrivaninha, esperando para ser lido (talvez depois que eu terminar A Fúria dos Reis das Crônicas de Gelo e Fogo).

Gosto muito também de bandas folk (tanto de rock como apenas folk) e, neste caso, vou até indicar Omnia: uma banda que se inspira muito na cultura Celta para abrir esse post de forma épica. Escolhi a música Morrigan, pois ela leva o nome de uma importante figura da mitologia Celta, sendo ela uma deusa da mitologia celta irlandesa, associada à guerra, à morte, à vingança e à fertilidade. Ela é também considerada a deusa do destino humano.

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Bem, mas a verdade é que não sei tanto sobre a mitologia Celta quanto gostaria e por isso, aproveitei o interesse do Alexander Ricardo para trazer um pouco dos mitos celtas aqui para o Blog, aproveitando a oportunidade para me aprofundar um pouco mais no assunto.

Permitam-me conduzi-los por este dédalo de brumas e sussurros ancestrais enquanto eu mesmo leio e faço anotações sobre essa mitologia tão rica e selvagem, um lugar onde a natureza respira e os deuses ainda caminham entre nós, embora a maioria dos mortais modernos, embriagados pela fuligem tecnológica e pela vã glória do progresso, já não consiga ouvir seus passos.


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Mergulhando nas Névoas de Avalon: O Que Raios É a Mitologia Celta?

Em um mundo saturado de notificações inúteis e promessas vazias de autoajuda plastificada, onde o mistério foi esmagado sob o peso de algoritmos e a magia relegada a truques baratos de reality shows, ainda existe um refúgio. Um lugar nas sombras da história, sussurrando segredos em línguas ancestrais: a Mitologia Celta.

Não se enganem, caros leitores sedentos por algo mais substancial que o cardápio insípido da cultura pop contemporânea. Aqui não encontrarão super-heróis de spandex gritando clichês motivacionais, nem princesas cor-de-rosa esperando o beijo salvador. A mitologia celta é feita de carne, osso, terra úmida, sangue e magia selvagem. É um caldeirão borbulhante de deuses caprichosos, heroínas indomáveis, criaturas feéricas e paisagens que respiram.

Para começar a desbravar este terreno fértil, precisamos entender quem foram esses tais "celtas". Não eram um império unificado, como a Roma que os perseguiu até as bordas do mapa. Imagine, se puderem, um mosaico de tribos guerreiras, espalhadas pela Europa Central e pelas ilhas da Grã-Bretanha e Irlanda, a partir do século V a.C. Eles viviam em harmonia com a natureza, algo que soa quase como ficção científica para nós, confinados em nossas selvas de concreto e aço, onde a única natureza que vemos é pixelizada em telas.

Os celtas acreditavam que a Terra era viva, pulsante, uma Deusa Mãe generosa e implacável. Enquanto nós, herdeiros da "razão iluminista", exploramos o planeta como uma mina a céu aberto, eles viam a natureza como um ser sagrado, fonte de vida e mistério. Seus rituais, realizados em locais como a enigmática Stonehenge, eram mais que meras encenações; eram comunhão, um diálogo íntimo com as forças telúricas que permeiam o mundo. Ritos que, para nossa mente moderna, formatada pela lógica cartesiana e pelo pudor hipócrita, soariam... bem, digamos, selvagens. Afinal, quem hoje em dia se despede das vestes para sentir a energia da terra nua sob os pés? Preferimos o conforto anestesiante do asfalto e a ilusão de controle climático com nossos gadgets.

Mago Merlin sombrio, estilo Alan Lee, reminiscente de Saruman, veste azul escura, barba grisalha, olhos penetrantes, chapéu pontudo, cajado com raios, floresta mágica, névoa, arte conceitual fantasia sombria épica.

Mas não se iludam pensando que eram bárbaros incivilizados — na verdade, toda vez que um povo chamar o outro de bárbaro, pense que os incivilizados são os que se dizem melhores e mais avançados. Aliás, não é para menos que o personagem Conan, de Robert E. Howard, tenha sido inspirado nos Celtas e, por isso mesmo, ele é tratado como um bárbaro quando, na verdade, vemos que a cultura dele é muito mais "civilizada" do que a dos próprios povos que se dizem civilizados. Certamente que os Celtas não eram criaturas selvagens. Longe disso. Possuíam uma sociedade complexa, com leis, artes e uma espiritualidade profunda, tecida em torno da natureza e do Outro Mundo. Sim, o Outro Mundo... O Annwn, como o chamavam. Um lugar que não era simplesmente "céu" ou "inferno" no sentido cristão e simplista que nos foi imposto.

O Annwn era... outro lugar. Um reino além do véu, acessível através de portais misteriosos, como a Colina de Tara, na mítica ilha de Avalon. Avalon, a "Ilha das Maçãs", nome que evoca a imortalidade e os pomares dourados dos contos de fadas. Para os celtas, a morte não era um fim, mas uma passagem. Os mortos repousavam em Avalon, aguardando a reencarnação, um ciclo eterno de vida, morte e renascimento, muito mais elegante e poético que a nossa obsessão moderna por prolongar a existência biológica a qualquer custo, muitas vezes esquecendo da qualidade, do sentido da vida.

Os funerais celtas eram rituais de passagem, celebrações da jornada para o Annwn. Acreditavam que a vida no Outro Mundo era um reflexo da vida terrena, expurgada de seus aspectos negativos. Enterravam seus mortos com honras, acompanhados de bens que refletiam seu status social, preparando-os para a próxima etapa da jornada. Especula-se que até mesmo o lendário Rei Arthur, ferido na batalha de Camlann, repousa em Avalon, envolto em brumas evocadas pela misteriosa Dama Branca, esperando o momento de retornar. Uma ideia muito mais romântica e épica do que a nossa visão niilista de um fim definitivo e sem propósito.

Sacerdotisa celta em Avalon, com longos cabelos pretos e vestido púrpura decotado, olhando misteriosamente para a névoa ao entardecer. Arte em estilo de animação com cores celtas, destacando a sensualidade e beleza natural da sacerdotisa na ilha mágica.

A mitologia celta é rica em símbolos e artefatos mágicos. O Cálice da Ressurreição, com sua água milagrosa, capaz de curar e trazer de volta à vida, é apenas um exemplo. Eles acreditavam no poder do amor, acima das convenções sociais, e viam o sexo como uma forma de conexão mística com a natureza, algo que nossa cultura puritana e ao mesmo tempo hipersexualizada, paradoxalmente, parece ter esquecido.

Em relação à morte, os celtas a viam como uma mera transição no ciclo da existência. "Nascimento, Vida, Morte" – um fluxo contínuo, sem o terror paralisante que a nossa sociedade moderna, obcecada pela juventude e pelo efêmero, impõe. Talvez por isso, não sofressem tanto com a perda, pois acreditavam no reencontro, na continuidade da jornada em outros planos.

Os druidas, os sacerdotes e guardiões do saber celta, foram cruciais para a preservação dessas lendas. Mesmo após a conversão ao cristianismo, muitos se refugiaram nos bosques, mantendo vivas as tradições ancestrais, transmitindo oralmente os mitos e profecias, como os oráculos do mago Merlin. A Igreja Católica, sempre zelosa em apagar qualquer vestígio de paganismo, baniu essas histórias no Concílio de Trento, no século XVI. Mas, graças aos druidas e à resistência da cultura popular, a mitologia celta não foi completamente silenciada, como tantas outras.

Arthur puxando a Espada da Pedra, 18 anos, mãos no cabo, pátio de igreja nevado, luz divina, multidão observando, fantasia sombria Castlevania e Vampire Hunter D, arte épica e miraculosa.

A mitologia celta não é apenas um amontoado de contos antigos. É uma cosmovisão, uma forma de encarar o mundo que nos convida a reconexão com a natureza, a redescoberta do mistério e a revalorização da vida em sua totalidade, incluindo a morte como parte do ciclo. Em um mundo que nos aliena cada vez mais de nossa própria essência, talvez seja hora de voltarmos a ouvir os sussurros dos bosques, a sentir a energia da terra e a mergulhar nas névoas de Avalon, em busca de uma sabedoria ancestral que a modernidade, em sua arrogância, julgou obsoleta. Quem sabe, no Outro Mundo da mitologia celta, encontremos mais verdade e sentido do que em todas as promessas tecnológicas e superficiais que nos vendem diariamente.

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